Nenhum show do Red Hot Chili Peppers é igual ao outro. Quem for um dos 45 mil felizardos previstos para comparecer ao espetáculo da banda californiana em Porto Alegre, nesta quinta-feira (16), não verá uma repetição de apresentações anteriores. Com constantes improvisos e surpresas no repertório, cada experiência do RHCP é ímpar.
Anthony Kiedis (vocalista), Flea (baixista), Chad Smith (baterista) e John Frusciante (guitarrista) sobem ao palco da Arena do Grêmio às 21h. Os ingressos estão esgotados desde março. A abertura, a partir das 19h, fica com as bandas 69enfermos e Irontom (cujo guitarrista é Zach Irons, filho de Jack Irons, ex-baterista do RHCP).
Será a segunda vez do quarteto apimentado na capital gaúcha: a primeira vinda foi em 2002, com show da turnê By the Way, que lotou o Gigantinho. Desta vez, eles voltam com a Unlimited Love Tour.
Porto Alegre é a última parada do braço brasileiro da turnê — o grupo já passou por Rio de Janeiro, Brasília, São Paulo e Curitiba. Pelo que se viu até aqui, cada setlist é distinto.
Consequentemente, a experiência pode ser frustrante para aqueles fãs que vão pelos hits. A clássica Under the Bridge, para exemplificar, ficou de fora dos shows de Curitiba e Brasília. Há vezes em que Scar Tissue não entra. Ou em que Otherside é ignorada. A animada Can't Stop pode ser deixada de lado. Dani California? Quem sabe. Pode não ter o momento em que Frusciante canta algum cover. Ou, então, o guitarrista pode ter dois momentos solo. De repente, Flea solta o gogó em PEA, do álbum One Hot Minute (1995).
Tudo pode acontecer. Até aqui, o que tem se garantido no repertório da turnê é a trinca Californication, By the Way e Give it Away. O single noventista Soul to Squeeze também tem marcado presença, assim como a recente Black Summer. Apesar dos 40 anos de estrada do RHCP, os shows costumam contemplar as músicas lançadas a partir dos anos 1990. No entanto, as apresentações sempre trazem alguma joia desenterrada da discografia da banda, como Wet Sand, de Stadium Arcadium (2006). Aqueles mimos para os fãs mais ardentes.
Fator Frusciante
No palco, o quarteto tem se mostrado entrosado e vibrante. Mesmo utilizando bota ortopédica, Kiedis ainda dá seus pulos e rodopia. Chad segue garantindo a cozinha e visivelmente se divertindo. Carismático, Flea esmerilha o baixo como sempre. E Frusciante é um show à parte — costumeiramente improvisando nos solos, distinguindo-se do que foi gravado em estúdio e tornando única cada apresentação.
A volta de Frusciante talvez seja o principal apelo desta turnê. O guitarrista retornou à banda em 2019, após 10 anos afastado. Quando saiu, enfrentava problemas mentais. Antes, o instrumentista havia deixado o RHCP em 1992, mas voltou seis anos depois.
Enquanto ele esteve fora na última década, Josh Klinghoffer assumiu a guitarra. Com o substituto, o RHCP gravou I'm With You (2011) e The Getaway (2016). Curiosamente, as faixas desses álbuns não têm entrado no repertório. Apesar dos trabalhos serem positivos, boa parte do público sentia a ausência de Frusciante.
Em entrevista ao programa Howard Stern Show, em 2022, o guitarrista explicou seu retorno ao grupo:
— Sinto que mudei e amadureci o suficiente como pessoa. Compreendi que seria lindo buscar uma nova chance de fazer as coisas do modo certo tanto no nível pessoal quanto no musical. Tinha novas ideias sobre aonde nosso relacionamento poderia chegar. Passei a ver os três com olhos diferentes em comparação a quando saí.
Contando com Frusciante novamente, a banda lançou dois álbuns no ano passado: Unlimited Love, em abril, e Return of the Dream Canteen, em outubro. Ambos os trabalhos foram gravados nas mesmas sessões de estúdio, entre 2020 e 2021, com produção do lendário Rick Rubin — notório parceiro do RHCP. Nos shows da turnê, algumas faixas dos dois discos costumam entrar no repertório, com um pouquinho mais de inclusão de Unlimited Love.
Amparado por seu funk rock incrementado por um pop melódico, flertando com o jazz e o psicodélico, o Red Hot se mantém criativo e em sintonia no palco. Quem for à Arena do Grêmio nesta quinta verá uma banda ímpar. Que, às vezes, parece fazer o show para si mesma. Mas que segue proporcionando momentos apimentados.