Assim que encerrou a turnê do álbum Vesúvio (2018), em junho passado, Djavan já anunciou o seu mais novo trabalho: D, que chegou nesta quinta-feira (11) às plataformas digitais, contando com 12 músicas — sendo que 11 delas são inéditas. E como fio-condutor do álbum está o objetivo do artista de levar otimismo para quem o escuta, de ser o som das boas novas, da mudança para um mundo melhor.
O trabalho, realizado de maneira rápida para os padrões do alagoano de 73 anos, começou a ser criado pelo artista em junho do ano passado e foi concluído em abril último — geralmente, Djavan passa entre dois e três anos em estúdio. Ele acredita que a velocidade para a criação da obra se deve ao tempo parado durante a pandemia, que trouxe ainda mais vontade de produzir.
Assim, ele foi "compondo, compondo e compondo", trazendo para a obra quem ele era no momento de cada criação com o objetivo de entregar luz para combater o obscurantismo que ele enxergava no mundo quando começou a criar o álbum — período em que muitas pessoas estavam morrendo por conta da covid-19, falta de vacinas e negacionismo.
— Cada música, cada período de um disco gravado, revela quem você é naquele instante, naquele momento, musicalmente. O que você pensa sobre as coisas, sobre a questão social, política, toda a questão que envolve a sua existência, onde você está habitando, as pessoas com quem você convive. É isso que, na verdade, o trabalho novo traz: é a existência em volta — explica o artista em entrevista para GZH.
Cantando junto
Em D, Djavan traz participações especiais muito significativas. A primeira delas é com o também lendário Milton Nascimento, com quem divide os versos da música Beleza Destruída — a canção, inclusive, foi lançada antes mesmo do lançamento do disco, como segundo single e clipe do álbum. Afinal, este pedido de décadas dos fãs não poderia esperar mais.
— Foi um encontro muito bonito e que deu muito prazer aos dois. Nós nunca tínhamos feito nada juntos e esse encontro veio para acabar com essa falta que eu e muita gente sentíamos. Foi uma iniciativa que, realmente, me agradou muito — pontua o alagoano.
Na música, que tem letra de Djavan e harmonia inventada em seu violão, ele e Bituca cantam uma mensagem política e ecológica urgente, denunciando a destruição da natureza: "Mas o homem / Cego por dinheiro / Só sabe dizer: / Dizimar, dizimar / Ver tanta beleza / Destruída / Encolhendo / A própria vida assim / É o fim". Em menos de três semanas, o clipe ultrapassou a marca de 1,3 milhão de visualizações apenas no YouTube.
Outro encontro que era muito aguardado por Djavan em um disco seu era com a família — mais precisamente, com seus cinco filhos e dois netos. Juntos, eles gravaram a canção Iluminado, que fecha o disco. E reforça bem a mensagem da obra: "Que venha a nós / Voz de todo canto / Num alento guiado pelo vento / Trazendo o melhor que tem / Vem cantar / Pra tudo aqui ficar / Iluminado".
— Foi um projeto decorrente de um desejo antigo. A gente, às vezes, se reúne em casa, no sítio, toca, canta e tudo. E aí queria trazer isso para um disco, para gravação. Nunca tinha feito uma gravação com eles. E trouxe todo mundo, todo mundo gostou — esclarece.
Pop
Conhecido por suas letras complexas — algumas, inclusive, que geram teorias fantasiosas, como Flor de Lis, que até hoje tem gente que acredita que foi composta para a esposa Maria e a filha Margarida, que teriam morrido no parto da menina, o que já foi desmentido pelo artista —, suas criações ultrapassaram a barreira da incompreensão e se tornaram patrimônios da nação, verdadeiros hits que atravessam gerações e formatos.
E não é da boca para fora. Em fevereiro deste ano, por exemplo, Djavan bateu a marca de um bilhão de streams em áudio e vídeo nas plataformas digitais. Em setembro, o artista atemporal sobe ao palco do Rock in Rio para um show que ele pretende que seja histórico. No mesmo dia, tocam Coldplay, Camila Cabello e Bastille, que surgiram décadas depois do cantor brasileiro, mas isso não quer dizer que eles sejam mais atuais que o alagoano.
— A minha obra é baseada na diversificação. Isso explica, por exemplo, um público igualmente diversificado do ponto de vista de raça, religião, faixa etária e classe social. Acho que isso vem através da própria diversificação do trabalho, que acaba atraindo um público bem extenso do ponto de vista destas questões todas. E talvez seja essa a razão principal do meu trabalho ainda hoje ser relevante — reflete.
Com disposição para criar, gravar e fazer show em grandes festivais, seja no Brasil ou no Exterior, Djavan já cravou a data de quando sai em turnê do seu novo álbum. E o "dia D" será em 31 de março de 2023, com passagem, é claro, por Porto Alegre, cidade que ele diz adorar e que tem um público que ama. Assim, o artista busca entregar aos fãs o que diz na letra do primeiro single do álbum, Num Mundo de Paz: "Belas noites de verão / De mãos dadas por aí / Retomar o que era bom / Ser feliz é logo ali".
— Não dá para ficar de braços cruzados. Tudo você tem que buscar, principalmente, a felicidade. Você tem que trabalhar por ela, você tem que ir buscá-la onde ela estiver. Mas, exatamente por isso, porque depende do seu esforço, de sua iniciativa, que ser feliz é logo ali — finaliza.