Eternizada na memória de milhões de brasileiros como a Magda do Sai de Baixo, Marisa Orth segue se reinventando na TV. Depois de atuar na série Toma Lá Dá Cá e em novelas como Haja Coração e Tempo de Amar, a atriz de 56 anos entra em uma nova fase integrando a trupe de humoristas do Zorra, que exibe episódio inédito neste sábado (22), às 22h45min, na RBS TV.
Além dos novos colegas Diogo Vilella, Robson Nunes, Victor Lamoglia e Karina Ramil, Marisa contou com uma ajuda extra nas gravações remotas: a de seu filho João Antônio, 21 anos. Estudante de Cinema, ele opinou, ajudou a carregar luz e tantas outras funções em um set. Em entrevista a GaúchaZH, por telefone, Marisa fala sobre essa nova fase da carreira.
Como você vê a renovação do Zorra nos últimos anos?
Desde que deixou de ser “Total”, ele teve uma guinada interessante. O próprio humor mudou, com a força do stand-up, por exemplo, que deixou menos ensaiado e mais direto. O Zorra obedeceu a isso e, mesmo vindo de um formato consolidado, precisava dessa virada. Eu sempre era a fim de fazer e tinha um pouco desse espírito de esquetes lá quando eu fiz TV Pirata (1992). É diferente, é claro, a gente tem um compromisso com a piada.
Como é sua relação com os outros novatos no programa? É um sorteio no roteiro, cada dia é uma aventura. O George Sauma já foi meu filho em série, com o Diogo (Vilella) fui casada em Toma Lá Dá Cá e a Karina (Ramil)… É uma princesa! Meu filho adora ela, estava mais ansioso do que eu!
Como foi esse processo de gravar em casa?
A gente deu conta, mesmo com aquilo de estar em casa e cuidando de todo o resto, sabe? O plano era seguido à risca, equipe junta no computador, pausa para almoço, e tudo deu certo. E o João é muito talentoso, toca, escreve bem, gosta de cinema… Ficou opinando em tudo. A direção do Zorra já ama ele e já fez até pontas de ator (risos).
Como o João te ajudou?
É difícil de fazer em casa, mas consigo perceber como é legal ver outros formatos nascendo. Eu sinto falta do teatro e fico decepcionada com a falta daquelas palmas do câmera depois da cena. Santo de casa não faz milagre (risos). E o João é um déspota. Eu sou tipo aquela mãe italiana que grita, mas o João adora dirigir e opinar. A gente se deu melhor trabalhando do que na vida de mãe e filho, no fim das contas (risos).
Existe a possibilidade de fazerem outros projetos juntos?
Não pensamos nada ainda. Não temos nenhuma websérie com 200 capítulos na mão ainda (risos). Conheço o João: estou certa de que está fazendo algo só pra ele, para os amigos dele, aposto
Você gosta de ter ficado marcada como a Magda do Sai de Baixo?
Não tem como lutar contra isso, a Magda é um sucesso enorme. É um patrimônio gigante meu. Minha vida mudou, há o antes e o depois dela. E o melhor: nunca me falta serviço (risos). No fim das contas, a Magda é um instrumento de reflexão, tipo um espelho bem grande. Ela é muito amorosa, por mais que apareça muito a burrice, a alienação e a sexualidade aumentada. Amo a doçura da Magda, ela é uma criança, acaba sendo muito inteligente emocionalmente.
Você mantém contato com o Miguel Falabella? Pensa em fazer uma nova comédia com ele? É maravilhoso, porque muita gente acha que nós somos casados na vida real. Até hoje, tem vezes que chego em um hotel e falam: “O seu Miguel não veio” (risos). Nós somos grandes amigos, falamos sempre e, sim, megatoparia fazer um projeto novo (com ele)! Tenho uns 150 projetos, mas ele tem uns 9 mil, somos os dois 220 volts (risos). Não sei se faria um novo sitcom, os (serviços de) streaming nos perguntam isso, o quanto o formato ainda tem espaço, então realmente não sei.
E como é o contato com o pessoal do Toma Lá Dá Cá?
O George Sauma, o Diogo (Vilela) e o Daniel Torres estão comigo no Zorra, então o contato é direto. A Arlete (Salles) é minha amigona, trocamos muita mensagem, é uma rainha. E a Alessandra Maestrini então? Me manda memes o tempo todo. A Fernandinha (Souza), eu amo muito, me chamou para o casamento dela, mas nunca me convidou para o programa no Multishow, sou magoada com isso (risos).
Em uma entrevista recente, você disse que não gosta de se ver na TV, mesmo estando no ar quase diariamente (Marisa atua em Haja Coração, próxima reprise da faixa das sete, Toma Lá Dá Cá e no Zorra). Por quê?
Foi por umas semanas, já passou. Sabe quando você se vê em vídeo de família e confere a postura, a voz, depois de um tempão? É isso. Mas agora eu respirei, sigo trabalhando e acho fofo. Me acho uma mulher bonita e talentosa, sim, mas a gente não relaxa se assistindo. Mas depois que passa um tempo, esquece como se fez aquele personagem e passa a apreciar como público. Aí ficou mais agradável.
Tatá Werneck e Ingrid Guimarães mostram a força das mulheres no humor. O humor é de vocês? E você tem vontade de fazer um talk-show?
Acho que conquistamos tudo sim. A Ingrid e a Tatá são abridoras de caminhos. A capacidade de trabalho da Ingrid é exemplar, corajosa, ela é hilária. Tenho um perfil mais próximo dela com meu show de stand-up e quero me inspirar mais nela. Já a Tatá, é impossível ter algo semelhante né?! Pode ser aqui, na Polinésia Francesa, onde for… ela é única! Talk-show é um formato manjadíssimo, mas ela mudou tudo isso. Acredito que se tiver um recheio bom, não interessa: a receita volta à moda.
O que você diria para a Marisa de 10 anos atrás? E algum recado para ela daqui 10 anos?
A de antes, eu só pediria para ter mais calma, sou muito nervosa, quero tudo pra ontem. É saber respirar mais. Acho a coisa mais bonita mulher calma, é raro (risos). A do futuro? Espero que seja muito acelerada, não penso muito em idade, porque não tenho culpa do dia em que nasci (risos).
Qual é sua opinião sobre a área cultural neste momento?
Uma tristeza enorme. Esse ataque que a educação e a cultura vêm recebendo é uma enorme surpresa, porque é multiplicado por um grupo de pessoas que nunca imaginei que existisse. E ver um político atacando pessoas com 50 anos de trabalho e apoiado por gente que acha que ele está com razão... Já vínhamos com uma moral baixa, cortes de verba, e aí veio a pandemia. Artista gosta de aglomerar, o que não pode agora, não está fácil. Mas o bom é que somos a classe mais elástica e criativa, então a gente vai dar um jeito, vamos dar a volta por cima. Vamos lá então.