Celebrando 40 anos do álbum Voo de Coração e de sua trajetória solo, Ritchie volta a Porto Alegre. Ele sobe ao palco do Teatro do Bourbon Country nesta sexta-feira (20), a partir das 21h, com a turnê A Vida Tem Dessas Coisas.
Richard David Court, mais conhecido como Ritchie, nasceu em Beckenham, na Inglaterra, em 1952. Ele desembarcou em São Paulo aos 20 anos, a convite de um grupo de brasileiros, como Rita Lee e Liminha (integrantes de Os Mutantes). No país, o britânico integrou alguns projetos musicais, chegando a ser vocalista da banda de rock progressivo Vímana, acompanhado por Lobão na bateria e Lulu Santos na guitarra.
Em 1982, ele começou a preparar seu primeiro trabalho solo em português. Para isso, buscou a parceria do poeta e compositor Bernardo Vilhena. Dentre o repertório criado com o parceiro estava Menina Veneno, que teve seu primeiro clipe gravado em Porto Alegre, como um musical que integrou o bloco gaúcho do Fantástico.
Antes que a música fosse lançada oficialmente, um divulgador a levou para ser testada em uma rádio de Fortaleza (CE). Só que o single foi erroneamente tocado no ar e, imediatamente, virou coqueluche entre os ouvintes. Organicamente, Menina Veneno se alastrou.
Mas Voo de Coração não era só Menina Veneno. Foi um disco que trouxe informação musical inédita ao Brasil, com foco no uso de sintetizadores e inspirações no synthpop e uma tradução do New Romantic inglês para a realidade brasileira.
No disco, Ritchie contou com participação de nomes do porte de Liminha, Lulu Santos, Lobão, o saxofonista Zé Luis e o ex-guitarrista do Genesis, Steve Hackett. Lauro Salazar foi o responsável pelo piano e pelos sintetizadores, o que dá aquela sonoridade tecnopop oitentista do álbum.
É um trabalho que vislumbrava o futuro, apresentando conceitos de romances intermediados pela tecnologia da época (Pelo Interfone) e musas que surgem em imagens holográficas como a faixa-título, Voo de Coração. Outro destaque era Casanova, que foi tema de abertura da novela Champagne, da Globo.
No livro Dias de Luta: o Rock e o Brasil dos Anos 80, o jornalista Ricardo Alexandre aponta que Voo de Coração vendeu no país o dobro do que Thriller, megasucesso de Michael Jackson. O cantor circulou o território brasileiro de Norte a Sul, realizando apresentações em locais que, naquele momento, não estavam preparados para receber qualquer atração musical.
— Fui abrindo a machadadas os shows pelo país — recorda Ritchie. — Tocávamos em cidades que nunca tinham ouvido uma guitarra elétrica. Locais com pouca estrutura. Não havia equipes. Abria caminhos para as outras bandas tocarem, ralando muito.
No entanto, Ritchie admite uma chateação com a falta de reconhecimento nesse quesito. Ele também lamenta ter ficado de fora do circuito do rock brasileiro dos anos 1980, por conta de ter um apelo popular.
— Você não pode fazer sucesso popular no Brasil, isso é crime! Tem que pagar o preço, que é o ostracismo. “Ah, mas o Ritchie não é rock”. Sou sim, mas não era percebido como tal porque era consumido por um público popular. Era classificado como outra coisa. Senti isso na hora que escolheram os artistas para o Rock in Rio, que não fui chamado, mas usaram minha imagem para divulgar o festival — queixa-se.
Por outro lado, Ritchie brinca que Menina Veneno tocou tanto que se tornou o suplício de muita gente:
— Tinha uma época que se você fosse habilidoso e mudasse o dial do rádio, ouviria a música em diferentes estações, 12 horas por dia. Em alguma rádio estava tocando.
Música e mágica
Além das músicas de Voo de Coração, Ritchie também deve embalar o público que for ao Teatro do Bourbon Country com faixas de outros trabalhos, como A Mulher Invisível e Transas. Ele estará acompanhado no palco por Eron Guarnieri (teclado e vocal), Igor Pimenta (baixo), Renato Galozzi (guitarra, violão e vocal), Hugo Hori (saxofone, flauta e vocal) e Luiz Capano (bateria).
A direção de arte da turnê é assinado por Alexandre Arrabal e Kiko Dias, que trabalham com a tecnologia atual para reforçar o lado visionário de Ritchie. Algo reforçado pela iluminação de Césio Lima, nome por trás da luz/fotografia de shows nacionais e internacionais no país. O músico acrescenta que há uso de inteligência artificial para gerência de imagens e ainda de hologramas na abertura do show.
Segundo Ritchie, espetáculo é a palavra que define o que ele trará a Porto Alegre. É a primeira vez que está trabalhando com direção artística. Para essa turnê comemorativa, o cantor quis reunir seus interesses — como cinema, teatro e até mágica.
— Antes de ser músico, eu queria ser mágico. Nos meus 15 anos, fazia apresentações em clubes de sargento e coisas assim, com minha irmã. Sempre tive um fascínio pela mágica. Até que ouvi Beatles, aos 13, e vi que essa era a mágica que eu queria fazer — relata.
Ritchie sublinha que, no show, quer trazer os efeitos de palco da mágica para a música. Algo que faça as pessoas suspenderem suas crenças por um momento.
— O público diante do palco vai dizer: “Que porra é essa que estou vendo na minha frente?” (risos).
Ritchie — A Vida Tem Dessas Coisas
- Nesta sexta-feira (20), a partir das 21h, no Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80).
- Abertura da casa: 20h.
- Ingressos a partir de R$ 115. Clube do Assinante RBS: desconto de 50% para os primeiros 50 sócios e 20% para os demais, válido para plateia e mezanino.
- Pontos de venda: pelo site Uhuu (com taxa de conveniência) e na bilheteria do teatro (sem taxa), de segunda a sábado, das 13h às 21h, e aos domingos e feriados das 14h às 20h.