A dramaturga inglesa Nina Raine teve a ideia de escrever a peça Tribos depois de assistir a um documentário em que uma mulher grávida e seu marido expressavam o desejo de que o bebê fosse surdo, assim como eles. Nina se deu por conta de que os pais querem passar aos filhos não apenas valores e conhecimentos, mas também sua linguagem.
Esse foi o ponto de partida do espetáculo que estreou no Royal Court Theatre, em Londres, em 2010, depois foi remontado em Nova York, em 2012, e, no ano seguinte, estreou em versão brasileira pelas mãos do experiente diretor Ulysses Cruz, tendo à frente do elenco Antonio Fagundes no segundo trabalho teatral ao lado do filho Bruno - o primeiro foi Vermelho, apresentado em Porto Alegre em 2012, no qual Fagundes interpretava o pintor americano Mark Rothko.
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No drama cômico Tribos, que tem sessões em Porto Alegre neste sábado (30/5), às 18h e às 21h, e domingo (31/5), às 17h, pai e filho retornam ao Theatro São Pedro para encenar a história de Billy (vivido por Bruno), um garoto com deficiência auditiva às voltas com as dificuldades de comunicação em uma estrepitosa família na qual, paradoxalmente, ele parece ser o que melhor sabe ouvir. A relação com o pai (Fagundes), a mãe (Eliete Cigaarini) e os irmãos (Guilherme Magon e Maíra Dvorek) começa a mudar quando Billy encontra Sylvia (Arieta Corrêa), uma jovem em processo de perda auditiva que lhe ensina a língua de sinais. Então: quem deve fazer esforço para se comunicar com o outro? A surdez abordada na peça é literal e também metafórica, como explica Antonio Fagundes:
- Aparentemente, são duas as tribos de que ela (a autora Nina Raine) trata no espetáculo: os ouvintes e os deficientes auditivos. Mas, ao longo do texto, você percebe que essas tribos se multiplicam por outras mil. Se você fizer um pequeno exercício e tirar do centro da trama o deficiente auditivo e colocar um homossexual, negro, judeu ou qualquer outra minoria acossada preconceituosamente pelo resto da sociedade, vai perceber que a estrutura da peça permanece de pé.
Fagundes adianta que está à procura de um novo texto para encenar com Bruno, mas por enquanto a novidade é que retornarão a cartaz com Vermelho em setembro, em São Paulo.
- Sempre tivemos uma relação familiar muito harmoniosa. Podia ser muito desgastante profissionalmente se a gente não pensasse igual nessa área. Mas minha experiência com ele em Vermelho, com a qual ficamos em cartaz mais de um ano, foi tão produtiva que resolvemos repetir em Tribos.
O ator explica que criou uma cooperativa com seus parceiros de palco para viabilizar a peça exclusivamente com renda de bilheteria, sem patrocínios, em um modelo pouco comum no país:
- Este é um sistema que pretendo estender para qualquer espetáculo que fizer. Acho que o patrocínio, de uma certa forma, vem nos distanciando das plateias. É muito bom saber que estamos há quase dois anos em cartaz, caminhando para os 200 mil espectadores, e o espetáculo continua aí por escolha do público.
Em vídeo, relembre cinco momentos na carreira de Antonio Fagundes:
TRIBOS
Neste sábado (30/5), às 18h e às 21h (sessão com intérprete
de Libras), e domingo (31/5), às 17h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº),
em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 40 (galerias), R$ 80 (camarote lateral), R$ 120 (camarote central) e R$ 150 (plateia e cadeira extra).
À venda na bilheteria do teatro nesta sexta-feira (29/5), das 13h às 18h30min, e no fim de semana, das 15h até a hora do espetáculo.
Surdez como metáfora
Antonio Fagundes e o filho Bruno entram em cartaz em Porto Alegre com a peça "Tribos"
Espetáculo tem sessões no Theatro São Pedro no sábado e no domingo
Fábio Prikladnicki
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