Um dos principais programas de fomento cultural no Brasil, o Rumos Itaú Cultural anunciou a abertura de inscrições para a 19ª edição, relativa a 2019-2020, em coletiva para a imprensa realizada nesta segunda-feira (2), em São Paulo. A partir das 00h01min desta terça-feira (3), interessados poderão pleitear recursos para propostas culturais em qualquer linguagem artística por meio do site rumositaucultural.org.br. As inscrições devem ser realizadas até as 23h59min de 18 de outubro, e o resultado será divulgado até 25 de maio de 2020.
Ao longo de 22 anos, o Rumos já recebeu 64 mil inscrições, das quais 1.400 foram selecionadas. A primeira seleção é feita por uma comissão de avaliação de 40 pessoas (seus nomes não são divulgados). Na segunda etapa, os projetos passam pela comissão de seleção, que neste ano conta com 24 membros entre convidados e a equipe do Itaú Cultural — entre eles, o compositor e músico gaúcho Ian Ramil.
No último edital, de 2017-2018, o Rumos recebeu 12.616 inscrições e selecionou 109 projetos, contemplados com cerca de R$ 15 milhões. O investimento é feito diretamente pelo instituto, sem utilizar mecanismos de incentivo como a Lei de Incentivo à Cultura (antiga Lei Rouanet).
— A ideia é investir mais. O que vai definir (o valor) são os projetos — falou o diretor do Itaú Cultural, Eduardo Saron, sobre a 19ª edição.
O executivo também reforçou a importância de manter o programa plural, contemplando propostas de todo o país, de todas as áreas da cultura e com perfis diversos.
— A força do Rumos é ter pessoas tão diversas quanto a diversidade do país — disse Saron.
Uma das mudanças neste ano é a possibilidade de se inscrever usando o nome social, uma adaptação decorrente do aumento das inscrições relacionadas ao tema da identidade de gênero.
— Nas últimas duas edições, a questão da identidade de gênero veio com mais força. O Rumos é um lugar onde as pessoas reconhecem que são bem-vindas — comentou a gerente de comunicação do Itaú Cultural, Ana de Fátima.
Vânia Leal, curadora e pesquisadora de Belém, reforçou que a comissão que avalia os trabalhos estará atenta a esse tema.
— Fica tranquilo que a gente está lutando por isso — respondeu Vânia a um dos jornalistas presentes na coletiva.
Outra alteração do programa é que pessoas físicas poderão inscrever projetos com valor máximo de R$ 70 mil. Não há limite para projetos inscritos por pessoa jurídica. E também foi comunicado que, a partir de agora, será recomendado que propostas de audiovisual incluam roteiro no ato de inscrição.
No edital 2017-2018, o Rio Grande Sul foi o sexto Estado em número de inscritos, com 564, dos quais quatro foram selecionados. Para incentivar a inscrição de mais projetos e esclarecer dúvidas, a instituição enviará equipes para as 27 capitais do país nas chamadas Caminhadas Rumos. Em Porto Alegre, o evento será no dia 2 de outubro na Casa de Cultura Mario Quintana, com presença de dois gerentes do Itaú Cultural.
Itaú Cultural no RS
Por fora do Rumos, o Itaú Cultural patrocina outras iniciativas gaúchas, como a Fundação Iberê Camargo, o Porto Alegre em Cena e o Fotofest.
— O Rio Grande do Sul tem uma cena cultural que contamina todo o sul do país e que é importante também para o Mercosul. O nosso desejo de estar ainda mais presente é contundente — disse Saron a GaúchaZH.
Segundo o executivo, a ideia é dar continuidade a esses investimentos e ampliar a parceria com a Fundação Iberê Camargo.
— Estamos falando com a Fundação para ampliar a parceria com cursos e programação de formação. Nas próximas semanas teremos uma reunião para planejar 2020.
Aposta em memória
Durante o encontro com a imprensa, o diretor do Itaú Cultural mencionou ainda que a instituição pretende investir em projetos relacionados ao tema da memória. A iniciativa nasceu devido ao aumento de inscrições de projetos com este perfil no Rumos, mas terá um modelo diferente do edital. Saron alertou que a iniciativa não será voltada a restauro de patrimônio, e sim para acervos.
—No ano que vem, vamos ter um chamamento público só para projetos de memória, voltados para organização, catalogação e digitalização de acervos — afirmou o executivo, sem dar maiores detalhes sobre o programa, que será lançado no ano que vem.
— O país não tem política para as artes tanto quanto não tem política para a memória. Não há inovação sem conservação. Mas não é algo de hoje. O país não tem política para as artes nos últimos 20, 30 anos — acrescentou Saron.
Exposição
Dezessete dos 109 projetos selecionados no último edital estarão na exposição O Tempo das Coisas – Mostra Rumos 2017-2018, com abertura nesta quarta-feira (4), na sede do Itaú Cultural, em São Paulo. O espaço exibe nove projetos, incluindo obras de nomes consagrados nacionalmente, como uma série fotográfica de Luiz Braga e uma compilação de vídeos da artista Brígida Baltar.
As propostas artísticas são variadas e incluem ainda desenhos, histórias em quadrinhos, instalação, projetos em rádio e realidade virtual. Do Rio Grande Sul, está presente a instalação A Última Invenção, com estranhas máquinas criadas pelo grupo canoense De Pernas Pro´Ar, que fará uma performance durante a abertura da exposição.
A programação da mostra inclui ainda oito projetos, apresentados em formato de show, espetáculo, performance, debate e oficina. A mostra segue em cartaz até o dia 3 de novembro.
*A jornalista viajou a São Paulo a convite do Itaú Cultural.