Depois de três anos sem pisar nos palcos brasileiros, Tiago Iorc se prepara para voltar a percorrer o país em três meses de turnê, com shows que passarão por 22 cidades. A primeira será a gaúcha Passo Fundo, que recebe a apresentação do cantor no dia 19 de maio. Depois, no dia 20, Iorc se apresenta em Porto Alegre, no Auditório Araújo Vianna, e segue na estrada até o final de julho. Os ingressos já estão disponíveis no site do artista.
A escolha pelas terras gaúchas como ponto de partida não foi aleatória. Foi em Passo Fundo que Tiago Iorc cresceu e teve seu primeiro contato com a música, das primeiras aulas de violão aos primeiros shows. São muitas as lembranças na cidade, entendida por ele como o local mais simbólico para dar start neste novo momento da sua carreira, após o hiato imposto pela pandemia.
— Passo Fundo é a minha casa tanto de origem, de formação como pessoa, quanto musical. São muitas histórias vividas lá. Estava lembrando esses tempos que, quando estava no colégio, organizei um festival de bandas só para ter um lugar onde a minha banda pudesse tocar (risos). Uns dias antes de o festival acontecer, quebrei um copo na mão e não pude tocar, tive que ficar só como apresentador. Foi uma frustração muito grande (risos) — lembra ele.
Iorc confessa que a expectativa pelo início da turnê está alta. Não é o retorno dele aos palcos, pois, no final do ano passado, o músico chegou a realizar uma série de shows pela Europa. Contudo, tocar para os seus é sempre mais especial.
— Não há nada no mundo que seja parecido com o povo brasileiro. Eu amo a força que a gente tem de estar junto e a nossa resiliência, apesar dos pesares — diz.
E é reconectado a essa brasilidade que o artista voltará aos palcos do país. Tiago Iorc vai apresentar ao público o repertório do seu último disco, Daramô, lançado em novembro do ano passado. O álbum traz 10 faixas que remetem a sonoridades tipicamente brasileiras, inaugurando uma nova fase artística para o cancioneiro do artista, até então mais próximo do pop e do folk rock de influência internacional.
A transformação na musicalidade de Iorc surgiu sem planejamento durante a pandemia, quando a maior parte das canções que integram o álbum foram compostas. Em casa, o músico trocou o violão com cordas de aço que costumava tocar desde a adolescência por um com cordas de náilon, mais suave ao toque, e acabou descobrindo novas possibilidades a partir do instrumento.
— O violão de aço requer mais força para tocar, o que imprime um som mais soturno e mais próximo do folk. Na pandemia, como estava em casa, fui percebendo o quão gostoso é esse lugar de quietude, essa maciez do violão de náilon, que acaba por trazer um outro tipo de som. Isso acabou naturalmente me levando para uma pegada mais brasileira, porque a música brasileira é ancorada na linguagem desse tipo de instrumento — explica o músico.
Já nas letras, as canções de Daramô remetem à necessidade de estar em convívio com as pessoas — justamente aquilo que faltava durante o período de distanciamento social —, evocando temas como o amor e a solidariedade. São músicas bem mais solares do que as que integram o álbum anterior do artista, Reconstrução (2019), que veio após um período de pausa na carreira para cuidar da saúde mental.
— Eu vinha de uma série de anos em um processo de muito trabalho, conduzindo a minha vida e carreira em um fluxo que me deixava sem tempo para entender o que estava acontecendo. Era show, entrevista, show, entrevista... quando percebi, não estava mais compondo, não tinha sensibilidade, estava em um estado de não entender o porquê de estar fazendo tudo aquilo, então parei — lembra ele.
Para Iorc, os discos são como "retratos 3x4 do momento de vida do artista" (uma definição que ele ouviu do gaúcho Humberto Gessinger e passou a também adotar). É por isso que ele não hesita em transpor para as músicas as suas inquietudes. Fez isso em Reconstrução e na canção Masculinidade, de 2021, na qual desabafa sobre temas como masculinidade tóxica, vício em pornografia e depressão.
O músico chegou a ser criticado pelo teor da música, mas entende que ela serviu para acender o debate sobre o tema.
— Essa música nasceu de uma vontade de tocar nas minhas limitações e a grande função dela, para mim, foi trazer esse assunto para o debate — avalia. — Quando comecei a conversar sobre isso com meus amigos homens, percebi que as nossas dores e a nossa percepção de nós mesmos era parecida, então entendi que havia ali alguma coisa a ser manifestada. Foi algo que partiu de uma perspectiva muito pessoal, mas que culminou no diálogo e na exposição de pontos de vista múltiplos. Para mim, essa é a função da arte: fazer as pessoas olharem para si mesmas e debaterem.
Agora, com Daramô, o retrato 3x4 de Tiago Iorc mostra um artista aberto a novas possibilidades musicais e pronto para abraçar novamente o seu público.
— Serão shows feitos para as pessoas — resume.