“É preciso coragem para olhar para dentro, e se ver. E também para olhar para fora, e reconhecer o outro”. O manifesto do especial Falas de Orgulho celebra o Dia Internacional do Orgulho LGBT+, comemorado nesta segunda-feira (28), e deixa seu recado por mais empatia. O programa da Globo que vai ao ar logo após Império, na RBS TV, apresenta oito vozes de diferentes partes do país para trazer histórias de vida e mostrar lutas diárias.
Com direção artística de Antonia Prado (de Falas da Terra), o especial entrelaça as vivências dos entrevistados. Ao final, um clipe inédito conta com a releitura da faixa Flutua, originalmente lançada por Johnny Hooker, com a participação de Pabllo Vittar e Majur.
A relação da música como uma forma de superar o preconceito também está na história de Sasha Zimmer dos Santos, drag queen de Limeira (SP), um dos entrevistados de Falas de Orgulho. Recentemente, o jovem conseguiu o reconhecimento de seu nome social na Justiça. Antes, como Fábio, enfrentou um passado de negação de sua sexualidade na família. Na arte drag, encontrou alento e possibilidade de transitar entre gêneros para se reafirmar na sociedade.
– Se nós, integrantes da comunidade LGBT+, não tivermos orgulho de nós mesmos, a sociedade não fará isso por nós – destaca Sasha, que já tem mais de 30 músicas e 20 clipes lançados. – Cada vitória em concurso de arte drag e participação em programa de TV podem parecer pequenos para as pessoas, mas isso foi uma edificação para mim, foi onde me reencontrei, me amei e me aceitei.
Além de Sasha, a lésbica Geisa Garibaldi fala no especial sobre a Concreto Rosa, sua empresa de serviços de mão de obra feminina. Já Ângela Fontes, uma enfermeira aposentada de 69 anos, relata ter se aberto como lésbica somente na terceira idade. Esses exemplos se cruzam com a de Mariana Ferreira, médica bissexual que trabalha como ginecologista do SUS.
– Não estamos falando de genocídios, assassinatos, nada horroroso. É sobre amor, sentimentos. Quando se trata disso, é natural, puro, e não se deve ter nenhum tipo de preconceito ou juízo. Afinal, ninguém é perfeito – analisa Sasha.
Sociedade
O especial também traz exemplos de pessoas que encaram a militância na linha de frente. O delegado Mário Leony, de Aracaju (SE), é gay e cofundador da Rede Nacional de Operadores de Segurança Pública LGBTI, criada com o objetivo de combater o preconceito nos órgãos de segurança pública. Sua história está próxima à de outra entrevistada: Ariadne Ribeiro, mulher transgênero que é assessora de apoio comunitário da Organização das Nações Unidas. No órgão mundial, Ariadne coordena um programa que visa ao fim do HIV/Aids até 2030.
– Em meu trabalho, vejo o quanto a desigualdade social é fomentada pelo preconceito e pela discriminação. As minorias acabam sofrendo mais, e acabo olhando para elas neste programa da ONU, que me fez sentir empatia e identificação por ter vivido tantas formas de exclusão – reflete Ariadne, que precisou se prostituir após não ser aceita na própria casa.
Enquanto vivia nas ruas, ela foi estuprada e contraiu HIV. A superação veio por meio da educação: aos 40 anos, é pedagoga e tem doutorado em Psiquiatria.
Richard Alcântara, jovem transgênero de Caçapava (SP) que sonha em ser bombeiro civil, e Maycon Douglas, bissexual do Rio de Janeiro (RJ) que cresceu sendo alvo de “piadas” de amigos e vizinhos, completam o time de entrevistados. Suas histórias reforçam a mensagem de Ariadne: as dificuldades da luta LGBT+, segundo ela, esbarram no exemplo de cada pessoa, e não somente na falta de políticas públicas.
– As pessoas precisam entender o que o outro sente. Se cada um puder refletir, com o coletivo, vamos entender que os direitos de todos têm de ser garantidos, tanto quanto os meus – finaliza Ariadne.