Pelo oitavo ano seguido, o Porta dos Fundos preparou um especial de Natal. Desde sua primeira edição, em 2013, a trupe humorística tem protagonizado polêmicas com seus filmes que revisitam passagens bíblicas. No ano passado, o retrato de Jesus como supostamente gay em A Primeira Tentação de Cristo causou um ataque a bombas à sede da produtora e reacendeu as discussões sobre os limites do humor.
Neste ano, no entanto, a discussão está menos dogmática e mais política. Em Teocracia em Vertigem, que estreia nesta quinta-feira (10) diretamente no canal do YouTube do Porta dos Fundos, o roteiro apresenta-se como "baseado em fatos reais e atuais" e inspirado em Democracia em Vertigem, documentário de Petra Costa indicado ao Oscar que mostra os bastidores do impeachment de Dilma Rousseff.
Na paródia, o grupo de humoristas revisita a história de Jesus, destacando aspectos como a traição de Judas, o julgamento de Pôncio Pilatos e a ressurreição. Todos os fatos, no entanto, têm forte conexão política, mostrando Jesus como um líder que enfrentou governantes romanos.
Ao longo dos 51 minutos de duração, a obra lança um olhar crítico sobre episódios como o esquema das rachadinhas, a prisão do ex-presidente Lula e o julgamento do impeachment de Dilma.
Para visitar diferentes partes da vida de Jesus, o longa contou com 17 participações especiais, incluindo as do ator Marcos Palmeira, do rapper Emicida e da própria Petra Costa. No encerramento, Porchat volta a interpretar o líder católico em uma música dizendo que "Jesus não voltará". A canção também serviu de resposta para a avalanche de ataques que o Porta dos Fundos recebeu com o especial de 2019.
— "Foi bem feito a bomba." "Quero ver fazer piada com mitologia romana.” Essas são frases como as que a gente recebeu — adianta Fábio Porchat.
Polarização
Mesmo com a tentativa de censura no ano passado, que rendeu até idas ao STF pela liberdade de expressão, o Porta dos Fundos nunca cogitou a ideia de deixar de produzir o especial. Nem as dificuldades de produção, devido à evolução do coronavírus, impuseram barreiras ao elenco e aos produtores, que seguiram um rigoroso protocolo de segurança sanitária.
— A gente nunca pensou em não lançar o especial. A gente sempre gostou muito dessa cereja do fim do ano. Os acontecimentos nos deixaram mais tristes do que com medo, por morarmos em um país radical — destaca João Vicente de Castro, um dos integrantes do Porta.
Para Gregório Duvivier, a missão da trupe é utilizar a quebra de tabus como matéria-prima.
— A gente bate no poder institucionalizado — reforça Duvivier.— Pode perceber que os escândalos políticos, o que tem muito neste governo, sempre aparecem em paralelo com algum outro escândalo de ordem moral.