Desde que estreou, no dia 15 de julho, Desejo Sombrio não saiu do primeiro lugar na lista de séries mais assistidas da Netflix. A produção original mexicana chegou ao streaming já sabendo do seu potencial. O mistério envolvendo um possível crime, o erotismo, com cenas de sexo praticamente explícito, e o medo do proibido são alguns dos ingredientes do seriado.
Mas o que mais atraiu o público foi a protagonista: Maite Perroni, a Lupita Fernández da novela teen Rebelde e que, depois, originou a banda pop RBD, dois fenômenos entre adolescentes no início dos anos 2000. A legião de fãs, hoje já crescidos, chegou com sede de nostalgia para prestigiar a atriz e cantora mais uma vez.
Juntando tudo isso, está formada a receita do fascínio em volta de Desejo Sombrio. E poderíamos parar esse texto por aqui para não quebrar as expectativas. Ao longo de seus 18 episódios, a série entrega pouco do que promete e, apesar de tocar em assuntos importantes como feminicídio e relações abusivas, é ofuscada pelo exagero de clichês e por uma trama que mais se parece um dramalhão mexicano. A criação é de Leticia López Margalli.
Paixão, traição e morte
Em Desejo Sombrio, Maite interpreta Alma Solares, uma advogada e professora universitária que começa a suspeitar da traição do marido, o respeitoso juiz Leonardo Solares (Jorge Poza), com sua assistente. Ela decide passar um fim de semana com Brenda Castillo (María Fernanda Yapes), sua melhor amiga recém-separada após episódios de infidelidade do ex-companheiro.
Em uma festa, Alma tem uma noite ardente com Dario (Alejandro Speitzer), um misterioso jovem de 23 anos que se encanta pela advogada. Ela insiste em negar o romance, dizendo que foi "só sexo" ou "apenas uma noite", mas a tensão sexual entre os dois chega a atingir o telespectador. O casal remete àquelas paixões ardentes, difíceis de se esquecer, que deixam até quem vê de fora sem fôlego.
As vidas de Alma, Dario e todos ao redor deles viram de ponta cabeça quando Brenda é encontrada morta, após o fatídico encontro com a amiga. Tudo indica que foi suicídio, mas, a partir daí, os episódios de Desejo Sombrio são carregados pela pergunta "quem matou Brenda?", temática de sucesso em novelas mexicanas e até brasileiras, mas que, na série, chega a ser cansativo, por conta das dezenas de reviravoltas que a trama apresenta.
Ritmo bom, clichês nem tanto
Apesar do enredo novelesco, a estética de Desejo Sombrio é digna de produções internacionais e se assemelha a outras séries de língua espanhola que fizeram sucesso no mundo todo, como La Casa de Papel, Elite e Vis a Vis. É bonito de ver a fotografia mais escura durante as cenas entre Alma e Dario, o que aumenta o clima e a arrebatadora ligação entre os dois.
O seriado também possui um ritmo bom. A primeira temporada é longa, com 18 episódios, mas curtos, de 30 minutos em média. No início de todos eles, há cenas de introdução sobre o que vai ser contado ou analisado no capítulo, recurso bem usado para aumentar a sensação de mistério da trama.
O que não cai bem, por vezes, são os diálogos e ações de personagens, que beiram o brega e o clichê. A frase "não é isso que você está pensando" após o flagra de uma possível traição e a cena da protagonista Alma tomando um banho de chuva de blusa branca e sem sutiã chegam a ser decepcionantes para uma série que, de certa forma, busca passar uma mensagem de exaltação da figura feminina.
Feminicídio
Como pano de fundo, o feminicídio é colocado em pauta no seriado mexicano. O primeiro episódio, bem didático, mostra cruéis dados estatísticos e cenas pesadas de corpos de mulheres assassinadas. Relações abusivas e tóxicas também são retratadas na história, assim como a sexualidade na adolescência, através da figura da filha de Alma, Zoe (Regina Pavón), que é um destaque à parte na trama.
Temas mais atuais e reais, impossível. A boa notícia é que, ao final, Desejo Sombrio consegue se salvar com o desfecho da morte de Brenda e ainda abrir caminho para uma segunda temporada. Tudo fica meio subentendido, mas, ao mesmo tempo, não poderia ser mais claro.