Admirado por gerações de artistas desde os anos 1960, Wesley Duke Lee (1931-2010) ainda não tinha sido propriamente apresentado ao público gaúcho. Sua instalação The Helicóptero (1969) foi um dos destaques da Bienal do Mercosul de 2015, mas faltava uma exposição individual de sua produção, que até hoje permanece provocativa. Neste sábado, a Fundação Iberê Camargo começa a preencher essa lacuna com Wesley Duke Lee – A Zona: A Vida e A Morte.
A mostra traz 59 obras realizadas de 1964 a 1967, um bom ponto de partida para conhecer sua produção. Foi neste momento que, segundo o curador Ricardo Sardenberg, Wesley "encontrou seu vocabulário". Já era conhecido pela série de desenhos eróticos Ligas, exposta em 1963 em uma sala escura onde o público entrava com lanternas na mão, em um dos primeiros happenings realizados no Brasil. Um ano antes, havia tido sua primeira experiência com LSD, antes da substância ser criminalizada. "Quando tomei o lisérgico é que saiu tudo isso aqui, do dia para a noite", escreveria o artista sobre trabalhos resultantes da vivência, como a série Lisérgicas, que agora chega à capital gaúcha representada por duas telas.
Naquele momento, a arte brasileira parecia dominada pelo construtivismo, e a produção de Lee, figurativa, sensual e irreverente, destoava bastante. Filho de um americano com uma portuguesa, Lee estudou arte em Nova York entre 1952 e 1955, e, após o retorno ao Brasil, seguiu acompanhando o cenário artístico no Exterior – especialmente a pop art, da qual foi um pioneiro no Brasil.
— Ele estava olhando para Andy Warhol e Lichtenstein, mas também para o Fluxus. Tinha muita influência do dada. Dizem que Wesley é Nova Figuração, é Pop, mas para mim ele é na verdade um protoartista conceitual no Brasil – avalia Sardenberg, curador que idealizou o Instituto Inhotim, em Minas Gerais, e hoje representa a feira suíça Art Basel no Brasil.
As obras de Lee eram repetidamente recusadas pela Bienal de São Paulo até que, em 1965, ganhou o prêmio internacional de pintura na 8ª Bienal de Tóquio. Ao receber o convite do evento brasileiro, fez questão de agradecer com Cinco Comentários Ternos sobre o Japão – Ou Obrigado Japão, que agora chega a Porto Alegre. Na ocasião, também exibiu uma série de nus que poderão ser vistos aqui, incluindo uma referência à Origem do Mundo (1866), de Gustave Courbet.
Musa trágica
O coração da exposição é a série de 30 trabalhos inspirada na vida de Jean Harlow, a "vênus platinada" da Hollywood dos anos 1930. Lee encontrou a história da atriz em uma revista de celebridades: casou-se virgem com um homem que se matou e, apesar de já ser uma estrela, passou a frequentar a zona do meretrício até morrer em um acidente de carro.
— Essa série representa o ápice de um momento dele. Pela quantidade de obras, pela escala delas, por mostrar a capacidade de desenhar, que ele mistura com pintura, colagem e frotagem — aponta o curador. — Aqui ele está absorvendo o pop, mas também criticando.
Em apenas uma semana de 1967, Lee criou os 30 trabalhos que ocupam uma sala inteira da fundação. No entanto, dois estudos de 1966 mostram que vinha planejando e treinando para eles há um ano.
Os elementos ali presentes marcariam toda a sua obra: traços que sugerem mais do que mostram, quadros dentro de quadros, o uso da escrita e de números.
Wesley Duke Lee – A Zona: A vida e A morte
- Curadoria: Ricardo Sardenberg.
- 4º andar da Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2.000).
- Visitação de quarta a domingo, das 14h às 19h, a partir deste sábado até 27 de outubro.
- Programação paralela: sábado (31/8), às 15h, visita guiada com o curador e a historiadora de arte Cacilda Teixeira da Costa. No domingo (1º/9), às 16h: sessão comentada do curta A Última Viagem de Arkadin D'y Saint Amér, no auditório da fundação, com a historiadora e o roteirista e diretor Sérgio Zeigler.
- Todas as atividades têm entrada franca.