Anunciado na noite de quinta-feira (16) pelo ex-secretário da Cultura Roberto Alvim em vídeo com evocação ao ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, o Prêmio Nacional das Artes foi criado para patrocinar, com R$ 20,6 milhões, produções inéditas da cultura brasileira. Ao divulgar a condecoração, ele citou o "renascimento da arte e da cultura brasileira".
A premiação foi dividida em sete categorias: Ópera, Teatro, Pintura, Escultura, Literatura, Música, História em Quadrinhos. Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta sexta-feira (17), Alvim afirmou que o edital seria lançado até a próxima sexta-feira (24). Os resultados, anunciados em abril e o pagamento dos prêmios, em maio.
Segundo texto da Secretaria Especial da Cultura, a banca irá selecionar cinco óperas (prêmio de R$ 1,1 milhão para cada vencedor), 25 espetáculos teatrais (prêmio de R$ 250 mil) , 25 exposições individuais de pintura (prêmio de R$ 100 mil) e 25 de escultura (R$ 100 mil), 25 contos inéditos (prêmio de R$ 25 mil), 25 CDs musicais originais (prêmio de R$ 100 mil) e 15 propostas de histórias em quadrinhos (prêmio de R$ 50 mil).
— Ele (Jair Bolsonaro) pediu que eu faça uma cultura que não destrua, mas que salve nossa juventude. A cultura é a base da pátria. Quando a cultura adoece, o povo adoece junto. É por isso que queremos uma cultura dinâmica e, ao mesmo tempo, enraizada na nobreza de nossos mitos fundantes. A pátria, a família, a coragem do povo e sua profunda ligação com Deus amparam nossas ações na criação de políticas públicas. As virtudes da fé, da lealdade, do autossacrifício e da luta contra o mal serão alçadas ao território sagrado das obras de arte — disse Alvim no vídeo.
A arte brasileira da próxima década será heroica e será nacional. Será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo, ou então não será nada.
ROBERTO ALVIM
Secretário da Cultura do governo Bolsonaro
No entanto, questionado pela Rádio Gaúcha se o governo privilegiaria produções com temas nacionalistas, Alvim afirmou que nenhum tema seria excluído e que a avaliação seria por conta da qualidade de cada obra.
— Não há nenhum tipo de exclusão ou de credencial que vá excluir ou admitir alguém de chofre. Cada categoria dessa será analisada por comissões curatoriais específicas, formadas por membros da sociedade civil com currículos consagrados. O único critério é a qualidade artística e a potência estética. O que queremos são as melhores obras de arte criadas por artistas brasileiros. Pretendemos estrear (os espetáculos) em Brasília — afirmou.
A arte alemã da próxima década será heroica, será ferreamente romântica, será objetiva e livre de sentimentalismo, será nacional com grande páthos e igualmente imperativa e vinculante, ou então não será nada.
JOSEPH GOEBBELS
Ministro de Cultura e Propaganda de Hitler
Ao afirmar à Rádio Gaúcha que o Prêmio Nacional das Artes "não se trata de despertar moral e bons costumes na arte", o ex-secretário da Cultura definiu o que seria a ideia de conservadorismo na arte: "um conceito que diz respeito ao conhecimento e amor profundo à história da arte, à percepção da complexidade dos clássicos e de que a arte tem como finalidade última a dignificação da vida humana. Não tem a ver com doutrinação, que foi o que fez toda a arte patrocinada pela esquerda no Brasil nos últimos 20 anos".
— Eu me refiro a uma arte que traduza em formas estéticas as aspirações, medos, desejos e anseios de um povo. A arte grega, da época da tragédia grega, é uma arte completamente nacionalista. A identidade do povo grego se amalgamava através do diálogo e da fruição daquela arte produzida sobre os mitos fundantes da Grécia, dos valores e princípios da sociedade grega. É muito simples explicar isso. Essa é uma ideia goza de alto prestígio dentro da minha percepção do mundo e do governo — afirmou.
Com a queda de Alvim na chefia da secretaria de Cultura, não está definido se o prêmio seguirá o cronograma planejado. GaúchaZH contatou o órgão para saber como ficará o futuro da premiação, mas não obteve resposta ainda.
Alvim acrescentou, antes de ser exonerado, que um edital específico para a área de Cinema seria lançado no fim de fevereiro, no valor de R$ 156 milhões.