A inspiração para a musicalidade pode vir do berço. Pode estar no sangue. Ser construída no cotidiano da infância. Com o Dia dos Pais se avizinhando, neste domingo (9), GaúchaZH falou com quatro artistas que são filhos de músicos renomados do Estado. O objetivo era saber como esses pais os inspiraram e os apoiaram — e o que admiram neles. São filhos que também seguiram o caminho da música e construíram sua própria trajetória.
Neto Fagundes, filho de Bagre
Ao lado de seus irmãos Ernesto e Paulo, Neto tem o seu Bagre Fagundes como inspiração e fortaleza para trilhar os seus passos em sua trajetória musical. Juntos, eles formam o quarteto Os Fagundes. Segundo Neto, a admiração pelo seu pai como artista vem desde a infância.
— Quando o assisti cantando pela primeira vez num baile da cidade, fiquei pensando: “Bah, meu pai é um superartista”. Até hoje, com quase 81 anos, está conosco na estrada fazendo música e ouvindo suas canções sendo cantada pelos filhos. É um grande orgulho. Meu pai escreveu seu nome na história da música gaúcha com belas canções. O pai é um artista muito completo: canta, compõe, toca gaita e violão, conta histórias. É muito bom conviver com ele — relata.
E o apoio esteve presente desde o começo, garante:
— Acreditou muito em mim lá no início. Eu não tinha nem 18 anos ainda quando ele me deu as primeiras músicas dele para cantar. Hoje, são músicas que viraram ferramenta de trabalho para mim, como Origens e Canto Alegretense. Sou muito agradecido.
Outro aspecto que Neto destaca de Bagre é a coragem em apoiar a carreira artística dos filhos:
— Naquela época e morando no Interior, fazer um filho artista era algo que a sociedade não entendia muito bem. “O cara tem que ser médico, engenheiro ou advogado”. Mas ser artista não era uma coisa muito credenciada. O pai foi corajoso nesse sentido.
Pedro Borghetti, filho de Renato
Filho de Renato Borghetti, um dos maiores acordeonistas do país, Pedro trilha sua carreira com a voz e o violão. Em 2019, ele lançou seu primeiro disco, Linhas de Tempo. Este ano, lançou o álbum de estreia do projeto OBSP. O músico conta que seu pai é, certamente, uma inspiração:
— Lembro de ouvir música com o pai no carro, nas viagens. De ouvir as histórias sobre as pessoas que estavam naquelas músicas. Escutei muito tipo de música: mineira, instrumental, rock, erudita. O pai escuta tudo. Ele é muito eclético. Essas histórias que ele contava por trás das músicas sempre me deixavam curioso e iam me cativando.
Renato também o incentivou a tocar um instrumento, o que Pedro quisesse. Aos 12 anos, ele ganhou seu primeiro violão do pai, que o ensinou a tocar as primeiras músicas. Pedro cursou a faculdade de design de produtos e teve uma empresa de marcenaria, mas quando a música foi tomando maior proporção em sua vida, seu pai o chamou a atenção:
— Ele me disse: "Olha, a música tem um lado bonito que a gente conhece, mas também tem o lado sério, tem que ter muita atenção e dedicação. Não é fácil, não vai cair do céu, tem que correr atrás”. Ele me incentivou muito nisso, de estar atento. Quanto mais formas de informação, melhor. Isso me deu muita força.
Pedro diz que tem muito a agradecer a Renato:
— Ele é desde o ouvido até a ponta da caneta. Meu pai me levou a sabedoria dele, sempre me incentivou e apoiou. Sou muito grato por todos os ensinamentos e por todos os sons que a gente ainda vai escutar e fazer juntos.
Pedro Petracco, filho de Márcio
Baterista de bandas como Cartolas e Império da Lã, além de ter o seu trabalho solo Pederneiras, Pedro é filho do multi-instrumentista Márcio Petracco (TNT, Cowboys Espirituais, Locomotores, Tenente Cascavel, Conjunto Bluegrass Porto-Alegrense, entre outros). Ele fala sobre as características que admira de seu pai:
— A musicalidade do meu pai é bastante irrestrita, apesar de ele trabalhar mais com rock, blues, folk, country de raiz, entre outros. Sempre teve nesse ambiente musical um pouco de samba, soul, rap, R’n’B, música folclórica e regional de outros lugares também. Ele tem uma didática empírica, bem característica e supertransparente, que até transcende os aspectos artísticos. Ele sempre me tratou de igual para igual, e isso é muito saudável.
Ian Ramil, filho de Vitor
Ian, que prepara o seu terceiro disco, relata que seu pai é extremamente importante para a sua formação musical. Ele cresceu em uma casa ouvindo música o dia inteiro, conhecendo uma diversidade sonora do mundo inteiro. E sempre tinha um violão ao alcance.
— Meu pai sempre deixava os violões dele espalhados pela casa. Um violão no sofá, outro em um canto, tinha sempre um violão à mão. É uma coisa que certamente colaborou muito com meu processo de aprendizado musical. Volta e meia estava ali, passava a mão no violão, tocava alguma coisinha e ia fazer outra. Estava sempre à vista e próximo — lembra.
Ian conta que costuma compartilhar sua produção musical com o pai. Sempre ouviu atentamente as sugestões de Vitor.
— Sempre teve uma troca muito direta, sempre me estimulou bastante, mas sem fazer pressão para nada. Sempre foi essa história do violão em cima das coisas me estimulando a tocar, mas sem exigir nada de mim. Sempre me apoiando, com uma visão crítica, fazendo sugestões e elogios, sempre de um jeito muito legal — destaca.
Consequentemente, o pai é uma referência natural:
— Ele desenvolveu com o passar dos anos uma identidade muito forte na música dele. Tem um violão, uma melodia e um estilo de composição peculiares, realizados com muito rigor. Uma construção muito bem feita da arte dele. Apesar de eu ter caminhos e processos diferentes, é uma referência importante: a vontade de estar sempre se superando.