O Gigantinho da Elis Regina, do Genesis, dos Ramones, do Menudo, do Raul Seixas, do Van Halen, do RBD, dos Engenheiros do Hawaii, do Iron Maiden, do Bob Dylan, da Legião Urbana, da Avril Lavigne, do Eric Clapton e do Oasis, entre tantos outros grandes nomes da música: inaugurado em 1973, o ginásio do Internacional, localizado ao lado do Estádio Beira-Rio, consagrou-se como o palco de shows memoráveis em Porto Alegre, recebendo atrações nacionais e internacionais para todos os gostos. Depois de anos fora da rota dos grandes espetáculos, a expectativa é de que o Gigantinho volte a fazer história em um mundo pós-pandemia.
Na última quinta-feira, como noticiou o colunista Leonardo Oliveira, de GaúchaZH, o Inter entrou na etapa final para a definição de uma parceria para reformar e reativar o Gigantinho. A proposta apresentada pelo consórcio formado pelas produtoras gaúchas Opus e DC7 atendeu aos requisitos pretendidos pelo clube e foi a escolhida entre as três que apresentadas após convocação por edital lançado há um ano.
Agora, o Conselho de Gestão do Inter irá elaborar com os novos parceiros a minuta do contrato, que valerá até 2040. Em seguida, o acordo será encaminhado para aprovação do Conselho Deliberativo. A tendência é tudo ficar resolvido ainda neste ano.
O novo gestor deverá manter o perfil de multiuso do Gigantinho, para abrigar também eventos esportivos. A arquitetura na reforma deverá seguir a linha do Beira-Rio, remodelado para receber jogos da Copa do Mundo de 2014.
Ainda não foram divulgadas informações sobre a futura capacidade — em seus tempos áureos, o local abrigou shows com 15 mil a 17 mil espectadores, em média. Procuradas pela reportagem, a Opus e a DC Set afirmaram que só irão se pronunciar quando todos os detalhes do projeto estiverem definidos.
Nos últimos anos, os eventos no Gigantinho foram escasseando: as apresentações de médio ou grande porte passaram para outros espaços de Porto Alegre, como a Arena do Grêmio, o Beira-Rio e o Pepsi On Stage. O ginásio ensaiava uma retomada de shows, em outubro de 2019, por exemplo, recebeu o festival Rock ao Vivo (com as bandas Helloween, Whitesnake e Scorpions).
Também no ano passado, a Opus teve seu contrato de administração do Auditório Araújo Vianna encerrado. Um novo edital foi promovido pela prefeitura de Porto Alegre, e a Opinião Produtora assumiu o local. Alguns shows da Opus começaram a ir para o Gigantinho, como o de Lulu Santos, em dezembro — o espetáculo O Grande Encontro (Alceu Valença, Elba Ramalho e Geraldo Azevedo), que estava previsto para março, foi adiado por conta da pandemia.
Mágico
Além das atrações nacionais e internacionais, muito da história da música brasileira passou pelo Gigantinho. Foi nele que Elis Regina realizou seu último show na Capital, em 1981. No ginásio foi realizado, em 1985, o festival Rock Unificado, que daria origem ao disco Rock Grande do Sul – com DeFalla, Engenheiros do Hawaii, Garotos da Rua, Os Replicantes e TNT –, catapultando nacionalmente o cenário emergente do rock gaúcho.
— É representativo porque, além dos shows que recebeu, durante muito tempo foi o único lugar que comportava espetáculos com mais de três mil espectadores — diz o jornalista e radialista Paulo Moreira.
O jornalista Lucio Brancato também destaca a questão da capacidade do ginásio:
— Além da diversidade de shows de diferentes gêneros musical, seu tamanho é ideal para shows de médio a grande porte que não lotariam espaços maiores, como estádios. Se não houvesse espaço "menor", muitos shows nem passariam pela Capital.
Para o comunicador da Rede Atlântida Porã Bernardes, outras qualidades do Gigantinho podem ser realçadas:
— Aquela pista do Gigantinho é muito bacana. A gente encontra as pessoas e tem uma aproximação legal do palco. Bom de ver de qualquer lugar onde você está. É fácil de chegar, tem transporte para todos os lados da cidade.
Para os artistas do Rio Grande do Sul, o Gigantinho pode ser encarado como um lugar mágico para shows, como conta o cantor Beto Bruno, ex-vocalista da Cachorro Grande.
— Eu sou de Passo Fundo, então, muitas vezes ia para Porto Alegre assistir a shows. Imagina um cara do Interior tocando naquele palco? Era um sonho que se realizou — afirma.
Com a Cachorro Grande, o show mais importante que ele lembra de ter realizado no local foi a abertura para o Oasis, em 2009.
Humberto Gessinger recorda ter lançado três discos de Engenheiros do Hawaii no espaço: em 1989 (Ouça O Que Eu Digo, Não Ouça Ninguém), 1990 (Alívio Imediato) e 1991 (Várias Variáveis). Para o músico, se apresentar no Gigantinho foi uma espécie de consolidação da carreira.
— Tenho muito orgulho de ter tocado em todos os tipos de espaço em POA. Desde o auditório da Arquitetura (UFRGS), onde fiz meu primeiro show, passando aos pequenos bares, teatros maiores, e o Araújo Vianna — lembra. — Quando cheguei ao Gigantinho, já havia pisado em todos os degraus da escada, e foi um marco na minha carreira.
No entanto, Humberto acena para um problema pelo qual o Gigantinho é alvo de reclamações:
— A acústica era complicada, ainda mais quando se trabalhava com técnicos de som de fora, que não conheciam bem o espaço. Mas a “vibe” compensava.
Acústica
Originalmente, o Gigantinho não foi projetado para ser uma arena de concertos musicais. Trata-se de um espaço fechado destinado ao esporte. Consequentemente, a sonoridade pode não ser a ideal no ginásio em determinadas apresentações.
— Mesmo com o público fazendo o papel de absorvente das ondas sonoras refletidas de forma caótica, a grande queixa é sempre o chamado som embolado, aquela dança maluca de frequências brigando umas com as outras e se anulando — explica o produtor musical Ticiano Paludo.
O engenheiro de som Marcos Abreu reforça que o Gigantinho não tem tratamento ou isolamento acústico:
— O ginásio não tem tratamento para os ruídos que entram ou que saem. Não tem um tratamento acústico interno, pois é um espaço imenso e precisa ter um nível de absorção interna para poder comportar outros tipos de eventos além dos esportivos.
Abreu ainda destaca que toda a parte de forro tem que ser reforçada, para suportar a carga do isolamento acústico e do tratamento interno.
Expectativas
Com a revitalização do Gigantinho, a expectativa no meio musical é de que o espaço volte a se consolidar como um importante palco de porte intermediário.
— Um espaço alternativo de médio porte para apresentações que não dariam casa cheia em estádios, por exemplo — assinala Brancato.
O jornalista e colunista do Segundo Caderno Juarez Fonseca corrobora:
— Gigantinho poderá também participar da revitalização da cena dos shows fechados para mais de 10 mil pessoas em Porto Alegre. Show maiores do que a capacidade do Araújo Vianna e do Pepsi On Stage e menores do que a dos estádios. Porque as boas condições permanecem lá, facilidade de acesso, estacionamento etc.
Alguns shows que passaram pelo Gigantinho
ROCK
- Rick Wakeman (1975)
- Genesis (1977)
- Van Halen (1983)
- The Cure (1987)
- New Order (1988)
- Motorhead (1989)
- Eric Clapton (1990)
- Faith no More (1991)
- Bob Dylan (1991)
- Iron Maiden (1992 e 2008)
- Ramones (1991 e 1994)
- Red Hot Chili Peppers (2002)
- Pearl Jam (2005)
- Oasis (2009)
- Green Day (2010)
- Ringo Starr (2011)
- Ozzy Osbourne (2011)
- Robert Plant (2012)
- Kiss (2012)
NACIONAL
- Secos e Molhados (1973)
- Elis Regina (1981)
- Festival Rock Unificado (1985)
- Legião Urbana (1985, 1988, 1990 e 1994)
- Raul Seixas + Marcelo Nova (1989)
- Mamonas Assassinas (1995)
POP
- Menudo (1985)
- Hanson (2000)
- Avril Lavigne (2005)
- RBD (2006 e 2007)
- Jonas Brothers (2010)