Há 21 anos, a banda californiana Red Hot Chili Peppers desembarcou em Porto Alegre. Diante de milhares de pessoas, eles fizeram o Gigantinho arder no dia 14 de outubro de 2002. Além do show, o quarteto — Anthony Kiedis (vocal), Flea (baixo), Chad Smith (bateria) e John Frusciante (guitarra) — curtiu a cidade: foram a restaurantes clássicos, loja de CDs e até passeio na Redenção.
O grupo volta à capital gaúcha nesta quinta-feira (16), com apresentação marcada para a Arena do Grêmio. Desta vez, o RHCP traz a Unlimited Love Tour, que tem rodado o Brasil com shows misturam nostalgia e novidades.
Na turnê, os integrantes têm sido vistos em rolês aleatórios — especialmente Chad Smith, que já tocou com banda cover e foi até em show de Jorge e Mateus. Ainda não há informações sobre qual será o roteiro dos quatro por Porto Alegre, mas GZH recupera relatos de 2002.
Contexto
Em 2002, o grupo veio a Porto Alegre com a turnê By the Way, disco lançado naquele ano. Além da faixa-título, o álbum traz petardos como The Zephyr Song, Can't Stop, Universal Speaking e Don't Forget Me, que até hoje costumam integrar o repertório, vez ou outra.
Antes de virem a Porto Alegre, os californianos pediram informações sobre restaurantes vegetarianos, cinemas, shopping centers e supermercados "limpos e novos" da cidade.
Chegada e chalaça
Sob forte esquema de segurança, a banda desembarcou no aeroporto Salgado Filho às 18h do dia 13 de outubro — um domingo. Por lá, dezenas de fãs os aguardavam, mas a saída do aeroporto foi apressada, com o grupo partindo em duas vans rumo ao hotel Sheraton, no Moinhos de Vento.
Logo ao chegar, eles subiram direto para os quartos e, por volta das 19h30min, desceram para o lobby. De fora, os fãs gritaram, especialmente quando viram através da porta giratória Anthony Kiedis.
Depois, os quatro músicos e parte da equipe de produção, sempre acompanhados de seguranças, foram jantar no restaurante e churrascaria Santo Antônio, localizada na Rua Doutor Timóteo. Após a janta, às 21h, retornaram para o hotel.
Por outro lado, Chad Smith foi parceiro de farra da galera da Comunidade Nin-Jitsu, que faria o show de abertura. Eles confraternizaram no bar do hotel. De acordo com a produção, o californiano e os gaúchos vararam a madrugada de segunda batendo papo e bebendo, liquidando o estoque de cervejas do bar.
Mais detalhes sobre esse encontro podem ser conferidos no episódio 11 da primeira temporada do podcast Eu Quero Ser Seu Amigo de Novo (veja abaixo). Na entrevista, o guitarrista Fredi Chernobyl, da Comunidade, dá detalhes sobre os dias que antecederam e sucederam a noite do show.
Um pulo na loja de CDs
Na tarde do dia seguinte, a loja Banana Records, que era localizada no bairro Bela Vista, teve as portas fechadas durante uma hora para atender Anthony Kiedis com exclusividade. O vocalista comprou uma enorme lista de CDs e boxes especiais, gastando cerca de R$ 1 mil na loja.
A coluna Contracapa, de Roger Lerina, divulgou alguns CDs escolhidos por Kiedis (confira na imagem ao lado). Por aqui, ele aproveitou para levar muitos trabalhos de música brasileira, o que incluiu nomes como Cassiano, Chico Science & Nação Zumbi, Tim Maia, Orlando Silva, Jamelão, Banda Black Rio, o clássico Tropicália, entre outros.
Na saída, o cantor não deu autógrafos nem conversou com um grupo de fãs que o aguardava. Quem tentou tirar foto com ele, ouviu: I'm sorry, I can't (Lamento, mas não posso, em tradução livre).
Na mesma tarde, ele "puxou peso na academia do hotel, sozinho, e muito disciplinado", como descreveu a RS Vip, então coluna social de Zero Hora.
Abertura
Tocando hits como Arrastão do Amor e Detetive, o show de abertura da banda Comunidade Nin-Jitsu conquistou o público e os próprios integrantes do RHCP.
— O Chad disse que, dificilmente, eles encontram uma banda de abertura tão boa — assegurou Fredi.
Show quente
O texto do show publicado por Zero Hora aponta que a banda californiana esbanjou "carisma, coesão e competência", em uma "apresentação equilibrada, que teve plena aprovação do público, formado em sua maioria por adolescentes". Também há relatos de que a temperatura no ginásio estava elevada, não só pela performance do grupo — foi como se fosse o auge do verão.
O RHCP abriu com By the Way, que deu a tônica do show: a variação entre o funk rock e o pop melódico. No repertório, entraram Otherside, Suck my Kiss, Scar Tissue, Californication, Give It Away, entre outras. No bis — em que Chad voltou dos bastidores vestindo a camiseta número 9, de Ronaldo, e gritou "Brasil" —, rolou Under the Bridge e Me and my Friends.
A publicação aponta também que a banda brilhou individualmente. "Kiedis é um frontman clássico, com performance intensa e vocais na medida. Smith foi um dínamo, enquanto Flea esmerilhou seu baixo, infelizmente prejudicado pela acústica imperfeita do ginásio", aponta a matéria.
Mas Frusciante é quem foi decisivo: "Mostrou versatilidade de timbres, arrasou nos solos, cantou bem — enriquecendo melodicamente os refrãos —, injetou energia em canções menos conhecidas do novo álbum e apimentou ainda mais os melhores momentos".
Copacabana e Redenção
No dia seguinte, alguns integrantes da banda aproveitaram a estada em Porto Alegre para conhecer a cidade. Eles embarcariam para o próximo show, em Buenos Aires, às 21h de 15 de outubro de 2002.
Frusciante e Flea almoçaram no histórico Restaurante Copacabana. Conforme informações da coluna Contracapa, o menu contou com massas, cordeiro e um pedido especial: risoto de congro, que não tinha no cardápio da casa e precisou ser feito às pressas. Para beber, apenas água e suco de laranja. Na entrada, foram servidas berinjelas.
Depois, esticaram as pernas até a Redenção. Em um diário de viagem que era publicado no site oficial da banda, Flea comentou sobre a experiência:
"Caminhei num parque em Porto Alegre. Tentei subir em um grande tobogã no playground, mas um cara veio e gritou comigo em português. Eu pensei que ele ia bater em mim, então desisti. Antes, eu comi com meus faixinhas num restaurante italiano legal e o proprietário era um simpático velhinho que tirou fotos com a gente. Stella (seja lá quem for) disse que queria agarrá-lo".
Sobre o show, o músico escreveu: "O povo foi inacreditável. Incrível. O melhor de todos. Certamente um dos melhores públicos de ginásio que eu já vi. Foi como se o grande e velho ginásio fosse um daqueles clubes pequenos dos velhos tempos quando começamos, as pessoas simplesmente deliraram o tempo todo. Whooooooo Hoooooo".