Fresno nunca foi embora. Apesar de haver um revival do emo nos últimos anos, com grupos se reunindo e muita gente declarando amor pelo estilo, a banda fundada em Porto Alegre permaneceu ativa. Estava ali, sempre com seu séquito de fãs, renovando o repertório e expandindo sonoridades, mas sem deixar de lado aquele rock triste.
Neste sábado (3), a Fresno ficou encarregada de abrir os trabalhos no Palco Planeta. Lucas Silveira (vocal e guitarra), Gustavo Mantovani (guitarra) e Thiago Guerra (bateria) tomaram posição às 17h. Sob sol forte e muito calor, a banda realizou um show maduro e arrebatador.
Após mais de duas décadas (completará 25 anos em dezembro), a Fresno parece sobreviver ao teste do tempo. Um exemplo está na turnê do último disco, Vou Ter Que Me Virar (2021): além de encher casas pelo país, boa parte do repertório era composto por faixas do trabalho mais recente, que estava na ponta da língua do público. Agora, quais grupos ou artistas surgidos no RS, após 20 anos de estrada, conseguem o mesmo impacto com as músicas novas?
A banda abriu o segundo dia questionando o que fazer quando não estão mais nem aí para você. A resposta veio em seguida: “o que precisar se encontra em você”. Era o hit Quebre as Correntes, lá do Ciano (2006), colocando os primeiros planetários para cantarem também.
— Promete que não vai chorar hoje? — indagou Lucas, referenciando a letra da música. — Eu não prometo.
O baile seguiu com Natureza Caos, com seu ótimo refrão: “E hoje eu sei/ Do que nós dois somos feitos/ Mas custo admitir que eu não sou capaz/ De aceitar que a nossa natureza é o caos”
Com Redenção, rolou aquela micareta emo para o público tirar o pé do chão. A Fresno já emendou Porto Alegre, com os planetários fazendo coro. E, como se fosse um pot-pourri, a épica e dramática Diga, Parte 2.
Ao final dessa trinca, Lucas cortejou os planetários:
— Saudações, meu festival preferido. Oi, sumidos!
Uma característica marcante de Lucas, aliás, é seu carisma como showman, bastante interativo e espirituoso. Antes de Agora Deixa, marcada pela suavidade e as batidas eletrônicas, por exemplo, ele sentenciou:
— Vamos exalar a sensualidade agora. Prestem bem atenção.
O clima sensual, como observou Lucas, seguiu com a dançante Cada Acidente. Na sequência, um novo pot-pourri com uma trinca de clássicos, que estavam bastante frescas na memória dos planetários: Infinito, que dá título ao disco de 2012; Deixa o Tempo, do Revanche (2010); e também do mesmo álbum da anterior, Eu Sei, que fez os planetários cantarem com emoção.
Laboratório
Para a Fresno, o show no Planeta também serviu como um laboratório para a futura turnê do Eu Nunca Fui Embora, décimo álbum da banda previsto para sair nos próximos meses. Dentro desse laboratório, uma grata adição à banda no palco foi a percussionista Juba, que incrementou a cozinha sonora da Fresno.
O primeiro single dessa nova era, Eu Nunca Fui Embora, saiu em novembro e entrou no setlist do festival — e foi bem recebido pelos planetários.
A Fresno trouxe, a seguir, a animada Já Faz Tanto Tempo, que fez o Planeta sair do chão como se fosse carnaval (carnavemo?). Então, vez do hit Desde Quando Você Se Foi, dando sequência ao bloco para tirar o pé do chão.
Por fim, a Fresno encerrou a apresentação com a catártica Casa Assombrada, do VTQMV. Foi simbólico: era um hit recente, fresco na cabeça dos planetários e entoaram o refrão com firmeza: “A minha casa é assombrada/ São meus esses fantasmas/ Por onde quer que eu vá/ Comigo sempre vou levar/ Prometo que não vão te atacar”. Coisa de quem nunca foi embora.