William (Thiago Prade) é um garoto solitário que sonha em fazer uma série de sucesso. Alice (Kaya Rodrigues) é uma estudante de cinema em busca de um estágio para comprovar para a família que pode viver da arte. Stive (Gabriel Faccini) é um ator de segundo escalão querendo um lugar ao sol. Estes são os protagonistas de Alce e Alice, seriado de quatro episódios com produção 100% gaúcha que chegou na semana passada ao catálogo da Netflix. Diego Barrios e Tiago Rezende são os criadores da série com cenários em Porto Alegre – orla do Guaíba e Travessa do Venezianos, entre outros locais. Rezende assina o roteiro com Gabriel Faccini e Tomás Fleck.
Na trama, o jovem trio está às voltas com a produção de uma série sobre um ousado triângulo amoroso, envolvendo um casal e... um alce. Em meio às gravações, William, Alice e Stive encaram antagonistas como executivos de televisão, autoridades policiais e um premiado cineasta, vivido pelo diretor e roteirista Jorge Furtado. Alce e Alice promove uma discussão metalinguística a respeito do universo dos seriados, da televisão e lança um olhar crítico e irônico a aspectos culturais e sociais das novas gerações.
— Falamos de elementos da nossa vida e usamos a comédia para problematizar, por exemplo, o delírio juvenil do protagonista, a compreensão dele do que é fazer sucesso e o lance de meritocracia. No fim, tudo o que vem acontecendo no país foi ganhando contexto político, que é algo que acabamos discutindo. Na raiz do roteiro, a ideia era brincar com as pretensões — explica o criador Tiago Rezende.
O personagem William é o fiel retrato de uma geração preocupada em elevar suas produções ao sucesso mundial. Financiado pela mãe senadora, o rapaz coloca Alice e Stive para encenar um roteiro nonsense, tentando garantir milhares de visualizações no YouTube.
— Ele (William) não tem empatia com o próximo, só quer aplauso e atenção dos outros. Acabou se fechando no mundinho que o impede de perceber o quanto ele passou dos limites e está indo contra o bom senso em algumas atitudes. A maior dificuldade foi colocar esse tom de "não vou dar bola para ninguém e simplesmente se fechar para os outros". Ele é uma vítima da falta de carinho — explica Thiago Prade.
O sucesso da série fictícia só ocorre com a aparição de influenciadores digitais, que enaltecem o produto de forma despretensiosa.
— Tudo foi feito sob o viés de uma comédia bem escrachada: ela não se leva a sério até nas referências. Mesmo que nas entrelinhas tenha críticas e momentos de seriedade, o principal é a comédia. Queremos entreter, dar risada. Apesar disso, damos a chance de discutir temas relevantes — destaca o ator.
Produtora tem outras séries em exibição
Produzida pela Verte Filmes em 2017, Alce e Alice é mais uma série gaúcha a ganhar projeção nacional – a própria Verte, entre outras atrações, realizou para o Canal Brasil Werner e os Mortos e acaba de estrear Necrópolis no canal Prime Box Brasil.
— A Netflix abre portas para dar continuidades a outros trabalhos e valorizar a comédia gaúcha, que tem muitos talentos esperando essa porta ser aberta — observa Prade.
No desfecho de Alce e Alice, o personagem do cineasta Jorge Furtado provoca uma reviravolta na trama e deixa um gancho para a continuação da história – o diretor deve marcar presença na segunda temporada, ainda em fase de desenvolvimento. A ideia dos realizadores é contar com uma quantidade maior de episódios.
— Há uma vontade de continuar fazendo sátira e de repercutir coisas ao nosso redor. A luta do texto é de não ficar autocentrado, de não ser sobre o próprio Alce e Alice, mas sim de absorver o que está em volta. Queremos falar de franquias de super-heróis, por exemplo, e o retorno do Jorge Furtado é possível com mais uma participação (risos) – adianta Rezende.
ALCE E ALICE
Série em quatro episódios. Primeira temporada disponível na Netflix.