No fundo da lixeira cultural sbørniana Recykla Gran Rechebuchyn, um projeto permanecia intacto, esperando em silêncio por seu salvador. Em meio a outros materiais que se dissolveram por falta de consistência, Hique Gomez finalmente encontrou o HiperPampa, álbum que busca no tambor o ponto de fusão entre a cultura gauchesca e a afrobrasileira. Mas para terminar o resgate e lançar o CD, o artista ainda precisa da ajuda do público — e, por isso, abriu uma campanha de financiamento coletivo no Apoia.se, que vai até o dia 14 de abril e tem valor mínimo de R$ 10 por contribuição.
— É um material incrível, eu estou muito feliz. Mas o mais importante é colocar o pessoal dentro do projeto. Fazer as pessoas acompanharem as postagens, as lives que posto. Da mesma forma com que durante o período em que a gente está em cartaz as pessoas interagem conosco indo nos shows, e é isso que nos permite sobrevivência, da mesma forma estou abrindo esse material para as pessoas para que interajam com ele — declara.
As faixas que vão compor o projeto musical foram escritas por Hique ainda quando o espetáculo Tangos e Tragédias construía sua história nos palcos com a presença do artista e de Nico Nicolaievaki, falecido em 2014. Como na época não havia muito tempo disponível para focar no álbum — ainda mais porque a demanda pelo show da dupla era muito grande — ele acabou ficando para trás.
Com a chegada da pandemia e seu prolongamento para além das previsões iniciais, Hique investiu na webserie Sbørnia em Revista, no retorno aos palcos e, agora, quer desengavetar o Hiperpampa. Toda a ideia surgiu durante a visita da Imperatriz Dona Leopoldina a Sbørnia, quando a escola de samba fez turnês ao lado do Tangos e Tragédias. Nos camarins, os artistas começaram a experimentar diferentes fusões, sem qualquer compromisso. Dali, Hique acabou criando uma série de canções unindo dois mundos que, normalmente, não se cruzam.
— Normalmente, o folclore gaúcho está de um lado, e o afrobrasileiro está de outro lado. São duas correntes que não se cruzam. E nesse trabalho se cruzam. É o propósito — resume ele.
Por isso, engana-se quem pensa que o projeto, por ser uma coleção de antigas composições, não tem um propósito definido. Até mesmo — talvez especialmente — o nome do álbum carrega significado importante. Questionado sobre o assunto, Hique empolgou-se e logo tratou de explicar que aquilo que unifica o folclore do Rio Grande do Sul com regiões do Uruguai e Argentina é o pampa e, antes da colonização, as fronteiras entre Brasil e outros países não existiam.
— Não é uma região geográfica só, é uma região poética, conceitual. De qualquer forma, a natureza não reconhece essas fronteiras que o homem criou. A natureza é uma só por causa do clima, da botânica, dos acidentes geográficos, dos cursos de água e por causa do tipo humano que se miscigenou aqui nesta região. Isso é o hiperpampa, embora hoje não seja mais aquela região longe demais das capitais e se conecte com todo o globo através da tecnologia — explica ele.
Na plataforma de financiamento coletivo, o valor do projeto está estimado em R$ 45 mil, montante que deve ser utilizado para pagar desde custos de mixagem até gastos com pessoal especializado. E os fãs que contribuírem não saem de mão abanando: além de financiarem o projeto, recebem recompensas dependendo do valor doado, que incluem show exclusivo para apoiadores, um tênis da Sbørnia e até um happy hour na casa de Hique, com direito a levar um acompanhante e uma bela visita guiada pelo artista no espaço em que o projeto renasceu.