Em 2019, Luiz Carlos Borges esteve entre a vida e a morte. O cantor nativista sofreu um grave aneurisma na aorta, o que ocasionou uma internação de 85 dias no hospital, 70 destes na UTI. Naquele ano, ele ficou quase totalmente afastado de suas atividades musicais. O retorno aos palcos aconteceria em março de 2020, mês de seu aniversário. Estava tudo pronto, mas veio a pandemia, que impossibilitou que a apresentação ocorresse.
A partir daí, veio uma espera ainda maior. Foram mais de dois anos aguardando pelo contágio do vírus diminuir e, assim, poder voltar ao seu lugar preferido: o palco, em contato com o público. Neste período, ele decidiu revisitar o chamado "lado B" de sua obra, revendo canções que há tempos não encontravam a boca e o acordeom do intérprete. Com esta viagem musical ao passado, o artista começou a preparar um novo show, aquele que marcaria a sua volta.
Com apoio de fãs e amigos, o espetáculo surgiu a partir de um financiamento coletivo. A apresentação recebeu o título de O que o Coração me Exige, que fala da situação pessoal do artista. Além disso, leva o mesmo nome de uma música antiga sua, feita em parceria com Sérgio Jacaré, destacando que o concerto traz canções não necessariamente tão famosas, mas que se aprofundam ainda mais na hora mostrar a alma do artista por meio de seu trabalho.
— Em um disco, tu achas duas ou três músicas que são cavalos de batalha. Às vezes, uma só. E o resto são as chamadas "lado B". Tem as canções que as rádios nem dão bola. Por quê? Porque não está na boca do povo. O pessoal não sai assoviando, não sai cantarolando. Mas, muitas vezes, neste "lado B", estão grandes canções — destaca Borges.
Com estas canções não tão famosas, o nativista lotou o Teatro Renascença em 5 de julho, em seu grande retorno aos palcos, após três anos de espera, e depois saiu pelo Estado para uma bem-sucedida maratona de shows. Agora, nesta terça-feira (22), a partir das 20h, o Renascença (Av. Erico Veríssimo, 307, bairro Menino Deus) recebe novamente o artista, para um show extra, já que o primeiro lotou e não comportou todos os fãs que queriam vê-lo de perto.
— Esses três anos de espera me deram um misto de tristeza e ansiedade, como se faltasse alguma coisa. A gente vive dessa comunicação com o público, vive do abraço, do olhar das pessoas, daquele aplauso ao terminar uma canção. É um diálogo que tu estabeleces. E eu estou há 60 anos fazendo isso. São 60 anos na estrada — enfatiza o artista, que se apresentou profissionalmente pela primeira vez aos nove anos.
Intimista
O repertório de O Que o Coração me Exige conta com canções intimistas, muitas delas vencedoras de festivais nativistas e que possuem um significado especial em sua trajetória musical. O espetáculo conta com composições feitas em parceria com Silva Rillo, Sérgio Jacaré, Zanata, Vinícius Brum, Mauro Ferreira, João Sampaio, Ubirajara Raffo Constant e Beto Bollo. Serão 13 músicas no setlist — além de dois ou três bis.
No palco, Borges estará novamente acompanhado pelos amigos e músicos Jonatan Dalmonte (bandoneón e acordeom), Leandro Rodrigues (violão de cordas de aço e acordeom), Neuro Júnior (violão 7 cordas) e Yuri Menezes (violão 6 cordas). A esse quarteto o autor de Florêncio Guerra rasga elogios, destacando que todos foram essenciais para este retorno em grande estilo aos palcos, uma vez que se viu quase "destreinado", depois de tanto tempo parado.
Durante os três anos, Borges ainda teve a oportunidade de rever a sua própria entrega em cima do palco. Aos 69 anos e três aneurismas da aorta — o último foi no ano passado, mas não tão grave quanto o de 2019 —, ele decidiu que não precisa mais impressionar o público com o acordeom, que é possível atender às orientações médicas, maneirando os movimentos bruscos e controlando o levantamento de peso, mas sem deixar de mostrar a essência da sua música.
— Fui aos poucos me adaptando, até adquirir total confiança. Pensei: esta é a hora, beirando os 70 anos, de me reinventar. Não preciso mais desse impressionismo. Posso tocar notas curtas, notas longas, notas que comuniquem melhor. Harmonia mais dedicada, um pouco, para poder substituir coisas na canção sem perder a condição que a canção te exige — pontua.
Assim, está tudo bem para a maratona de shows e também já está preparando as comemorações de seus 70 anos de vida — em março de 2023. Será um evento grandioso, com vários dias de festa e música, digno de um dos artistas mais importantes da cultura gaúcha.
— Passei, basicamente a minha vida inteira em cima do palco. A música é a minha gasolina, o meu combustível — finaliza.
Luiz Carlos Borges - "O que o Coração me Exige" (sessão extra)
- Nesta terça-feira (23), às 20h, no Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307, bairro Menino Deus), em Porto Alegre.
- Ingressos a R$60 (inteiro) ou R$ 30 (meia-entrada), à venda apenas pelo WhatsApp: (51) 99872-9495.