Em momentos de calamidade pública, a classe artística lamenta que é uma das primeiras a perder a fonte de renda e uma das últimas a conseguir voltar à ativa. Por isso, neste momento delicado enfrentado pelo Estado, as atividades que fazem girar a economia criativa são essenciais. Neste processo, uma importante engrenagem são os festivais nativistas — e boa parte deles está confirmada para ocorrer ainda neste ano.
Um dos próximos a ser realizado é o Carijo da Canção Gaúcha, que entregará ao público a sua 37ª edição entre 23 e 30 de junho, no Parque de Exposições Telmo José Schardong, em Palmeira das Missões, no noroeste do Estado. Inicialmente, o evento ocorreria de 19 a 26 de maio, mas foi adiado por conta da enchente no RS. As inscrições já foram finalizadas e, entre os shows confirmados, estão nomes como Renato Borghetti e Elton Saldanha.
— Queremos garantir que as pessoas possam, através do seu trabalho, gerar renda. Sejam músicos, o pessoal que faz a sonorização, quem trabalha com o comércio, quem vende alimentação, entre outros — explica o prefeito de Palmeira das Missões, Evandro Luís Massing.
— A gente sabe, inclusive, de muitos músicos que foram atingidos, pessoas que foram atingidas e que vão estar nos palcos do Carijo, vão estar nos bastidores, trabalhando e começando a retomar a sua vida. A cultura tem esse papel importante de ajudar a gente a superar esse momento de luto que nós vivemos no Estado — completa o mandatário.
Com entrada gratuita, o Carijo, que conta com recursos da Lei Rouanet, é um dos principais festivais do Estado, movimentando, durante uma semana, mais de 100 mil pessoas em Palmeira das Missões. Segundo o prefeito do município, o evento é tão importante quanto o Dia das Mães, pelo aquecimento do comércio no geral. Atentos à situação do Estado, haverá um dia de arrecadação de doações, no sábado de 29 de junho, para apoiar os afetados pela enchente.
Também às vésperas de ser realizada está a 30ª Tafona da Canção Nativa, que está inserida na programação do 40º Rodeio Crioulo, em Osório. Ambos os eventos foram atrasados algumas semanas e serão realizados de 26 a 30 de junho — a data inicial era de 29 de maio a 2 de junho. A iniciativa, além de movimentar a cena da música, ainda reverterá a venda de ingressos para as cidades afetadas pelas cheias.
Esperando por incentivo
Prevista para ocorrer entre 30 de julho e 3 de agosto está a 44ª edição da Coxilha Nativista. E os organizadores não têm dúvida: o evento vai ser realizado. Entretanto, o tamanho ainda é uma incógnita — depende da Lei Estadual de Incentivo à Cultura (LIC) para entender até onde pode ir. Se o projeto for aprovado, haverá mais atrações e uma ala competitiva maior, com mais recursos. Caso não venha a verba do mecanismo, o evento será menor. Com, provavelmente, a metade do que está sendo previsto.
— Hoje, este mecanismo é imprescindível para o retorno dos festivais. A Coxilha, inclusive, já tem os seus patrocinadores garantidos para a captação com a LIC. E temos uma particularidade: a mostra paralela Coxilha Instrumental, que tem projeto de Rouanet, já aprovado e captado. Mas toda a parte competitiva está dentro da LIC — destaca o produtor da Coxilha Nativista, João Bosco Rodrigues, reforçando que cada edição do festival movimenta entre 200 e 300 músicos.
Também com dúvidas sobre a dimensão que o evento terá, o presidente da Moenda da Canção garante que, sim, o festival irá ser realizado, nos dias 9, 10 e 11 de agosto, dentro da Feira Nacional da Cana-de-Açúcar, Rapadura, Sonho e Arroz (Fenacan), de Santo Antônio da Patrulha. A questão é saber se a 37ª edição da atividade cultural será contemplada pela LIC — o projeto foi submetido e, agora, aguarda resposta. As inscrições serão abertas na próxima segunda-feira (10) e seguirão até o dia 30.
— A LIC é muito importante para que a Moenda saia, mas, de um jeito ou de outro, vamos fazer. Talvez não tão grande. Queremos manter o evento em prol da nossa classe produtiva e cultural. Realmente, ficar sem os festivais, hoje, é algo que a gente nem imagina no Estado — ressalta o presidente da Moenda, Nilton Jr. — Santo Antônio da Patrulha foi uma das cidades que teve o privilégio de não ser atingida pela cheia e, por isso, queremos fazer da festa também um festival solidário, arrecadando donativos.
A Califórnia da Canção Nativa, que também é um dos principais festivais do Estado, ocorrerá entre 11 e 14 de dezembro, em Uruguaiana — as inscrições começam em 10 de outubro vão até 10 de novembro. De acordo com Maxsoel Bastos, que é membro da comissão de realização do evento, esta edição não será apenas grandiosa como sempre foi, mas, neste ano, a ideia é aumentá-la.
Por isso, o projeto também foi submetido à LIC. Caso seja aprovado, as pretensões são grandes, com shows de renomados artistas gaúchos e também de uma atração internacional — vinda diretamente da Argentina ou do Uruguai. Ainda estarão presentes nomes locais levando cultura para os participantes.
— Muitos músicos gaúchos perderam os seus instrumentos, que são usados como sustento da família. Então, é importante que a Califórnia se realize como uma forma não só de distribuição de cultura, mas também como uma fonte de distribuição de recursos para essa classe de músicos que foi tão afetada. E também tem os técnicos, os fornecedores. É toda uma cadeia envolvida com a realização da Califórnia — ressalta Bastos.
Procurada pela reportagem, a Secretaria da Cultura (Sedac), por meio de sua assessoria de imprensa, afirmou que ainda nesta semana divulgará um novo cronograma para dar seguimento ao processo da LIC.