Correção: Luísa Sonza se apresentou na sexta-feira (6) para 45 mil pessoas na Neo Química Arena, e não para 70 mil pessoas no Allianz Parque, como publicado entre 8h08min e 10h43min deste domingo (8). O texto já foi corrigido.
No mesmo dia, Luísa Sonza jogou futebol, andou a cavalo pelas ruas e fez show para 10 mil pessoas em Tuparendi, noroeste do Estado. Estava em casa.
Antes disso, na sexta-feira (6), cantou o Hino Nacional diante de 45 mil pessoas, na Neo Química Arena, em um evento de futebol americano em São Paulo. Fez show em Manaus (AM), na quinta (5). Marcou presença no evento Billboard K Power 100, em Seul, na Coreia do Sul, na semana retrasada. O sábado (7) foi a vez de sua terra natal.
Desde que se projetou nacionalmente em sua carreira solo, Luísa Sonza ainda não havia se apresentado no município onde viveu até os 17 anos. O show fez parte da 8ª edição da Feira Industrial, Comercial e Agropecuária de Tuparendi (Ficat), realizada no Parque Heinrich Fankhauser.
Umas das maiores estrelas da música pop no país, Luísa não recebeu cachê pelo show. Parte do lucro da bilheteria será destinada ao Hospital Tuparendi. Em conversa com a reportagem antes da apresentação, ela justificou:
— Ninguém precisou me convencer. Se me convidarem e eu puder, então vou retribuir. Já participei da Ficat quando era criança, como uma guria que estava ali brincando no parque. Em cidade de interior, (a feira) é um espaço de cultura e de promover a economia local. Então, como sei que posso ajudar, estou ajudando.
Aos 26 anos, Luísa voltou a se apresentar em sua terra com três álbuns lançados e números expressivos: 12 milhões de ouvintes mensais no Spotify e 2,8 bilhões de reproduções em seu canal oficial no YouTube (é a artista gaúcha contemporânea mais ouvida em ambas as plataformas). Seu disco mais recente, Escândalo Íntimo (2023), bateu recorde no Spotify Brasil e atingiu 15,6 milhões de reproduções em menos de 24 horas após o lançamento.
Só que tudo começou em Tuparendi. Dos sete aos 17 anos, Luísa viajou pelo Estado com a banda local Sol Maior (que também se apresenta na Ficat neste domingo). Com repertório variado (de Beatles a sertanejo), o projeto chegava a 20 apresentações por mês — o que incluía locais como igrejas, festas de casamento e, como ela relatou à revista Donna, até velório.
Luísa se projetou mesmo pelo YouTube, no qual ficou conhecida como "Rainha dos Covers" interpretando diversos hits. Chegou a ganhar um Prêmio Multishow de Música Brasileira na categoria Melhor Cover da Web. Mas logo se consolidou com seu trabalho próprio.
Show em casa
Antes do show na Ficat, Luísa jogou uma partida de futebol à tarde, com garotas que participam de um núcleo feminino da Academia Bello Centro — escolinha que ela se tornou patrocinadora. A cantora também recebeu uma homenagem da instituição.
Após a peleja, Luísa divulgou vídeos nos stories do Instagram em que, casualmente, andava a cavalo pelas ruas de Tuparendi, ainda vestindo a camiseta da Academia Bello Centro. Apenas mais um dia na vida da cantora. Aliás, Adilson Gilberto Farias, coordenador da escolinha e padrinho da artista, explicou antes para a reportagem:
— Sempre que a Luísa vem para cá, ela anda tranquilamente. É a cidade dela.
Essa impressão parece ser constante entre os conterrâneos que a reportagem ouviu na Ficat. Luísa comentou também sobre sua relação com Tuparendi:
— É a sensação de casa. O lugar onde vivi 17 anos da minha vida até me mudar para a cidade grande. Como boa parte dos jovens que vivem boa parte da vida aqui e depois vão procurar outra coisa fora.
De fato, o clima era caseiro no show realizado na Arena Sicredi, espaço para atrações musicais da Ficat. Havia familiares e amigos de infância de Luísa na plateia. Tanto que uma hora ela brincou que não faria a coreografia de Sentadona na frente de seus pais.
A apresentação de duas horas teve início às 22h25min, com o público ansioso antes de começar. “Começa! Começa! Começa!”, bradaram os fãs. Ou, então, entoaram o coro de “Luísa, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver”.
Era um show beneficente, mas Luísa levou sua estrutura possível: banda, cenário com escada e ponto elevado no centro, time com seis bailarinas e bailarinos e pirotecnia (fogos, fumaça e papel picado). Curiosamente, o mesmo palco recebeu no dia anterior o animado Baile da Terceira Idade com o Musical NGE & Cia — em que dez casais veteranos dançaram na pista.
Quando Luísa apresentou as primeiras músicas, o som parecia desregulado. A voz da cantora e o instrumental soavam estourados, mas o problema amenizou na sequência.
Tirando o percalço, Luísa fez o show competente de uma estrela: cantou, tocou guitarra, dançou, improvisou, conduziu e interagiu com a plateia. Aliás, entre o público, percebia-se uma mistura de balada sertaneja (havia até quem usasse chapéu country) e festa LGBT+ de diva pop. Qualquer que fosse a tribo, a resposta dos fãs era forte ao longo da apresentação — chorando, gritando, cantando junto ou dançando.
Mas era um show de reencontro de Luísa com sua Tuparendi. O que significava rever conhecidos — em mais de um momento ela citava algum amigo ou parente que via na pista. Ou também um acerto de contas, acionando um possível rancor canceriano:
— Oi, profê! Agora tu gosta de mim, né? Eu dava tanto problema na escola. Vocês falam bem de mim ou a verdade que não me suportavam? Falam bem? É isso aí, tem que mentir.
Na sequência, Luísa discorreu durante uns quatro minutos sobre seu tempo de escola e sobre uma orientadora que não gostava dela. Ainda, elogiou colegas que passavam cola.
Luísa também recebeu uma homenagem surpresa. Ao som de O Conto de Dois Mundos (Hipocrisia), a cantora observou no telão fotos e vídeos de sua vida em Tuparendi, o que a emocionou.
— Amo vocês! Saco, não gosto de chorar — disse, antes de tirar alguns segundos para respirar, como ela relatou.
Luísa trouxe a turnê de Escândalo Íntimo ao palco da Ficat, o que incluiu no repertório faixas como Sagrado Profano, Luísa Manequim, A Dona Aranha, Principalmente Me Sinto Arrasada e Chico (que tem o nome omitido na música, tornando-se “Se acaso me quiseres” no refrão). Outros hits da carreira entraram no setlist, como Modo Turbo, Hotel Caro e Coração Cigano. As melancólicas Penhasco e Penhasco2 vieram numa dobradinha.
Luísa atendeu pedidos e também emendou covers no palco, promovendo um bailão na Ficat. Começou com Majestade, o Sabiá, trazendo Roberta Miranda no telão. Depois foi a vez de Canto Alegretense, citando Neto Fagundes, e Céu, Sol, Sul, Terra e Cor, sucesso na voz de Leonardo. Ela escolheu a sempre aclamada Evidências, classificando o sucesso de Chitãozinho & Xororó como "hino nacional".
Na introdução de sua versão de Lança Perfume, de Rita Lee, Luísa pediu para o público agachar, e a maior parte dos presentes atendeu. Em uma explosão da música, todos saltaram.
Em uma volta no bis, a cantora emendou os covers de Boate Azul e 60 Dias Apaixonado. Nessa segunda música, Luísa alegou que estava esquecendo os versos da última estrofe da música. Perguntou se alguém na plateia sabia cantá-la. Com a resposta negativa, ela chamou seu pai, César Sonza, que entoou os versos.
Para finalizar o show, Luísa optou inesperadamente por repetir Evidências na parte do refrão, argumentando que seria um momento que gostaria de exibir em vídeo à dupla Chitãozinho & Xororó. Deixou subentendido que, em breve, deve ter um trabalho com os dois. Ou seja, mais um compromisso na agenda da cantora.
— É um momento que estou colhendo muitos frutos do que plantei. Tô curtindo bastante. Gosto muito de trabalhar, de fazer meu papel de artista em todos os âmbitos. Fico muito feliz de ser convidada e me destacar, de alguma maneira. Gosto de fazer jus a essa caminhada. Tento manter minha conduta e meus valores, buscando fazer meu melhor — comentou à reportagem antes do show.
Daqui duas semanas, ela canta no Palco Mundo, no Rock in Rio, no Rio de Janeiro — mesmo palco em que se apresentarão Shawn Mendes, Ne-Yo e Akon, além de ser no mesmo dia que Mariah Carey. Da Ficat para o Rock in Rio. De Tuparendi para o mundo.