Da comunidade Nin-Jitsu até Snoop Dogg, Anitta, Diplo e depois de volta a Porto Alegre. O DJ Chernobyl, guitarrista da banda de rock, lançou nesta sexta-feira (16) seu primeiro projeto envolvendo a cena do rap da Capital, equacionando ritmos brasileiros e latinos em uma proposta de desamericanizar a música nacional. Viabilizado por meio da Lei Aldir Blanc, foi em parceria com a Fundação Marcopolo que o artista se juntou a outros quatro MCs do município para criar o EP Gueto Tropical, disponível nas plataformas de streaming.
— Temos muita cultura de ritmo no Brasil, quando se fala em produção de hip-hop, estamos falando de beat. Eu acho importante que o artista brasileiro valorize sua raiz, é uma maneira de se diferenciar do cenário exterior. Tu lança uma música agora e todos os celulares do mundo vão ter acesso. É uma sacada legal, não tem porque omitir toda a riqueza brasileira quando vou fazer um beat — explica o produtor musical.
Apesar de já ter feito parceria com nomes do rap de São Paulo, esta é a primeira aventura do DJ com MCs da capital gaúcha. Antes disso, alçou outros voos em sua carreira, como o trabalho com Diplo em Mad Decent, os remixes de faixas de Pabllo Vittar e a co-autoria de Little Square (U bitchU) de Snoop Dogg e Anitta.
Um dos nomes que faz parte de Gueto Tropical é Negra Jaque, vencedora do Prêmio Açorianos de melhor compositora e que já participou de show da Elza Soares. Na música Bota o Tambor para Tocar, ela aborda a importância do instrumento na religião, festas e celebrações. Aqui a mistura é entre o trap e o baile funk, com um beat carregado por atabaques.
— Na minha concepção, o tambor é o primeiro instrumento, eu tenho uma fascinação por ele porque se veste de diversas formas. Acho que essa mistura é muito alegre. Além do batidão, tem uma narrativa da história do tambor e da presença negra na nossa vida, ele cadencia tudo o que a gente faz — diz Jaque.
Outra convidada é Cristal, MC que foi campeã regional de slam quando tinha 15 anos e gravou Deus Dará, com Djonga. Em Black Panther, a rapper é embalada pelo beat que flerta com o trap e percussões do samba. Já A Braba das Brabas traz os vocais de Daya Moraes e uma mensagem de aceitação e empoderamento, em ritmo de rap e rasteirinha, originário do Nordeste. Estilo Latina marca o único título cuja mistura não é brasileira, mas integra a musicalidade presente na fronteira por meio da cumbia e do reggaeton, com Seguidor F nos microfones.
— São ritmos que flertam com naturalidade com a cadência do bumbo e da caixa do hip-hop. Nenhuma mistura é forçada, todas se dão com naturalidade. Não é aquela coisa de fazer uma experiência só para dizer que eu fui o primeiro. Elas realmente mixam bem, tanto em nível rítmico quanto de frequências sonoras — justifica o DJ.
Além de todo o trabalho musical, também estão disponíveis no YouTube quatro episódios de um mini-documentário sobre o processo de produção do EP. Apesar de ser a primeira experiência do produtor com a cena daqui, ele adianta que vem mantendo conversas com integrantes do EP para continuar fortalecendo o rap e o hip hop de Porto Alegre. Tudo isso, claro, incluindo muita brasilidade na conta.