No Top Brasil do Spotify, a canção Quem Não Quer Sou Eu, de Seu Jorge, figura entre as 10 músicas mais ouvidas. No entanto, há um detalhe que chama a atenção: a sigla MTG que acompanha o título, uma tendência que nos últimos meses tomou conta das redes sociais.
Artistas como Caetano Veloso, com a faixa Você Não me Ensinou a te Esquecer; Alceu Valença, com Morena Tropicana; e Tribalistas, com Já Sei Namorar, também tiveram músicas transformadas em funk brasileiro, ganhando destaque principalmente em plataformas como o TikTok e Instagram, nas quais os vídeos curtos são compartilhados e visualizados por milhões de pessoas.
O exemplo mais recente é o da música Chihiro, da cantora norte-americana Billie Eilish, que se tornou uma versão de MTG criada pelo DJ e produtor musical Mulú. Em apenas 12 dias, a versão recebeu 2,6 milhões de visualizações no TikTok e 3,8 milhões no YouTube.
Mas, afinal, o que é MTG?
MTG é uma abreviação para "montagem" — colagem de uma ou mais músicas, com novos ritmos e efeitos sonoros, que ganhou popularidade em Belo Horizonte, conforme a revista Billboard. Para se diferenciarem do funk produzido em São Paulo e no Rio de Janeiro, os DJs e produtores mineiros passaram a utilizar a sigla no título das faixas.
Embora não se caracterize como um estilo musical, a MTG faz parte da história do funk há muitos anos, como mostram as músicas Montagem Jack Caçador, Montagem do Sax e Montagem Power Rangers, sucessos das décadas de 1990 e 2000.
Direitos autorais
Com o crescimento da tendência nas redes sociais, entra em debate a questão dos direitos autorais. Alguns autores das gravações originais têm apoiado a iniciativa e encarado as novas versões como uma forma de alcançar outros públicos.
É o caso de Seu Jorge com a MTG Quem Não Quer Sou Eu, criada pelo DJ Topo e agora entre as mais ouvidas do Spotify Brasil. No TikTok, a versão da música original, lançada em 2011, já ultrapassou seis milhões de visualizações.
— Sempre gostei das músicas do Seu Jorge e estava querendo usar um vocal de MPB para uma MTG. Então, apareceu no meu TikTok um vídeo de uma menina usando a versão original como áudio. Na hora, pensei: "É essa!" — contou Topo ao g1.
Para conseguir lançar a versão, o DJ paulista e sua equipe foram atrás da liberação, concedida pela distribuidora MusicPro, que tem parceria com o selo Black Service, de Seu Jorge.
Dificuldade com liberação de canção de Billie Eilish
Cerca de uma semana depois de Billie Eilish lançar a música Chihiro, faixa do álbum Hit Me Hard And Soft (2024), o DJ e produtor musical Mulú decidiu transformar a versão da norte-americana em um beat de funk.
No X (antigo Twitter), ele contou que sempre teve paixão por criar remixes para tocar como DJ, mas não esperava o alcance da MTG Chihiro nas redes sociais. Frente a pedidos de liberação da versão no Spotify, Mulú explicou que a situação não era tão simples. "No SoudCloud e YouTube, posso publicar músicas sem monetização, mesmo que sejam remixes não oficiais. Não há lucro com o trabalho de outros artistas. No Spotify, porém, a monetização é automática. Subir a MTG lá seria como se estivesse 'roubando' $ da Billie Eilish, o que poderia levar à remoção da música ou do meu perfil com minhas músicas originais e até mesmo a processos", escreveu.
Dessa forma, o DJ decidiu enviar um pedido formal à Universal Music solicitando liberação para o lançamento da MTG. "Paralelamente, pedi a um amigo DJ gringo que enviasse o remix para o Finneas, irmão e parceiro da Billie Eilish. Ele curtiu a música, mas ainda não respondeu à minha solicitação de autorização por DM."
Após o contato com os empresários de Billie e a música ter chegado aos artistas, a resposta foi de que eles não estariam interessados em autorizar nenhum remix para as músicas da cantora.
A MTG Chihiro até chegou a ser incluída no Spotify; porém, por DJs que não têm direitos sobre a faixa. Ao g1, Mulú contou que um perfil falso conseguiu driblar as exigências da plataforma substituindo os vocais de Billie e alguns instrumentos da música.
"Desde o início, optei por seguir o caminho legal e pedir autorização para o lançamento. Porém, oportunistas distribuíram meu remix ilegalmente, lucrando com minha criação", contou ele nas redes sociais.
Outros exemplos de MTG:
*Produção: Rayne Sá