Após ter show cancelado em Porto Alegre, a banda norueguesa de black metal Mayhem pode ter outra apresentação desmarcada no país. O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios solicitou, na última sexta-feira (17), o cancelamento do show do grupo marcado para a próxima quarta-feira (22), em Brasília.
O documento foi enviado para a Administração Regional do Guará, Secretaria de Segurança Pública do DF e para as empresas Clube do Ingresso Ltda e JFC Produções e Eventos Ltda – ambas responsáveis pela apresentação. O MP pede revogação de licença ou alvará referente ao show do grupo, o descadastramento e a tomada das providências necessárias para que o evento não aconteça, além da interrupção da divulgação e venda de ingressos.
No texto, o órgão alega que "há evidências de que integrantes e ex-integrantes da banda estão envolvidos com apologias neonazistas, suicídio, canibalismo e assassinato, além de diversos tipos de violências e discriminações, incluindo queima de igrejas, referências à extrema violência, incitação à mutilação, declarações racistas e antissemitas, entre outros".
Em nota, o MP pontua que o documento "considera que a liberdade de expressão possui relevante papel no Estado Democrático de Direito, na medida em que serve de elemento oxigenador do espaço público e permite a comunhão de ideias e visões de mundo em um ambiente plural e não excludente". "Entretanto, ele não é absoluto, pois não pode implicar na aceitação jurídica da promoção de discurso de ódio e/ou do ataque, em espaço público ou privado, de qualquer indivíduo, grupo ou coletividade", acrescenta o órgão no comunicado.
O MP ressalta que a instituição foi acionada na última quinta-feira (16) por representantes de movimentos sociais que lutam contra o racismo e o antissemitismo. Em seguida, entrou em contato com o Ministério Público Federal (MPF) para a expedição da recomendação conjunta. De acordo com o comunicado, "a gravidade dos fatos noticiados e a inadmissibilidade da realização desse tipo de evento no Distrito Federal ou em qualquer lugar do mundo".
A recomendação foi assinada por membros dos Núcleos de Direitos Humanos e da Promotoria de Justiça de Defesa do Consumidor, bem como da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do MPF.
A Toinha Brasil, espaço que está previsto para receber o show do Mayhem, compartilhou nos stories do Instagram um posicionamento de um dos integrantes da banda e defendeu os músicos. "Saibam e conheçam a banda antes de falar besteira", diz a publicação, que acrescentou a frase "antifa é meu ovo".
Em nota divulgada pelo jornal Metrópoles, a Toinha Brasil informou que vai cancelar a apresentação do grupo caso seja "constatado pelos órgãos competentes indícios de apologia ao nazismo”.
Show cancelado em Porto Alegre
Uma publicação em uma rede social, feita pelo professor de filosofia Renato Levin-Borges, conhecido como Judz, na última terça-feira (14), desencadeou uma série de acusações e, também, de defesas para a banda norueguesa Mayhem, que se apresentaria no Bar Opinião, em Porto Alegre, na próxima terça-feira (21). Na quinta (16), o show foi cancelado e os valores dos ingressos serão devolvidos, segundo a produtora responsável pelo evento.
Em nota divulgada na última sexta, a banda afirmou ser uma entidade "não política" e que não apoia o racismo, a homofobia ou "qualquer outro crime de ódio". O grupo ainda buscou distanciar os membros do passado controverso: "Embora relatos contrários a isso tenham circulado no passado a respeito de membros individuais da banda, isto é algo distante no passado e nunca foi considerado como nenhuma forma de posição oficial para a banda".
Mayhem ainda garantiu que respeita as individualidades, desde que não se perturbe os outros, e ressalta que todos devem responder por seus atos. "Qualquer forma de julgamento baseada na vivência de uma pessoa, na sua cor de pele, preferência sexual ou qualquer coisa que eles não possam ter o controle a respeito é um ato de fraqueza e será rejeitado pela banda", finaliza a nota.