Sob Pressão sabe muito bem imitar a vida na arte. Com um hospital fictício e atores interpretando médicos, o seriado da Globo se debruçou no tema da saúde pública brasileira - e todos os problemas e dificuldades que profissionais e pacientes enfrentam diariamente, seja em grandes hospitais, seja em postos de saúde de bairros.
Atualmente, com o coronavírus avançando no Brasil, ouve-se muita gente falar que devemos "achatar" a curva. O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, chegou a comparar a evolução da doença ao Monte Everest: se o número de casos chegar no topo, o sistema de saúde do país não irá conseguir atender a tantos pacientes com a doença.
Para quem ainda não acredita que vivemos um risco de colapso na saúde e resiste em seguir as recomendações de isolamento das autoridades, Sob Pressão está aí para mostrar, com ficção, os motivos pelos quais não devemos escalar essa montanha na vida real.
Falta tudo, menos vontade
No Hospital São Tomé Apóstolo, localizado no subúrbio do Rio de Janeiro, falta tudo: medicamentos, equipamentos básicos para cirurgias e profissionais para atender a alta demanda de pacientes na emergência. O que não falta é a boa vontade dos trabalhadores do local, comandados por Carolina (Marjorie Estiano) e Evandro (Júlio Andrade), médicos protagonistas da série. Eles são tratados como heróis pelos doentes, assim como os profissionais de saúde da vida real, que receberam palmas na última sexta-feira (20) por serem cruciais no combate à pandemia.
Respiradores, usados em casos graves de coronavírus, também são poucos no hospital de Sob Pressão. No terceiro episódio da primeira temporada, acompanhamos o drama de uma mãe que precisa se despedir do filho com morte cerebral decretada. Assim, o jovem que usava o equipamento poderia ceder para outra pessoa, vítima de um tiroteio e ainda viva. Só havia três respiradores no hospital para atender dezenas de pacientes - e todos estavam sendo usados.
— É o que vai salvar vidas nessa pandemia. O respirador é o motor, a locomotiva — definiu o médico Luiz Augusto Pereira, presidente da associação mantenedora do Hospital Parque Belém, de Porto Alegre.
A instituição, que estava com leitos desativados, enviou 10 respiradores para o Grupo Hospitalar Conceição.
Em outro episódio, um simples exame de imagem era necessário para diagnóstico de um paciente prestes a morrer. Porém, o tomógrafo do hospital havia quebrado. O equipamento pode dar uma visão detalhada de qualquer parte do corpo, como os pulmões, um dos órgãos mais afetados por vítimas do coronavírus.
— A gente sabe que os doentes respiratórios crônicos têm uma predisposição maior para ser infectados, por portarem uma condição respiratória específica. Com o coronavírus, não é diferente. Os cuidados normais diários têm de ser redobrados para este público — disse o médico Pierangelo Tadeu Baglio, pneumologista do Hospital Moinhos de Vento, durante o programa Gaúcha 2, canal paralelo da Rádio Gaúcha.
Na série, o tomógrafo acabou sendo adquirido em uma licitação pelo dobro do preço, mas com menos capacidade - para a ira do doutor Evandro, que teve que aceitar o negócio para salvar vidas, mesmo sabendo que algum dinheiro iria parar no bolso de alguém. Corrupção e desvios de dinheiro na saúde também são mostrados na série como grandes causadores da falta de assistência em serviços básicos no país.
Por ser baseada em fatos reais (tudo começou em um livro escrito pelo médico Marcio Maranhão e que depois virou filme), Sob Pressão caminha junto com os problemas atuais. Deslizamentos de terra no Rio de Janeiro e até a greve dos caminhoneiros, em 2018, já serviram de base para a construção de episódios - e para encher os corredores do Hospital São Tomé Apóstolo de macas e pacientes aguardando atendimento. Não será surpresa se a quarta temporada, que já foi encomendada e deve estrear em 2021, tocar no tema coronavírus.
Nesses dias de quarentena, em que ficar em casa é essencial para evitar a disseminação do vírus, uma maratona de Sob Pressão chega não só para entretenimento, mas também para conscientização. A série tem três temporadas, disponíveis no Globoplay.