Um ano depois do incêndio que destruiu o Museu Nacional, no Rio de Janeiro, pesquisadores e coordenadores da instituição estão confiantes em relação ao seu futuro — e fazem até mesmo promessas. Segundo a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável pelo museu, parte do palácio será reaberta com exposições em 2022, para festejar o bicentenário da Independência do Brasil. Antes disso, estão previstas mostras de parte do acervo no Rio e em Brasília, com o objetivo de atrair parcerias com instituições públicas e privadas para a reconstrução. Além disso, as obras para reestruturar a fachada e os telhados do edifício estão previstas para este ano.
Quarenta e sete funcionários participam ativamente do resgate de peças no local, além de estudantes de graduação e pós-graduação. Ainda não é possível mensurar com exatidão a dimensão da tragédia, mas dados divulgados sobre o trabalho apontam que pelo menos 46% das coleções foram comprometidas. De um total de 37 coleções, 17 (ou 46%) foram total ou parcialmente perdidas, 13 foram ou estão sendo resgatadas e sete não foram atingidas porque estavam em outros prédios que pertencem ao museu.
O número total de peças não pode ser levantado com precisão, pois os achados são catalogados em lotes, e cada lote pode conter centenas de objetos. Até o momento, foram realizados 4,4 mil formulários de cadastro.
– Ainda é impossível fazer esse balanço em número de peças – diz a arqueóloga Luciana Carvalho, uma das coordenadoras do grupo de resgate.
Com uma área plana de 2 mil metros quadrados (considerando que o primeiro e segundo andares caíram), o palácio já teve 50 de suas 71 áreas analisadas pelo grupo de resgate. As restantes devem ser finalizadas até o primeiro semestre de 2020. Após esse período, começa a parte mais demorada do trabalho, que consiste na realização de um inventário do material coletado – não foi divulgada previsão de término da tarefa.
É pouco provável que alguma peça das galerias expositivas tenha restado inteira depois do incêndio. No entanto, os itens da reserva técnica tiveram melhor sorte, já que esta área estava concentrada nos fundos do palácio, tendo menos tempo de contato com o calor.
– As coleções que estavam dentro de armários de aço resistiram mais, ainda que esses armários tenham sido danificados pelo incêndio. Tem peças como cerâmicas, estatuetas, que estão em excelente estado de preservação, ainda que a gente note danos relacionados ao incêndio, como quebras, fraturas e esmaecimento de cores relacionados ao processo de calor e do incêndio – explicou Luciana.
Doações
Além do trabalho de resgate, funcionários do museu também ressaltam a importância de compor coleções a partir de itens novos. É o que aponta a bióloga Marcela Monne, que trabalhava em um laboratório no terceiro andar do edifício, que caiu no incêndio, onde havia umas da maiores coleções de entomologia (estudo de insetos) do Brasil.
— Não é possível recompor a coleção, que é insubstituível, mas é possível reconstruir uma nova — projeta Marcela.
O trabalho de professores e estudantes está sendo fundamental para recriar coleções como essa, mas a UFRJ também conta com o recebimento de doações. Segundo o diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, no momento está sendo criado o projeto executivo para a restauração da fachada e do telhado do palácio, mas ainda não há previsão do custo dessa obra.
Ainda serão realizados mais dois projetos executivos: um para a restauração interna do palácio e outro do plano museológico para definir a ocupação dos espaços com as exposições. Segundo o diretor, foram pensados quatro circuitos expositivos para o novo Museu Nacional:
– O primeiro é o Circuito Histórico, quem morou lá, com toda a trajetória até a tragédia. Outro é o Circuito do Universo e da Vida, com a visão científica da história do universo. O terceiro é o da Complexidade Cultural. Aqui temos problemas, não vamos conseguir atuar sem a ajuda de parceiros nacionais e internacionais, com doação de acervo original. E o Circuito dos Biomas Brasileiros, envolvendo a América do Sul de maneira geral.
Mesmo após a tragédia, algumas peças do acervo estão sendo exibidas em diferentes mostras. No dia 19 de setembro, por exemplo, será inaugurada, no Congresso Nacional, a exposição Museu Nacional Vive – Memória e Perspectivas.
No Rio, a União cedeu à entidade um terreno de 44 mil metros quadrados, no Campus da Cavalariça, próximo ao palácio. Segundo a UFRJ, as partes administrativa e acadêmica do museu devem ser reinauguradas no local doado no próximo ano.
O valor disponível para as reformas é de cerca de R$ 69 milhões, sendo R$ 43 milhões destinados por emenda impositiva da bancada do Rio de Janeiro na Câmara dos Deputados, R$ 21 milhões de um convênio com o BNDES e outros R$ 5 milhões repassados pelo Ministério da Educação.
Números da reconstrução
- Quase metade (17 ou 46%) das 37 coleções do museu foi total ou parcialmente perdida.
- 47 funcionários formam a equipe de resgate de peças, além de estudantes de graduação e pós-graduação.
- 50 das 71 áreas do palácio já foram analisadas pela equipe de resgate.
- 44 mil metros quadrados de terreno foram doados pela União para acomodar funções administrativas e acadêmicas que funcionavam no palácio.
- Cerca de R$ 69 milhões estão disponíveis para reformas.