O Projeto Casa Virtual promove um encontro musical entre pai e filho neste sábado (8), véspera de Dia dos Pais. Vitor e Ian Ramil se reunirão em transmissão ao vivo, às 20h, pelo Instagram da Casa de Cultura Mario Quintana (@ccmarioquintana).
Na live, pai e filho devem dialogar sobre processos criativos e memórias afetivas da casa alicerçada pela arte da família Ramil. É claro, a música também está prevista.
— A ideia é que a gente tenha uma conversa bem livre. Que a gente toque alguma coisa também. Mas está super em aberto. Vai ser uma surpresa para mim também — diz Ian.
— Como vamos estar com o violão por ali, pode ser que cada um toque mais alguma coisa — completa Vitor.
O encontro também contará com a participação da filha de Vitor, a artista visual Isabel Ramil. Ela vai disponibilizar uma vídeo-performance, criada em parceria com seu pai, para ser apresentada na live. Segundo sua descrição, o trabalho reverbera os afetos entre filha e pai. A performance ficará disponível no Instagram da CCMQ após a transmissão.
Projetos e disco novo
A live com Vitor e Ian será feita a distância: pai e filho não se veem pessoalmente desde março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a caracterizar a covid-19 como uma pandemia. Vitor vive em Pelotas, e Ian mora em Porto Alegre.
De lá para cá, os dois estiveram "juntos" nos dois clipes gravados pelo projeto Casa Ramil: Deixando o Pago e Noite de São João.
Entre os seus lançamentos mais recentes, Vitor disponibilizou o clipe da faixa Labirinto, do disco Campos Neutrais (2017). O vídeo marca um dos últimos trabalhos do ator Marco Antonio Krug, que morreu no final de julho.
Vitor ainda disponibilizou sua versão musicada do poema Uivo, de Allen Ginsberg, baseada na tradução de Cláudio Willer. Entre os planos do músico ainda está um disco em que transformaria a poesia de Angélica Freitas em música.
Já Ian prepara seu terceiro disco, que deve ser lançado em 2021. As composições do novo trabalho foram criadas a partir do nascimento de sua filha, Nina (ela completa quatro anos em novembro).
— Esse momento é um ponto de virada na minha vida pessoal e criativa. É um disco bem diferente do que fiz até agora. Tem uma outra onda poética e estética. Apesar de se preservar uma identidade artística, mas vem de um outro lugar. Foi um processo mais solitário de construção e composição — descreve.
De pai pra filho, de filho pra pai
Para Vitor, Ian dá saltos muito grandes de um trabalho para o outro. O músico destaca que o filho é destemido e aprende muito, o que se aplica em Isabel também.
— Meus dois filhos são assim. Eles têm essa característica, são bastante radicais em termos de buscas. Estão sempre visando a questão artística autoral. São supercoerentes — orgulha-se.
Vitor descreve Ian como uma pessoa bastante musical e inquieta:
— Ele tem uma voz linda e canta super bem. Voz com os graves generosos. Percebo que ele é muito exigente tecnicamente. Faz coisas bem realizadas. São coisas que fico feliz de ver. É um cara que sempre vai em frente no que faz, toca bem violão, canta, é inspirado, superpreparado tecnicamente. É muito ligado nas questões da geração dele.
Vitor destaca que também aprende muitas coisas com os seus filhos. Há muita troca através do diálogo:
— Sempre falamos tudo com muita franqueza. Discutimos fortemente sobre arte. Tanto eles me ouvem quanto eu escuto muito eles. Eu submeto muita coisa à apreciação dos dois, tanto do Ian quanto da Isabel. E eu escuto muito o que eles dizem. Eles têm posições fortes. Confio muito nas coisas que eles dizem. Faz muito bem para gente, influencia demais.
Ian relata que seu pai é extremamente importante para a sua formação musical. Ele cresceu em uma casa ouvindo música o dia inteiro, conhecendo uma diversidade sonora do mundo inteiro. E sempre tinha um violão ao alcance.
— Meu pai sempre deixava os violões dele espalhados pela casa. Um violão no sofá, outro em um canto, tinha sempre um violão à mão. É uma coisa que certamente colaborou muito com meu processo de aprendizado musical. Volta e meia estava ali, passava a mão no violão, tocava alguma coisinha e ia fazer outra. Estava sempre à vista e próximo — lembra.
Ian conta que costuma compartilhar sua produção musical com o pai. Sempre ouviu atentamente as sugestões de Vitor também.
— Sempre teve uma troca muito direta, sempre me estimulou bastante, mas sem fazer pressão para nada. Sempre foi essa história do violão em cima das coisas me estimulando a tocar, mas sem exigir nada de mim. Sempre me apoiando, com uma visão crítica, fazendo sugestões e elogios, sempre de um jeito muito legal — destaca.
Consequentemente, o pai é uma referência natural:
— Ele desenvolveu com o passar dos anos uma identidade muito forte na música dele. Tem um violão, uma melodia e um estilo de composição peculiares, realizados com muito rigor. Uma construção muito bem feita da arte dele. Apesar de eu ter caminhos e processos diferentes, é uma referência importante: a vontade de estar sempre se superando.