Quase 350 quilômetros separam o renomado Theatro São Pedro, em Porto Alegre, do centro da capital farroupilha Piratini, localizada na região sul do Estado. É possível cumpri-los em cerca de cinco horas, mas a distância demorou mais de 20 anos para ser percorrida pelo piratinense Cristiano Quevedo. Pois é nesta quinta-feira (29), a partir das 21h, que ele sobe pela primeira vez ao palco do São Pedro para apresentar um show individual, Gaúcho Coração - Tradição e Sensibilidade, em celebração aos seus 28 anos de trajetória na música nativista.
É bem verdade que Quevedo já pisou outras vezes no tablado da casa de espetáculos, diversas delas participando de apresentações de amigos do meio musical. Também subiu àquele palco ao lado de Angelo Franco, Érlon Péricles e Shana Müller, com quem formou o grupo Buenas e M'Espalho, cujo primeiro álbum conquistou em 2008 o Prêmio Açorianos de Música na categoria dedicada ao gênero regionalista.
Mas é com a apresentação desta quinta-feira que o artista entra no grupo seleto de cantores nativistas que já apresentaram espetáculos solo no Theatro São Pedro. É a realização de um sonho, ele confessa. Mérito que considera tão seu quanto de todos os grandes músicos que lhe abriram caminho.
— Quando subo em um palco, esta é a minha Copa do Mundo. Se me chamarem para cantar em um rodeio, no meio de uma cancha de laço, lá estarei. Não renego nenhum palco. Mas o sonho de todos nós, fazendo aqui uma reverência a quem veio antes de mim, sempre foi estar nesse lugar. Quem deu início a esse movimento - nomes como Teixeirinha e Gildo de Freitas - tem uma parcela muito grande de contribuição para que eu possa agora botar os pés em um palco tão importante para realizar esse sonho — diz o músico. — Um sonho tão grande que nem sei se foi sonhado, pois lá em Piratini, quando comecei, não tinha a compreensão de que um dia poderia estar cantando em Porto Alegre, no Theatro São Pedro — confessa.
Mas estará. E muitos dos aplausos que deve ouvir do palco virão do bater de mãos de uma leva de piratinenses como ele, pois uma caravana partirá da cidade para prestigiar o espetáculo. Lotaram um ônibus. Algo que faz Quevedo lembrar emocionado do primeiro festival de música nativista do qual participou, em 1995, também com a presença dos conterrâneos. Desta vez é no São Pedro. Sem fingir costume, ele embarga a voz ao constatar.
— O meu primeiro festival foi a 7ª Escaramuça da Canção de Triunfo. A rádio estava transmitindo e, quando ouviram em Piratini que eu estaria na final, lotaram um ônibus e foram até Triunfo. Naquela época não se tinha celular, então só fiquei sabendo quando eles chegaram lá, à tardinha. Aquilo me causou uma emoção muito grande e agora vou poder reviver isso, com minha família e meus amigos vindo de caravana para dividir esse momento comigo — recorda.
Para fazer jus ao momento de emoções à flor da pele, Quevedo sobe ao palco ao lado de Gabriel Pellizzaro (acordeom), Guilherme Castilhos (violão), Nilton Jr (piano), Kiko Garcia (contrabaixo) e Renato Popó (bateria) e apresenta junto aos músicos um repertório composto pelas canções mais importantes dos seus 28 anos de carreira. São músicas como Gaúcho Coração, Pé no Estribo e Bem na Porteira, entre outras que o fizeram conhecido pela forma requintada de cantar as coisas do homem do campo, por mais simples que elas possam ser.
É como faz em Contraponto, música que lhe lançou para o restante do Estado e indispensável no setlist do show, na qual narra atividades cotidianas, como preparar um chimarrão e acender o fogão à lenha. "Esse meu jeito de alçar a perna/ De mirar ao longe o horizonte largo/ É o contraponto de beber auroras/ Quando cevo a alma pra sorver o amargo/ Esse silêncio que me traz distância/ Que me agranda o canto entre campo e céu/ É o contraponto de acender o fogo/ Meço um metro e pouco da espora ao chapéu", canta na milonga.
É também em Contraponto que fala sobre sua "audácia de buscar o novo, sem pisar no rastro ou reacender as brasas". Para ele, a música está em constante evolução. O artista diz estar sempre atento e aberto a novas tendências, despido de preciosismos.
— Não considero este um show "tradicionalista". Não costumo usar esse termo porque o que busco é fazer uma música com muita tradição, mas que também é próxima do contemporâneo. Isso passa pela instrumentalização do show, pela estética, e também pelas minhas canções — avalia.
Quevedo também dispensa termos que encaixotam a música regional gaúcha. Em sua visão, o cancioneiro típico do Rio Grande do Sul é capaz de preencher qualquer palco e quebrar barreiras. E é isso que ele pretende fazer com sua música daqui para a frente, depois desta quinta, quando também irá quebrar uma barreira.
— Nunca gostei dessa coisa de tratar a música gaúcha como "música de grosso", como uma coisa "bagual". Porque a gente traz a raiz muito forte, sim, mas temos condições de estar em uma programação de rádio ao lado de grandes nomes da música mundial e temos condições de subir em um palco como o do Theatro São Pedro — opina Quevedo, que prepara ainda um novo álbum, com novas amostras de sua moderna música tradicional.
Show Gaúcho Coração - Tradição e Sensibilidade, de Cristiano Quevedo
- Nesta quinta-feira (29), às 21h, no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), em Porto Alegre
- Ingressos inteiros a partir de R$ 40, disponíveis no site do teatro
- Sócios do Clube do Assinante RBS têm 50% de desconto sobre o valor do ingresso inteiro, para o titular e um acompanhante