Uma área de conflito entre Inglaterra e Irlanda do Norte, na década de 1990, é o local utilizado pela britânica Lisa McGee para contar a história de um grupo de adolescentes peculiar em Derry Girls, seriado da Netflix que ganhou sua segunda temporada na última sexta-feira (2). Ao contrário do esperado, por conta desse cenário inóspito, o humor é a maior qualidade da produção irlandesa.
Um dos elementos que explicam a genialidade da série é o roteiro, que se apropria de ironias e situações muito semelhantes ao grupo de comediantes Monty Python, do fim da década de 1960. Nenhum personagem tem medo de ser ridículo ou julgado, mesmo que a emoção esteja à flor da pele, assim como no clássico do humor britânico.
Por isso, Derry Girls cativa logo nos primeiros segundos. Derry é uma pequena cidade da Irlanda que vivia dividida, já que os católicos queriam a independência e os protestantes concordavam com a anexação à Grã-Bretanha. No entanto, o foco do seriado é o grupo de meninas (e um garoto) que estudam em uma escola de freiras.
Cada uma das jovens tem um tipo de personalidade: Clare (Nicola Coughlan) é histérica e facilmente perde a paciência; Erin (Saoirse-Monica Jackson) é liberal e romântica; e Michelle (Jamie Lee O’Donnell) está preocupada em encontrar algum garoto. Elas são apenas alguns exemplos deste grupo que se envolve em diversas situações inesperadas.
Em cada episódio, os adolescentes encaram diferentes situações (todas risíveis). Na nova temporada, por exemplo, tentam fazer uma festa no quarto de garotos protestantes durante um acampamento de férias. Em outro capítulo, precisam recuperar todos os bolinhos (em que Michelle colocou drogas por diversão) que foram distribuídos durante um velório.
Com protagonistas extremamente caricatos, que parecem não perceber os absurdos que dizem, Derry Girls deslancha ainda com outros personagens bizarros, como uma freira que administra o colégio e não tem paciência para nerds e até mesmo um padre sedutor com pinta de galã.
Outro ponto que contribui para a narrativa é a velocidade, já que são duas temporadas de apenas seis episódios, com cerca de 25 minutos cada. A criatividade da roteirista Lisa McGee, provavelmente, renderia episódios mais longos, mas é perceptível que tudo é feito sob medida. Mais dez minutos em cada capítulo, por exemplo, dariam margem para exageros, acabando com todo o encanto obtido por suas histórias.
Simples, com um humor raro em seriados do gênero atualmente e com um elenco jovem bem alinhado, Derry Girls tem todos os elementos que a configuram como uma das melhores séries teen do ano. Como diz Erin, no desfecho da segunda temporada, "ser uma garota de Derry é um estado de espírito". Que este estado permaneça entre nós, por favor.