O chapéu é de cowboy: no Estado das prendas e dos gaudérios, a cantora Bibiana Bolacell tem conquistado espaço com o sertanejo. Aos 27 anos, ela também tem se expandido para além do Rio Grande do Sul. Seu primeiro DVD, intitulado Ao Vivo em Goiânia, foi gravado em 18 de maio, no dia de seu aniversário. Além disso, a artista tem flertado com uma nova vertente do estilo musical: o agronejo.
Nascida em Sapucaia do Sul, Bibiana se mudou para Imbé aos quatro anos. Hoje vive dividida entre o município do Litoral Norte e Porto Alegre. Ela é formada em odontologia, mas a música é seu principal foco desde cedo. Criada no circuito de dança tradicionalista, em meio a rodeios e festivais, Bibiana canta desde os cinco anos.
Aos 13, ela percebeu o inevitável: queria viver de música. Falou para os seus pais que queria ser cantora profissional. Só que além das canções regionalistas, Bibiana cresceu escutando sertanejo por conta da família — em especial, Bruno e Marrone. A dupla até hoje é uma de suas maiores inspirações.
— Antes mesmo de se tornar moda o sertanejo, eu já comecei a cantar Bruno e Marrone, Zezé Di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, entre outros. Música raiz, mesmo. Os jovens na época nem gostavam de sertanejo, achavam brega. No Ensino Médio eu ouvia: “Bá, tu cantas sertanejo, que brega” — recorda. — Eu nunca fui aquela cantora que interpretava pop, rock ou outra coisa. Sempre cantei sertanejo.
De lá para cá, Bibiana contabiliza seis álbuns gravados. Para o seu primeiro DVD, a cantora foi até a Capital do Sertanejo, onde chegou a morar por quase dois anos, retornando ao RS na pandemia. Inclusive é por lá que ela produz suas canções há alguns anos.
— Qualquer cantor sertanejo, se tu for perguntar onde sonha em gravar, vai responder Goiânia. Era o meu sonho gravar meu DVD por lá também. É o berço do sertanejo — ressalta.
Contando com participações de nomes nacionais do sertanejo, como Day e Lara e Paulo e Nathan, o ao vivo acumula nove faixas que estão sendo lançadas separadamente desde junho. Até o momento, já foram divulgadas a trinca Dupla de Três, Eu Ia e O Troco. Os três singles passam da casa das 100 mil visualizações no YouTube. O restante das faixas deve sair nos próximos meses.
Logo no primeiro single, Dupla de Três, Bibiana deixa claro uma de suas principais características de trabalho: cantar para as mulheres. Com uma letra que aborda um ménage à trois, ela se impõe: “Eu nunca vi dupla de três, o quê?/ Cê quer me botar na sua cama com a sua ex/ E se eu chamar o seu amigo na minha vez?”
— É uma música super para frente, com um assunto muito inédito, que eu trouxe de uma forma leve. Por que só o homem pode querer duas mulheres? — pondera.
Bibiana frisa que procura trazer letras fortes em suas composições, que empoderem as mulheres. A cantora cita a música Liberdade Feminina como a mais importante de sua carreira. No single de 2020, ela diz: “Tô naquela roupa que cê não aprovou/ Tô naquela fase que cê não domina/ Eu tô simplesmente sendo o que eu sou/ A liberdade feminina”.
— É uma preocupação minha trazer o lado da mulher nas minhas músicas e cantar para o público feminino. Nos shows, a mulherada canta junto comigo — relata. — Por exemplo, Liberdade Feminina fala que a mulher pode ser e estar onde ela quiser. Seja num bar bebendo, seja usando a roupa que quiser.
Também agroneja
Além de lançar as faixas restantes do DVD, Bibiana tem se aproximado de uma nova tendência: o agronejo. O estilo traz uma linguagem de ostentação para exaltar a agropecuária, misturando elementos sertanejos com a música eletrônica. Nomes como Ana Castela, DJ Chris no Beat, Luan Pereira, Us Agroboy, entre outros, despontam nesse movimento.
Se no funk ou no rap há uma ostentação de marcas de roupas, carros e jóias, no agronejo se exalta o chapéu, botas, caminhonetes e até copos térmicos. Por exemplo, Ana Castela canta em Boiadeira que "o cabelo chanel deu lugar ao chapéu/ tá cheia de terra a unha de gel".
Em seus shows, Bibiana costuma cantar hits do agronejo. Segundo a cantora, ela deve começar a trabalhar mais com o estilo em seus próximos trabalhos. Aliás, seu single O Troco ganhou um remix pelo DJ Victão, lançado no começo de outubro, que flerta com a batida do agronejo.
De acordo com a cantora, esse movimento no sertanejo serve para empoderar o público do campo, realçando o orgulho de usar bota, fivela e chapéu na cidade.
— Eu já tenho esse estilo mais raiz, que o agronejo traz na vestimenta desde sempre. Já uso muita bota, muito chapéu — aponta. — Como frequento os rodeios e festivais desde criança, sempre circulei no meio da pecuária. Querendo ou não, o agronejo é o campo, é a roça. Eu como gaúcha, sinto que represento e me identifico com isso, pois é o meio onde fui criada.