Fácil, extremamente fácil perder as contas. Tanto que a informação pega o vocalista do Jota Quest, Rogério Flausino, de surpresa:
— Quinze vezes? É mesmo, cara? Tá de sacanagem… Nem eu sabia que era tanto (risos).
A reportagem teve uma conversa parecida com o vocalista há cinco anos. É muito palco para calcular. Com o show desta sexta-feira (3), na 26ª edição do Planeta Atlântida, o Jota Quest chegará a 15 apresentações no evento. Empatará com O Rappa em número de shows no festival, mas como o grupo carioca encerrou as atividades em 2018, será a banda em atividade que mais marcou presença na Saba, em Atlântida, litoral norte gaúcho. Jota Quest é atração do Palco Planeta, a partir das 21h30min.
A primeira participação da banda mineira no festival foi em 1998. Flausino lembra que, pouco antes, a banda já havia construído uma relação sólida com o Rio Grande do Sul. Após o lançamento do primeiro disco, em 1996, que leva o nome do grupo, o Jota Quest só era conhecido em sua terra natal — Belo Horizonte (MG) e arredores. Até que surgiu um convite inesperado em 1997 para a banda fazer uma turnê pelo Estado.
Flausino conta que estranhou a proposta, pois o alcance do Jota Quest não era grande naquele momento. Porém, os shows no RS lotaram. De alguma maneira, as músicas do grupo mineiro caíram nas graças das rádios porto-alegrenses. O Estado passou a ser a segunda casa da banda. Logo, surgiu o convite para o que o vocalista define como "o primeiro grande festival das nossas vidas".
— A energia que a gente sentiu naqueles primeiros anos é algo que não vamos esquecer nunca. Vamos carregar para o resto da vida. Não é à toa que Porto Alegre é a nossa segunda capital. Viramos uma banda gaúcha naqueles anos. Metade do tempo passamos aí. E o Planeta era o grande palco disso tudo — recorda. — Temos muita gratidão pelo que o festival fez por nós.
O vocalista frisa que toda vez que o Jota Quest se apresenta no Planeta, repete-se o mesmo frio na barriga de 1998. Para a edição 26 do festival, o grupo levará ao palco o show da turnê Jota25, com clássicos como Na Moral, O Sol, Dias Melhores, De Volta ao Planeta e Encontrar Alguém, além de lançamentos mais recentes — Blecaute, Te Ver Superar, Imprevisível e a versão do grupo para Tempos Modernos, de Lulu Santos.
— Quero botar os "hitão" tudo para a galera cantar junto. As músicas que marcaram nossa trajetória "planetária". Como sabemos que tem um público jovem, tocaremos também coisas mais recentes, que conseguiram se conectar com essa turminha — destaca Flausino.
Além do Horizonte
A turnê Jota25 celebra o aniversário do álbum de estreia e o momento em que as coisas começaram a ficar mais profissionais para o grupo. Originalmente, essa série de shows era para ter ocorrido entre 2020 e 2021, mas a pandemia adiou os planos. No ano passado, a turnê encheu três noites no Auditório Araújo Vianna em julho.
Aliás, tamanha é a conexão da banda com a cidade que a gravação do DVD da turnê Jota25 será justamente em Porto Alegre. O show está marcado para o dia 17 de junho, no estádio Beira-Rio. Mais informações sobre essa apresentação serão reveladas em breve.
Flausino brinca que a banda costuma ter dois aniversários: além do primeiro álbum, que marca a guinada do grupo, há também os 30 anos de fundação, que serão completados em 2023. Mesmo assim, o plano é visitar mais cidades com a Jota25 neste ano.
Ao longo do ano, o Jota Quest seguirá captando imagens da turnê, que se somarão ao registro da apresentação no Beira-Rio. Aliás, o grupo andou filmando em Porto Alegre na última vinda à capital gaúcha. Segundo Flausino, esse material todo resultará em um projeto audiovisual que mesclará show e história da banda. O vocalista prevê que o conteúdo esteja pronto para ser lançado entre o final de 2023 e o começo de 2024.
Além disso, um novo álbum do Jota Quest será lançado ainda no primeiro semestre. De acordo com Flausino, o trabalho apresentará a banda com uma textura mais moderna, mas que também remeterá à sonoridade do primeiro disco.
— É um apanhado do nosso jeito de fazer música. Vai ter canções mais lentas, mas também outras mais festivas e dançantes, com groove e funk — adianta o vocalista.
Com a mesma formação desde o começo — além de Flausino, há Marco Túlio Lara (guitarra), PJ (baixo), Paulinho Fonseca (bateria) e Márcio Buzelin (teclado) —, o Jota Quest tem sobrevivido ao teste do tempo lançando novos projetos e estando no palco de grandes festivais. A troca com o público segue intensa nos shows, como descreve Flausino, o que ainda traz uma sensação que ele não quer deixar de vivenciar.
— A energia que isso dá para você é um negócio tão fantástico... Não pretendo parar de sentir isso tão cedo — sublinha. — Eu quero que o Jota esteja aqui até o último dia da minha vida.
Flausino: "Não é a opinião de qualquer pessoa que estiver passando na rua que vai mudar a minha vontade de realizar meu sonho"
Afinal, a banda seguirá celebrando 25 anos enquanto completa 30?
Temos dois aniversários: o primeiro quando fui ensaiar pela primeira vez, mas a coisa só foi engrenar mesmo tempos depois. Quando a lançamos o álbum de estreia (em 1996), demorou um ano para acontecer alguma coisa, o que acabou virando nosso aniversário. Entre 2020 e 21, nossa ideia era celebrar o primeiro disco. Só que a pandemia empurrou isso dois anos para frente. Nós construímos o show da turnê Jota25 todo redondinho e tudo mais, então não dava para mudar para "Jota27". Também achamos que naquele momento estava cedo para falar dos 30. Vamos chegar em outubro e a banda vai estar na turnê Jota25, mas fazendo 30 anos… Vai ser complicado (risos).
Ao longo de três décadas, haja estrada e história. Como é estar na mesma banda há tanto tempo? Como é o pique de hoje comparado ao dos anos 1990?
Naturalmente, as coisas vão mudando. Antes éramos moleques e solteiros, mas hoje todo mundo é pai de família, com filhos. A maturidade surge e vai mostrando coisas muito legais. Acho que a vida é feita de fases. A melhor coisa de mudar de fase é ter vivido plenamente a anterior. Então, vamos para a próxima. Estamos trabalhando como nunca, mas agora vamos colocar em prática a ideia de que não precisamos fazer tantos shows por mês, para que sobre tempo para continuarmos vivendo, sendo artistas e pais. Cuidar da vida e viver outras coisas, para que possamos nos inspirar e escrever sobre a vida. Precisamos desse tempo. Quando você vai ficando mais velho, a vida vai te cobrando esse tempo. Estamos vivendo agora coisas que não conseguiríamos viver antes por conta do tempo de estrada.
Com quase três décadas, o Jota Quest segue se mantendo relevante e presente em grandes eventos. Segue enchendo casas de shows. Vocês pegaram diferentes fases e tendências da música brasileira, ritmos ou artistas que surgiram e desapareceram. Muita coisa passou, e o Jota Quest está aí em mais um Planeta. Ao que você atribui essa constância da banda?
Acho que tem a ver com o fato de sempre respeitarmos muito nossa profissão. A gente se dedica e se joga muito. Sempre queremos estar presentes. Respeitamos muito a rapaziada que está chegando. É natural que novas tendências nasçam, o novo sempre vem, e você tem que estar atento a isso. Se você observar a evolução artística da banda, perceberá que a gente sempre foi mais ou menos a mesma coisa. Temos nossas influências, aquela mistura de rock com black music e baladas. Temos o jeito nosso de fazer as coisas e que precisamos respeitar. Foi o que nos trouxe até aqui. Fazemos parte de um meio que, como qualquer outro, precisa ser tratado com responsabilidade e respeito. Sempre fomos muito caxias, apesar de nos divertirmos bastante. Tivemos nossos arranca-rabos internos, mas estamos sempre unidos. Somos os resultados das nossas diferenças. Acho que é muito trabalho e, em resumo, amor.
Como é inevitável na trajetória de qualquer banda ou artista, sempre haverá críticas. Às vezes, há alguns preconceitos com o trabalho, às vezes até um tipo de ódio gratuito. Hoje em dia, como você lida com as críticas ao Jota Quest? Algo o incomoda?
Hoje lido muito bem (risos). Estou mais que acostumado. Somos uma banda que está aí há muito tempo e em evidência. Você conquista muitas coisas e tudo mais, mas as pessoas: "Nossa, esses caras aí de novo…". Quase como se tivesse que haver uma linha de chegada. "Os caras já estão aí há muito tempo, já está na hora de acabar." Como assim? Acabar por quê? Quem define isso? Por exemplo, tem lá o Caetano Veloso há milênios nas cabeças, e "tá bom, Caetano, já deu". Eu quero que o Jota esteja aqui até o último dia da minha vida. Não é a opinião de qualquer pessoa que estiver passando na rua que vai mudar a minha vontade de realizar meu sonho. No começo, você fica grilado, pois quer agradar todo mundo. Lembro que no início só recebíamos elogio, mas quando começamos a fazer muito sucesso, passamos a ouvir: "Ah, mas está fazendo sucesso demais, não sei se gosto disso não. Não sei se é meu tipo de música". Beleza, eu também como ouvinte e fã não gosto de um monte de coisa, mas não saio por aí falando, talvez entre amigos. Esse tipo de situação é normal e compreensível. Tem gente que não gosta do Jota, ok, sem problema nenhum. E vamo que vamo. Vou fazendo minha história. Estou feliz demais da conta de onde a gente veio e para onde estamos indo. Estou em paz com o futuro.