Lara Rossato já havia dado uma entrevista para a revista Donna em 2016. Na época, a cantora interiorana tentava a sorte em Porto Alegre. Em seu repertório, habitavam Beatles, Led Zeppelin e Pink Floyd, além de suas canções autorais. Corta para 2024. Uma Lara bem diferente pode ser encontrada nos palcos e nas redes sociais — por lá, somando as principais plataformas, a gaúcha está fazendo sucesso, com quase 350 mil seguidores.
Lara praticamente não transita mais por aquela estética mais rock'n'roll — apesar de afirmar ainda ser roqueira. Nos últimos anos, ela passou por uma repaginada e assumiu o seu lado gaudério, seguindo, de acordo com ela própria, as suas verdadeiras raízes. Nascida em Dom Pedrito, na fronteira com o Uruguai, a guria cresceu na lida campeira, indo a cavalo para a escola e frequentando rodeios.
— Quando estava em Porto Alegre, trabalhava com o que aparecia para ganhar dinheiro e me sustentar, com pop, com rock e fazendo barzinhos. Fazia isso porque a música gaúcha, na Capital, é muito restrita. Mas sempre que podia, colocava músicas gaúchas nos bares, fazendo versões ou um pouco mais rock ou um pouco mais pop — relembra.
Depois de sair de sua cidade natal aos 17 anos, a artista foi morar em Pelotas, formou-se em Biologia, passou a tentar fazer decolar a sua carreira artística na Capital, mas, durante a pandemia, decidiu retornar para Dom Pedrito. Foi neste período que Lara decidiu fazer a transformação em sua carreira. Além de colocar os holofotes na simplicidade fronteiriça, decidiu apostar as suas fichas na música regionalista.
— Depois que eu voltei para Dom Pedrito, para a zona rural, decidi que não iria mais ficar correndo atrás de só ganhar dinheiro. Decidi assumir esse meu papel de quem eu realmente sou. Não adiantava eu tentar dizer que era da Capital, porque eu sou daqui (Dom Pedrito), me criei aqui e tenho um amor muito grande, uma ligação emocional, com o pampa gaúcho. Essa paisagem é que me inspira, que eu amo. É uma paixão que não tem como explicar — ressalta a artista.
Simplicidade
Neste retorno às origens, Lara começou a produzir conteúdo mais focado em seu dia a dia no campo. Para a surpresa da artista, o seu público começou a se interessar pelos animais e pelo cotidiano mais simples do Interior — chamava a atenção tanto de quem não conhecia aquela realidade quanto de quem migrou para a cidade e sentia saudade do Pampa.
Assim, o trabalho começou a se popularizar e Lara passou a conquistar mais seguidores. De acordo com ela, os fãs realmente queriam algo mais genuíno do que a "vida perfeita" que alguns influenciadores que habitam as redes sociais dão a entender que têm:
— Comecei a criar conteúdo falando do meu lugar, dos bichos, do vento minuano, do chimarrão, tudo do mais simples. Foi aí então que surgiram os conteúdos mais humorísticos, como os dos sotaques, que eu faço pensando a representatividade. O sotaque do inglês, por exemplo, as pessoas falam que na Inglaterra é de um jeito e nos Estados Unidos é de outro. Não víamos fazer isso com o sotaque gaúcho.
Este tipo de conteúdo, por sinal, em que a artista fala sobre o Estado com humor, não raramente viraliza de maneira orgânica, com os seguidores se identificando e compartilhando. Ela já apontou as diferenças entre os sotaques dos gaúchos, imaginou como seriam as princesas da Disney se fossem do Rio Grande do Sul e até fez um divertido vídeo criticando quem inventa de colocar ingredientes variados, como chocolate e leite condensado, no chimarrão. Sucessos.
— Desde criança, sempre fui muito artista. Brincava muito de atuar, de ser uma atriz. Sempre gostei dessa coisa. Então, para mim, é muito fácil fazer caras e bocas na câmera, brincar. Eu gosto do humor e, na internet, eu também entendo que as pessoas querem, depois de um dia cansativo, ver alguma coisa que as represente ou que as faça rir um pouco, descontrair — conta.
Ao entender o que o seu público tinha interesse de acompanhar, mas dentro de suas raízes, Lara passou a entregar este tipo conteúdo, porém, sem deixar a música de lado. Ela segue compondo com a marca gaudéria, "mas nada muito campeiro", pois queria ter um diferencial em suas letras. A cantora, que está constantemente lançando singles, gosta de entregar também vídeos explicando a origem da música, aprofundando a experiência das canções.
Atualmente morando entre Dom Pedrito e Curitiba (PR) — onde tem demanda de shows —, Lara foi convidada para participar do festival Salve o Sul, ao lado de grandes nomes da música nacional, como Luísa Sonza, Ludmilla e Armandinho. É este reconhecimento que a artista realmente procura:
— Eu quero ser conhecida como cantora, não como influencer. Eu tenho essa meta porque é isso o que eu faço há muito tempo e é isso que eu amo.