A fama pode até trazer seus benefícios, mas a ideia de que ser reconhecido publicamente é sinônimo de ganhar muito dinheiro não reflete a realidade da maioria. Nos últimos meses, diversos artistas vieram a público para relatar dificuldades em se sustentar com o trabalho na arte.
Seja pela desvalorização do setor da cultura no país ou pelos agravantes trazidos pela pandemia, fechar as contas no final do mês parece estar cada vez mais difícil para todos — anônimos e famosos. Abaixo, confira alguns dos artistas que abriram o jogo sobre seus problemas financeiros.
Silvia Buarque
Recentemente, a atriz Silvia Buarque, filha de Marieta Severo e Chico Buarque, falou sobre as dificuldades de se sustentar sem a ajuda dos pais. Aos 52 anos, ela estreou a peça A Menina Escorrendo dos Olhos da Mãe ao final do mês passado, mas afirmou que, por conta das poucas propostas de trabalho, precisa do suporte da família para pagar as contas.
— Só com a ajuda de pai e mãe. Quando pinta um filme ou participação em série, guardo uma grana para os próximos meses. De teatro, não dá para viver. Fiz uma peça Casa de Bonecas, com Ana Paula Arósio, que deu uma grana boa. Fiz muito GNT, As Canalhas, Copa Hotel... Tenho a vantagem de ter pais que entendem essa situação. Sabem que não vim ao mundo a passeio, que ralo. Então, eles me ajudam mesmo — contou Silvia ao jornal O Globo.
Apesar de contar com apoio financeiro dos pais, a atriz garantiu que nunca conseguiu trabalhos por "pistolão":
— O salário e a visibilidade da TV me fazem falta. Às vezes, tenho um hiato grande, momentos em que não escolho nada, só aceito os convites que chegam. Não me faz falta nenhuma ser famosa, reconhecida na rua, pedirem foto. Pelo contrário, odeio isso. Sou meio antipática. Até porque, muita coisa é por causa dos meus pais. Desde criança, aprendi a dividir o que é meu de verdade e o que me chega através deles. O trabalho nunca me chegou por eles. Jamais vão dizer: "Marieta pediu para ela fazer". Quem falar isso está mentindo.
Dedé Santana
Quem também abriu o jogo sobre a vida financeira foi o humorista Dedé Santana, ex-integrante dos Trapalhões. Em entrevista à Rádio Gaúcha, em abril deste ano, o comediante revelou que precisou contar com a ajuda de Renato Aragão, o Didi, devido a dificuldades financeiras. Ele elogiou a generosidade do amigo:
— Teve uma época, agora, que eu precisei dele. Ele foi lá, fez um cheque e me entregou. Falei: "Olha Renato, em 70 dias te devolvo". E ele disse: "Se você devolver, vou ser seu inimigo, vou brigar com você, não vou mais ser seu amigo. Eu te devo muito mais do que isso". Então, esse cara é ou não é meu amigo?
Já em conversa com o podcast Flow, no mês passado, Dedé fez uma análise de sua carreira na arte e afirmou que poderia "estar milionário como o Didi", caso encarasse as ofertas de trabalho de uma maneira diferente.
— Sou esse tipo de artista. Você me convida para um trabalho e não quero saber quanto vou ganhar — explicou. — Podia estar milionário como o Didi. Ele é arquimilionário, na verdade. Para mim, arquimilionário é quem tem no mínimo R$ 30 milhões no banco. Não é o meu caso. Primeiro, perguntava o que ia fazer, se ia gostar ou não. Depois, queria saber quanto ia ganhar — disse o ex-trapalhão.
Marcos Oliveira
Conhecido por seu papel como o pasteleiro Beiçola em A Grande Família, o ator e humorista Marcos Oliveira também integra a lista de artistas que tornaram públicas suas questões de cunho financeiro. Em maio deste ano, o artista contou que estava com dificuldades para se manter em meio à pandemia, contando com a ajuda de um amigo e um fã.
— Tenho um grande amigo que está na Europa e, de vez em quando, me ajuda comprando alguma coisa para eu comer. Um fã do interior de São Paulo fez uma vaquinha por lá e depositou um dinheiro para eu pagar minhas contas e ajudar na compra de comida também — disse ele ao podcast Só 1 Minutinho.
— Sou sozinho, não tenho família. Vivo apenas com minhas três cadelas. Não me chamam para nada, para nenhum trabalho. Quero ter oportunidade de fazer outras coisas — acrescentou ele, pedindo oportunidades de trabalho em sua área.
Após a repercussão da entrevista, o ator chegou a ser contratado para estrelar a propaganda de uma marca de hambúrgueres.
Suely Franco
Sem contrato com emissoras, a atriz Suely Franco, 81 anos, vem dependendo de trabalhos no teatro para se manter. Com a pandemia de covid-19 e a suspensão das atividades da cultura, a artista teve que ficar longe dos palcos e, assim, apertar o orçamento.
— O teatro representa a minha vida, meu coração, meus pulmões. Sem ele, não há vida, fica tudo muito difícil. Eu sinto falta do público, dos aplausos e dos companheiros das coxias. Ficar sem subir num palco é a morte em vida. Não sou contratada de nenhuma emissora e dependo do teatro para meu sustento — disse ao colunista Anselmo Gois, do jornal O Globo.
Ela também revelou ter precisado deixar o apartamento alugado em que vivia, por conta do alto valor do condomínio:
— Tenho problemas no joelho e precisei sair da minha casa por conta das escadas. Aluguei um apartamento no Catete, porém, tive de retornar ao antigo endereço por não conseguir pagar o condomínio. Apesar de ter participado de duas leituras online de um espetáculo contemplado pela Lei Aldir Blanc, estou me mantendo graças a algumas economias de uma vida dedicada à arte.
Maíra Charken
A pandemia também deixou marcas nas finanças de Maíra Charken, que já trabalhou como atriz em diferentes novelas e chegou a comandar a bancada do Vídeo Show. Atualmente, a artista atua como influenciadora digital e enfrenta dificuldades com a falta de oportunidades na TV, conforme revelou em publicação nas redes sociais, em junho deste ano.
— É difícil conseguir hoje marcas que te deem dinheiro — disse, sobre a nova ocupação. — Eu tinha uma reserva muito boa quando acabou o meu contrato, mas a reserva acabou. Uma coisa dos brasileiros é que a gente não recebe educação financeira — refletiu.
A atriz e apresentadora detalhou os problemas financeiros e revelou que precisaria tirar o filho da escola, por não conseguir arcar com as mensalidades:
— Estou com a escola do Gael atrasada, que vou ter que tirar ele da escola porque não estou conseguindo ver uma maneira de manter.
Andréa Sorvetão
A ex-paquita Andréa Sorvetão contou com a ajuda de Xuxa para sobreviver na pandemia. Com dificuldades financeiras, ela passou alguns meses vivendo em um apartamento cedido pela apresentadora, que também arcou com as despesas da escola da filha de Sorvetão.
— Devemos muito a Xuxa. Ela nos ajudou financeiramente quando precisamos, pagou a escola da nossa filha. Ela trouxe a gente de volta para o Rio e nos botou no apartamento dela. Entrou a pandemia, a gente não tinha dinheiro nem para pagar o condomínio. Ficamos sete meses lá e só nos mudamos porque pintou um imóvel de herança no Recreio. Xuxa havia feito um contrato de quatro anos, para você ver como ela é generosa — disse Andréa ao canal no YouTube do jornalista Rica Perrone.
Apesar disso, as duas estão brigadas. Conforme o jornal Extra, Xuxa parou de seguir a ex-paquita nas redes sociais após um vídeo publicado por Andréa e o marido no qual se definiam como um casal "hétero, cristão e tradicional". Depois, a apresentadora ainda teria criticado a postura de Sorvetão em um grupo que reúne outras ex-paquitas.
— Não esperava essa reação dela. Foi um choque. Espero que a gente possa se encontrar um dia e se entender — disse Andréa sobre o caso, que definiu como "briga de viés político".
Ana Canãs
Já a cantora Ana Canãs precisou cancelar seu plano de saúde por conta dos prejuízos causados pela suspensão de shows durante a pandemia de covid-19. Em entrevista à revista Quem, em agosto deste ano, a artista disse ter passado "muito perrengue" para se manter no período:
— Tem sido muito difícil para todos nós da classe artística, financeira e emocionalmente. Passei muito perrengue, ajustei meu aluguel 50% mais barato, deixei de comprar coisas que usualmente precisava e também perdi o plano de saúde, não consegui arcar.
A musicista celebrou o avanço da vacinação no país, vista como um fio de esperança para a retomada das atividades culturais e, assim, da renda dos artistas.
— Seguimos aguardando por esse grande momento, onde poderemos voltar aos palcos e reencontrar o público para cantar junto e deixar a emoção transbordar novamente — projetou.