Depois de obras centradas nas culturas nórdica, grega e celta fazerem sucesso aqui e lá fora, chegou a vez do Brasil chamar atenção. Cidade Invisível, produção da Netflix que estreou nesta sexta-feira (5), aborda sob o gênero de suspense o nosso folclore, trazendo figuras como a Cuca, o Saci, a Iara e o Curupira em novas roupagens. A série foi criada por Carlos Saldanha, que se aventura pela primeira vez em um live-action.
— Se você assiste a uma série tipo American Gods, Grimm ou mesmo Vikings, por que não assistir a uma série com temática brasileira, trabalhar com folclore, com as nossas histórias? — questiona o cineasta. — Meu objetivo sempre foi esse: criar o melhor material possível dentro de um contexto de brasilidade que o mundo todo possa consumir, não só o brasileiro. Que o brasileiro sente orgulho de ter e que o mundo tenha curiosidade de assistir — acrescenta.
A trama acompanha a vida do detetive Eric (Marco Pigossi) que, ao investigar um assassinato, começa a deparar com fenômenos inexplicáveis. Ambientada em um Rio de Janeiro repleto de mistérios, personagens do nosso folclore espreitam os bares e as esquinas, convivendo diariamente com humanos. Quando o homicídio passa a ser do interesse também das entidades, a linha que divide os dois mundos torna-se embaçada.
— E se eles estivessem entre nós? Se as entidades forem reais? — provoca o diretor.
Identidade
Uma das marcas que a obra traz é a inovação no gênero. Por conta de Monteiro Lobato, as produções que abordam o folclore brasileiro são, em grande maioria, voltadas para o público infantil. Contudo, o diretor ressalta que essas histórias são criadas, muitas vezes, a partir de medos e anseios adultos.
— O folclore em si não é necessariamente desse universo (infantil). O folclore está aí, ele existe. Temos esquecido um pouco disso, e acho que tem a ver com o fato da gente estar perdendo nossa identidade. Temos que voltar a olhar para a gente e para a nossa história — aponta Pigossi.
Outro elemento que chama atenção na trama é a desconstrução da imagem maligna da Cuca. Saldanha optou por manter a ambiguidade de todas as entidades para que pudesse levar humanidade a elas. Alessandra Negrini, que interpretou a figura da bruxa, lembrou que elas representam “a própria defesa da natureza” e “o que há de mais íntimo e profundo, as nossas raízes”.
— Eu tinha esse questionamento: será que a Cuca é má, ou eu falo que é? Porque, quando você fala para seus filhos “se o senhor não dormir, a Cuca vai pegar”, estou culpando a Cuca! Mas nunca perguntei para a Cuca se ela era boa ou má, é uma interpretação minha — brinca o diretor.
Resgates
Enquanto, para Pigossi, a preparação da trama foi um pouco mais simples, Alessandra aponta que sua maior dificuldade foi ter de criar aquele universo em sua cabeça e acreditar fielmente nele. Já Jéssica Córes passou por um treinamento físico intenso: para encarnar o papel da sereia Iara, precisou entrar numa piscina em uma profundidade de seis metros e aprender dança do ventre.
— É a realização de um sonho representar essa figura tão linda, delicada e forte ao mesmo tempo — disse a atriz.
Além de propor um resgate cultural, especialmente para os mais jovens que não têm contato com o folclore brasileiro, Cidade Invisível deixa também sua marca quanto à necessidade de conscientização ambiental, além de estar envolta em dramas familiares facilmente identificados pelo público.
Dirigida por Luis Carone e Julia Jordão, até agora a obra teve apenas sua primeira temporada confirmada, contando com sete episódios.