Após 20 meses sem se apresentar na Capital, Nei Lisboa volta a reencontrar o público porto-alegrense nesta sexta-feira (12). O cantor e compositor sobe ao palco do Teatro do Bourbon Country com o show intimista Voz e Violão, a partir das 21h. Na terça-feira (9), ele voltou a se apresentar no Abbey Road, em Novo Hamburgo. Nei diz que sente este momento de retorno aos palcos como se estivesse recebendo "liberdade condicional":
— A pandemia nos manteve todos aprisionados e tensos, e este momento alegre de libertação, que o público também vivencia, tem seu lado tênue e condicionado a que mantenhamos uma série de cuidados. Mas a emoção é a senhora do momento, pelos reencontros, pelo que cada um tem a resgatar e recuperar deste tempo de quarentenas e pela comoção social com as mais de 600 mil vidas perdidas.
Na apresentação, Nei revisitará o repertório de mais de 40 anos de carreira. O músico adianta que irá optar por músicas mais sutis e dedilhadas. Para ele, é o instante de retomar com tranquilidade o hábito do palco, chegando devagarinho para matar a saudade depois de tanto tempo.
O repertório também deverá incluir faixas do EP Pandora, previsto para sair ainda neste mês. Era para o álbum ter sido lançado em 2020, mas teve sua produção interrompida pela pandemia e acabou sendo viabilizado por financiamento coletivo. Segundo Nei, boa parte da produção do EP foi a distância, com os músicos gravando na sua própria casa.
Contendo cinco faixas, Pandora será seu primeiro trabalho de inéditas desde A Vida Inteira, de 2013. Depois, ele lançou o disco ao vivo Telas, Tramas & Trapaças do Novo Mundo, em 2015, que trazia três faixas novas. De acordo com o músico, o repertório de Pandora refletirá a era bolsonarista em suas letras, já que foram escritas de 2018 para cá:
— Não foi à toa que insisti em usar o nome de Pandora, ainda que não prime pela originalidade, já que todas as desgraças e maldades inimagináveis do mundo estão patrocinadas por esse governo e seus adeptos. As músicas carregam uma energia forte e reparadora em relação a isso, de humor, de luta e de confiança, mas o assunto, sim, é essa era de tristezas e baixarias.
No domingo (7), ele lançou o primeiro single do álbum, intitulado Capitão do Mato. A faixa mira o presidente Jair Bolsonaro. O "mato" sugere também uma conjugação verbal, que se direciona, segundo Nei, "a quem simula uma arma com a mão ou a quem menospreza a morte de centenas de milhares de brasileiros durante a pandemia".
— Tentei uma descrição do personagem no mesmo tom de perversidade e estupidez que lhe é habitual, mas não cheguei nem perto. O sujeito é imbatível nessa seara. E é hoje a representação do nosso país, queiramos ou não, oficial e simbólica, com a qual estamos tendo de conviver. Merecemos coisa muito melhor do que isso — declara.
Batalha
Ao longo da quarentena, o músico promoveu o projeto Nei em Casa e (ao) Vivo, realizado a partir de seu site e plataformas digitais. Ele publicava textos e vídeos e realizava lives — tanto musicais quanto debates sobre a situação política e social do Brasil e da cena internacional. Conforme Nei, o projeto serviu para construir um espaço carinhoso de diversão, música e informação diretamente com seu público.
— O improviso e o desapego a uma agenda sempre fizeram parte, então não tenho ideia ainda de até onde eu e a Cintia (a designer Cintia Belloc, esposa dele) vamos com o programa. Mas não quero deixar de lado, por mais que a pandemia se vá — ressalta.
Em março deste ano, Nei chegou a ser internado por 12 dias no Hospital de Pronto Socorro de Porto Alegre (HPS) por conta do coronavírus. O músico anunciou nas redes sociais, no dia 13, que ele e a esposa haviam testado positivo para covid-19. Na ocasião, Nei salientou que estava bem, com sintomas mínimos, saturação normal e acompanhamento médico. Porém, ele precisou ser internado no HPS no dia 18, quando foi constatado que estava com comprometimento pulmonar.
O músico lembra que viveu momentos extremos na internação, observando que o negacionismo e o descaso com a vacina acabaram promovendo o momento mais crítico da pandemia no país, no mês de março:
— Vi pessoas agonizando e falecendo por conta de uma "gripezinha", vi um sistema de saúde à beira do colapso por falta de uma política de enfrentamento à covid-19. Estou em plena saúde, sem qualquer sequela física, e só posso agradecer à sorte e aos que por mim torceram. Mas todos nós, os que sobrevivemos e testemunhamos um genocídio, estamos tocados e transformados por esse tempo que se espera que jamais volte a se repetir.
“Voz e Violão”, com Nei Lisboa
- Sexta-feira (12), às 21h, no Teatro do Bourbon Country (Av. Túlio de Rose, 80), em Porto Alegre
- Ingressos a R$ 60 (galerias, mezanino e plateia alta) e R$ 80 (plateia baixa e camarote), à venda pelo site uhuu.com
- Desconto de 50% para os primeiros 50 sócios do Clube do Assinante