Amigos e artistas lamentam a morte do produtor musical Ayrton dos Anjos, o Patineti. Considerado um dos maiores produtores fonográficos da história do Rio Grande do Sul, ele faleceu na manhã deste domingo (16), em decorrência de complicações de saúde.
Nascido em Porto Alegre em dezembro de 1941, Patineti atuou por mais de seis décadas na música. Foi também radialista, organizador de festas e festivais, vendedor de discos, representante comercial de gravadoras.
— Tenho por ele muita gratidão e sentirei saudade dos Grandes Encontros que ele adorava realizar. Falar do Ayrton é contar a nossa própria história — relata Neto Fagundes, que conta ter acordado com a "triste notícia da partida de Ayrton".
O artista explica que Patineti também havia trabalhado com seu tio, Nico, e seu pai, Bagre Fagundes. Com o passar do tempo, portanto, o produtor musical acabou se tornando um amigo da família.
— Conheci o Patineti participando do filme O Grande Rodeio, produzido e estrelado pelo tio Nico com a participação do meu pai, Bagre Fagundes. Quando participei pela primeira vez da Califórnia da Canção, ele era responsável pela gravação do disco. Logo depois, convidou o Tio Nico para apresentar o Galpão Crioulo e lançou o meu primeiro disco. Um cara diferenciado, amigo da minha família — resume.
O músico João Luiz Correa relembra a atuação de Patineti na Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus), entidade que defende os direitos autorais dos artistas da música, da dramaturgia e das artes visuais:
— Ele trouxe a Abramus para cá (Porto Alegre). Ele encabeçou isso e cuidou dos nossos direitos autorais. Ele era uma pessoa de confiança. Sempre cuidou com muito carinho dos direitos autorais de todo mundo. Estava sempre ligando para saber se estávamos de acordo. Ele ajudou muitos artistas. Ele vai fazer muita falta. É uma perda irreparável. Vamos rezar para que Deus dê o descanso eterno para ele e agradecer pelo feito dele, pelo que ele fez por nós, pela música. Ele tinha a música gaúcha na ponta da língua. Ele sempre dizia que a música gaúcha é muito boa. E ele tinha propriedade para falar isso.
A Abramus também se manifestou, publicando nota nas redes sociais.
O legado
O jornalista e escritor Márcio Pinheiro, que escreveu a biografia Ayrton Patineti dos Anjos – Lembranças, Sons e Delírios de um Produtor Musical (Editora Plus, 2018) ao lado de Roger Lerina, avalia que Patineti "vai fazer falta" no cenário musical do Estado. O biógrafo destaca que Patineti conseguia trabalhar com os estilos mais diversos, desde músicas tradicionais até rock.
— Patineti foi uma das figuras mais originais da música feita no RS. Esteve em quase todos os movimentos dos últimos 50 anos. Teve participação decisiva em tantas carreiras, como as de Borghettinho, Bebeto Alves, Geraldo Flach, Jorge André Brittes, Victor Hugo. Ele circulava em todos os sons: era amigo de roqueiros, nativista, sambistas. Vai fazer falta — comenta Pinheiro.
Entre outros nomes produzidos por Patineti também estão Os Serranos, Luis Carlos Borges, Elton Saldanha, Luiz Marenco, João de Almeida Neto, Berenice Azambuja, Rui Biriva, Os Monarcas, Chimarruts e Fresno. Ele ficou conhecido por lançar nomes do Rio Grande do Sul, como Bebeto Alves e Renato Borghetti, pelo Brasil.
— Impossível dizer quantos trabalhos ele fez. Ele circulava por várias áreas e estilos. Ele foi um produtor que acreditou na riqueza da produção musical do RS — diz o biógrafo sobre o legado deixado pelo produtor musical.
Com uma trajetória premiada, Patineti também foi defensor dos tradicionais festivais de música e um dos responsáveis por criar o projeto do programa Galpão Crioulo e por batizar a MPG (Música Popular Gaúcha).
Veja homenagens a Patineti
Assim como Neto Fagundes e João Luiz Correa, diversos artistas lamentaram a morte de Patineti e usaram as redes sociais para prestar homenagens. Os músicos da banda Vera Loca, que contaram com o apoio de Ayrton para lançamento de álbuns, definiram o produtor musical como "um grande amigo" e alguém "apaixonado pela música feita aqui no Sul". Já a cantora Shana Müller destacou que ele era "alegre, positivo, incentivador, apaixonado pela vida".
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