Um pacto firmado entre o dramaturgo João Emanuel Carneiro, o diretor Ricardo Waddington e as atrizes Claudia Raia e Patrícia Pillar tornou-se um dos pilares do sucesso de A Favorita, novela lançada em 2008 pela Globo. Somente eles conheciam, desde o início da trama, a reviravolta que surpreenderia o público no capítulo 56 e deixaria brasileiros se sentindo enganados com as figuras de vilã e mocinha. A Favorita está disponível na íntegra, a partir desta segunda (25), no catálogo do Globoplay, abrindo um projeto da plataforma de streaming de relançar antigos títulos, na íntegra, a cada 15 dias – a próxima é Tieta (1989).
Nunca exibida na faixa do Vale a Pena Ver de Novo, A Favorita ainda tem lugar cativo no coração de noveleiros. Na trama, Donatela (Claudia) perdeu os pais em um acidente de carro e é adotada pela família de Flora (Patrícia) ainda na infância, com quem tem uma relação de irmã. Juntas, elas formavam a dupla sertaneja Faísca e Espoleta, eternizada na dramaturgia nacional com sua performance de Beijinho Doce, sucesso na voz das Irmãs Galvão.
No entanto, na fase adulta, Flora tem um caso com o marido de Donatela, Marcelo (Flávio Tolezani), que é assassinado em crime que recai sobre a amante, por ter sido pega com a arma nas mãos. Após sair da prisão, 18 anos depois, Flora vai tentar provar sua inocência enquanto a ex-parceira segue responsável pela guarda de sua filha, Lara (Mariana Ximenes).
Com o evoluir da trama, é possível até mesmo o público se ver torcendo pela vilã Flora, que vai batalhar pelo amor de sua filha biológica.
– Espero que, mais do que torcer pela vilã, as pessoas se olhem para dentro. A Flora é uma vilã infeliz. E, por mais que tenha se dado bem, não teve o amor que queria – acredita Patrícia Pillar, em entrevista a GaúchaZH por vídeoconferência.
Entre as duas irmãs de coração, existia Lara. Sem imaginar a grande reviravolta, Mariana se via – mesmo dentro dos sets de gravação – como o próprio público.
– A Lara era o primeiro objeto de disputa entre as duas, e eu não tinha uma torcida, porque era uma balança entre Flora e Donatela que a trama foi jogando. Eu cuidava para ser imparcial – recorda a atriz.
Transformação
Para fechar esse combo, Donatela foi fundamental. Muito rude com a filha adotiva, ela parecia ser a grande vilã e, aos poucos, Flora derruba a própria máscara.
– Ela tinha um ódio que não cabia dentro dela, foi tudo construído para que fosse verossímil. O João Emanuel foi ousado, ainda mais por ser algo que podia ter ido água abaixo, mas ele segurou tudo bem amarrado e aguentou. O estouro foi só consequência — reconhece Claudia Raia.
A figura de duas mulheres fortes em A Favorita, mesmo que brigando diretamente, pode muito bem alimentar a discussão sobre empoderamento feminino. A trama, no entanto, vai bem além disso: dentro dos embates entre elas, o autor versa sobre escolhas de vida.
– A lição é mais de você ser permeável ao outro, expor falhas, mesmo. É essa coisa do humano, do falho, que gera grandes encontros amorosos. Você pode ser forte, independente, mas nunca deixa de ser humano – reflete Patrícia.
Para Claudia Raia, essa proposta da novela se encaixa perfeitamente “nesse momento de total desamor”, já que a história se envolve na relação de ódio entre as duas protagonistas.
– Há um ingrediente meio que decepcionante nisso. Quando o amor está aqui, o ódio também, bem perto, e não tem para onde ir. Como essas mulheres são potentes, estão cheias de amor. Mas, como esperamos, o amor deveria ser coberto de doçura, e no fim vira competição – diz a atriz.