"Quero ser a protagonista da minha vida", anuncia Luísa Sonza sobre o seu novo álbum Doce 22 lançado no domingo (18), como marco de despedida da idade. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, a cantora fala sobre a obra que enaltece os sentimentos vividos por ela durante o ano de 2020, que resultaram no segundo disco de sua carreira.
— No ano passado inteiro eu fui passando por cima de tudo, porque não tinha outra opção, tive de aguentar. Só que agora, estou começando a ver as sequelas que tudo isso deixou na minha vida. Hoje em dia eu entendo que tenho muito mais força para mostrar a minha vulnerabilidade e falar "cara, eu não estou bem" — desabafa Luísa, que sofre com ataques na internet desde 2017, quando começou sua carreira.
Os discursos de ódio, no entanto, atingiram outro nível em abril de 2020, quando a cantora anunciou o término do casamento com o humorista Whindersson Nunes. A partir daí, sua vida amorosa começou a ser pauta para os "haters", muito mais do que sua carreira. A tal nível que Luísa foi diagnosticada com depressão e, no dia 4 de junho, sua assessoria comunicou seu afastamento das redes sociais para cuidar da saúde mental, adiando o lançamento do álbum.
Luísa, no entanto, não é exceção. A maioria das mulheres jovens e talentosas - brasileiras ou estrangeiras - sofreu na mão daqueles que buscam por fofocas. Foi assim, por exemplo, com Britney Spears. Em seu documentário disponível no Globoplay, Framing Britney Spears: A Vida de uma Estrela, que concorre como melhor na categoria do Emmy 2021, o abuso da mídia e da tutela à qual a americana é submetida há 13 anos são explorados.
— Eu me identifico muito com toda a história da Britney. De ela sofrer com a mídia, com as mentiras inventadas sobre ela, com o relacionamento com o Justin Timberlake. Ver a história dela, me ajudou muito a estar aqui conversando com você, sabe? — reflete a cantora.
A admiração foi tanta que a diva pop é homenageada na faixa 2000 s2. Além do ritmo bem característico das músicas da estrela americana, Luísa fez um ensaio fotográfico com roupas e poses idênticas às fotos de Britney no início da sua carreira.
— Essa foi a última música que escrevi para o álbum e é uma das minhas preferidas — diz.
De acordo com ela, as divas pop foram grande fonte de inspiração, especialmente para a estética visual de Doce 22. Mas musicalmente, a influência veio de sua própria criação.
— Por muito tempo, especialmente pelas meninas do pop do Brasil terem suas raízes muito claras, eu ficava me perguntando de onde eu era. E minhas influências são de uma menina que foi criada cantando tudo o que você imaginar. Então decidi colocar isso — explica ela, que nas 14 faixas do álbum explora MPB, funk, trap e sertanejo.
Dois lados
Doce 22 é dividido em dois, sendo o lado A uma espécie de empoderamento da sua dor com letras fortes, ousadas e ritmos sensuais e dançantes. Enquanto o B traz uma faceta mais sensível e melódica. A dualidade é percebida também nos títulos, que se dividem em nomes maiúsculos e minúsculos.
Da sua casa, tomando um chimarrão e mostrando maturidade em suas respostas, a cantora garante a existência dos dois lados, mesmo em uma entrevista.
— Eu já quis excluir a Luísa safada, porque achava que as pessoas não iriam me aceitar e eu fingia uma Luísa santinha. Mas as pessoas não me aceitavam igual. E aí eu fui só a safada, mas eu senti falta do outro lado porque eu não sou nem um nem outro, eu sou os dois — afirma.
O nome Doce 22 faz referência ao Sweet 16, celebração que marca o início da maturidade na vida de uma menina em alguns países, mas também poderia ser uma alusão a sua própria vida que antes, com 16 anos, não tinha a pressão midiática de hoje.
Na música, a cantora fala justamente sobre a saudade da vida calma no interior do Rio Grande do Sul, antes do sucesso, em uma espécie de carta para o pai Cezar Luiz - que saiu em defesa da filha, em setembro de 2020, contra os ataques na internet.
— Eu ainda não sei tudo o que o álbum representa e tudo que ele é. Eu simplesmente o fiz de uma maneira muito visceral e intuitiva. Não é algo totalmente consciente, é uma coisa que veio numa explosão — comenta.
Juntando as duas partes, a faixa 8 é um interlúdio. Ou seja, um trecho em que a música para e a cantora filosofa sobre o amor.
— Esse álbum inteiro é muito sobre o amor como um todo. O amor de ser aceita, de ser amada do jeito que você é. Eu vejo o amor de uma maneira muito mais abrangente do que só o amor de casal e o álbum mostra muito isso —explica ela, que fala também do autoconhecimento adquirido durante o processo de criação.
Doce 22 é tão pessoal que, de acordo com a cantora, foi um dos projetos a que ela mais se dedicou em sua vida. Tanto que assina a composição de todas as músicas, e ainda faz sua estreia como produtora musical do álbum, em parceria com Doug Moda. Ela também assina o roteiro e a direção criativa, além da codireção de dois clipes do projeto, VIP *-* e Melhor Sozinha :-)-:. Ambos já disponíveis em seu canal do YouTube.
Mas além do trabalho solo, Doce 22 também traz parcerias com Ludmilla, em Café da Manhã, com Jão, em fugitivos, e com o rapper americano 6lack, em VIP. Três faixas que, apesar de anunciadas na tracklist, serão lançadas posteriormente.
Além disso, tem Anitta e Pabllo Vittar em Modo Turbo; a estrela do reggaeton Mariah Angeliq em Anaconda; e até Lulu Santos em também não sei de nada, música que fecha o álbum e conclui: "O que causa dor, todo mundo brigando e querendo falar de amor. Vamos combinar? Acho que a gente no fundo virou muito faladora". Frase que permite uma ligação direta com a primeira faixa, Intere$$seira, na qual Luísa cita adjetivos que já recebeu de desconhecidos.
Além do álbum
Diariamente, Luísa divulga nas redes fotos e uma música do álbum, numa tentativa de criar uma identidade visual para cada uma.
— Como é um álbum que a maioria das músicas não vai ser audiovisual, vai ser somente áudio, a gente teve a ideia de fazer o anúncio da tracklist com fotos para as pessoas entenderem o universo de cada música — explica ela. — Acho que deixei intensidade em cada cantinho desse álbum — acrescenta.
E como nem tudo pode ser dito em 14 faixas, Luísa também lançará um enhanced album, espécie de disco exclusivo com trilhas de áudio, vídeos e outras surpresas, que permite ao artista se envolver com os fãs sobre a inspiração, história e criação de um álbum.
A ação, apesar de frequente nos Estados Unidos, é inédita no Brasil.
— Eu fiquei muito lisonjeada com o convite do Spotify. É uma oportunidade incrível trazer isso para o Brasil e falar um pouco de cada música. Estou bem ansiosa porque eu só gravei, não vivi a experiência — brinca.
Doce 22, que já tem uma conta no Instagram com mais de 38 mil seguidores, incluirá ainda um programa semanal no Multishow, o Prazer, Luísa, com previsão de estreia para o dia 7 de agosto, às 20h. Nele, a cantora, ao lado da influenciadora e humorista Lorrane Silva, mais conhecida como Pequena Lô, receberá convidados musicais e vai falar sobre sua história e carreira, além de contar detalhes do projeto transformado em álbum.
"Talvez vocês nem entendam nada desse álbum ou o entendam todo errado. Ou talvez vocês finalmente possam me entender", afirmou a cantora quando divulgou a capa, no dia 12 de julho. Durante a entrevista, ela confessou:
— Eu não queria que ele fosse visto como algo para alguém. É sobre como eu senti o ano de 2020, é sobre a minha vida.
E que vida! Agora com 23 anos, Luísa fez parte da Forbes Under 30, lista que destaca os mais brilhantes empreendedores, criadores e "game changers" brasileiros abaixo dos 30 anos, já recebeu certificado de diamante por vários singles e também placa de ouro por seu primeiro álbum, Pandora. Fatos que podem - e devem - ser levados muito mais em conta do que seu corpo, sua sexualidade ou relação amorosa.