Desde muito pequeno, Osvaldir Didoné Souto sabia que queria viver de música. Hoje com 70 anos, ele lembra que, ainda com cinco, sentia uma melodia ecoar constantemente em sua cabeça, como se orientando o caminho a seguir. E ela ecoava no compasso do rock and roll, o que por muito tempo lhe fez acreditar que o caminho era esse. Mas a verdade é que foi ao som do dois-e-dois da vaneira e do três-e-três do chamamé que ele seguiu a maior parte de sua estrada, dispensando o sobrenome para tornar-se conhecido simplesmente como Oswaldir e marcando esta alcunha na história da música gaúcha pela parceria com Carlos Magrão, com quem formou dupla durante 32 anos.
Agora, Oswaldir celebra 50 voltas ao Sol desde que a primeira melodia ecoou para lhe avisar de que o seu caminho era a música. A data será celebrada nesta quarta-feira (27), às 20h, em show gratuito (mediante convite, já esgotado) no Gran Pallazo, em Passo Fundo, cidade que foi o berço da trajetória do cantor. A festa contará com a participação de alguns dos maiores amigos feitos por ele ao longo da carreira: Sérgio Reis, Renato Teixeira, Cristiano Quevedo, Dante Ramom Ledesma, Daniel Torres, Joel Marques, Pedro Almeida, Pedro Neves e o ex-companheiro de palcos Carlos Magrão, de quem separou-se profissionalmente em 2017, mas permaneceu unido na vida.
— Foi uma história bem legal e que ficou gravada. Eu agradeço ao destino por a gente ter se encontrado e feito esse trabalho tão bonito. É uma das coisas mais importantes na minha trajetória musical — avalia Oswaldir.
O encontro entre os dois ocorreu em meados dos anos 1980, quando se conheceram por acaso nos bastidores de um projeto e, mantendo contato, tempo depois firmaram uma parceria para tocarem juntos no bar Recanto Nativo, estabelecimento que marcou época em Passo Fundo como point da música nativista. Foi aí também que começou a trajetória de Oswaldir no gênero regionalista. Antes disso, o músico havia passado pelas bandas Os Rebeldes e Os Invencíveis, ambas adeptas do rock.
A dupla com Magrão não tinha grandes pretensões naquela época. Era mesmo para ser a atração "da casa" no Recanto Nativo, que também recebia artistas já renomados. Os dois só viram que podiam ir além quando receberam um "acorda pra vida" de peso.
— Um dia o Luiz Carlos Borges foi fazer um show lá e, na saída do evento, ele disse: "Olha, vocês não precisam trazer outros artistas aí. Os artistas são vocês dois" — lembra.
Foi a partir daí que ele e Magrão tomaram a iniciativa de lançar o primeiro dos 18 discos que colocariam no mundo ao longo das três décadas de parceria, marcada por sucessos como Santa Helena da Serra, Um Pito, Tetinha, Lago Verde Azul e o arranjo assinado por eles para Querência Amada, de Teixeirinha.
Após o fim da dupla, Oswaldir iniciou um projeto com o grupo Quinteto Nativo. A parceria terminou quando a agenda paralela do time de músicos dificultou a conciliação de datas — justificável, pois um deles era Pedro Almeida, que no ano passado viria a se tornar prefeito de Passo Fundo.
— Fiquei a pé de novo — brinca. — Eu sempre gostei de ter parceiros musicais. Então, montei a Oswaldir & Amigos, que é agora a minha banda.
É com este grupo que ele subirá ao palco do Gran Palazzo nesta quarta para receber os amigos artistas que incrementam a noite. A banda é formada por nomes como Maití, Tonho Júnior e Rafael Terres. Na ocasião, também será gravado um DVD e um CD, celebrando os 50 anos de carreira de Oswaldir:
— Vou tentar me segurar, porque já estou meio "curtido". Mas vai ser uma emoção, com certeza vai rolar um sentimento.
O material captado a partir do show deve chegar ao público em outubro, junto a um livro que também será lançado como parte das comemorações. A publicação, que conta a história da carreira de Oswaldir, deve vir encartada junto ao CD e ao DVD. O projeto tem patrocínio do programa Pró-Cultura, do governo do Estado.
Além disso, a intenção do músico é levar o espetáculo para outras regiões com a banda Oswaldir & Amigos, contando também com convidados que devem variar a cada local pelo qual passarem. Tudo isso para continuar celebrando as cinco décadas de música e, de quebra, seguir matando a saudade acumulada dos palcos — afinal, ao menos dois anos destes 50 foram longe deles, por conta da pandemia. Agora, Oswaldir diz que não pretende sair de cima do tablado tão cedo:
— Para quem tem a música na veia, o palco é sagrado, você tem de estar ali.