Diga-me com quem andas e te direi quem és. A validade do dito popular pode ser colocada à prova no novo show de Vitor Ramil. Influenciado pela poeta Angélica Freitas, amiga e ex-vizinha, Vitor descobriu novas facetas de sua musicalidade: compôs pela primeira vez um blues, um samba e até uma canção pop ao estilo de Roberto Carlos.
– Dessas de tocar na rádio, sabe? – explica o cantor.
As novidades poderão ser conhecidas nesta sexta-feira, sábado e domingo, nos três shows que o músico pelotense apresenta no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. O repertório é formado apenas por canções que Vitor está compondo a partir de poemas dos livros Rilke Shake (2007) e Um Útero É do Tamanho de um Punho (2013), de Angélica. E o gerúndio na expressão "está compondo" não é à toa: tratam-se de canções que estão em pleno processo de criação de melodias e arranjos.
– Estarei sozinho no palco, mostrando as canções como estão sendo compostas. É muito legal a experiência de mostrar coisas novas ao público. À medida que estou tocando, vou descobrindo como cantar, mudando arranjos, melodias – conta Vitor.
O show, que ganhou o nome de Avenida Angélica, é inédito. O cantor não tem planos definidos para sua sequência.
– É uma obra em progresso. Pretendo gravar essas canções no futuro, mas não sei de que modo, se será uma gravação em vídeo ou em áudio, se sozinho ou com uma banda – diz Vitor.
Apesar de ser conterrâneo de Angélica, o músico ouviu falar pela primeira vez da poeta em São Paulo, em 2008. Por ocasião do lançamento do livro Satolep, Vitor encontrou seu editor, Augusto Massi, que aproveitou para lhe oferecer uma cópia de Rilke Shake. Ele ficou fascinado pela musicalidade dos versos e logo musicou alguns versos – o primeiro resultado foi a canção Stradivarius, que entrou no álbum mais recente de Vitor, Campos Neutrais (2017).
– A poesia de Angélica tem um frescor e uma leveza extraordinários. Ela tem um olhar direto, sutil e muito afiado para coisas da vida aparentemente não poetizáveis. Conversando com ela, descobri que ela ouviu muito rádio, que era uma coisa que eu nunca acompanhei muito. Tem até um poema chamado R.C., para o qual intuí uma levada parecida com as canções do Roberto Carlos. Depois, ela me confirmou que o R. C. do título era uma referência a Roberto – conta Vitor.
Poesia, violão e muitos mates
O convívio entre músico e poeta se estreitou a partir de 2010, quando Angélica voltou a morar em Pelotas, a uma quadra da casa de Vitor – ela vinha de temporadas na Holanda e na Argentina. Em 2017, Angélica deixou novamente a cidade natal, dessa vez para morar em São Paulo. A autora não estará em Porto Alegre para Avenida Angélica, pois viajou para a Inglaterra, mas mandou um vídeo com um poema, que deve ser projetado no Theatro – o espetáculo conta com projeções e cenografia de Isabel Ramil.
– Lembro de tomar muitos mates com o Vitor. Ele tocava as canções que havia composto a partir dos meus poemas e pedia a minha opinião. Eu achava tudo maravilhoso, é claro, e me sentia muito sortuda por estar ali na frente dele, ouvindo o som inconfundível daquele violão – recorda Angélica Freitas.
A poeta, que deve lançar seu terceiro livro no próximo ano, afirma que o amigo e conterrâneo é uma inspiração para sua carreira:
– O Vitor é um exemplo de integridade, um cara que fez suas escolhas. Quando preciso de um alento, penso nele naquela casa em Pelotas, rodeado de livros, com o violão por perto, sempre fazendo música e escrevendo.
VITOR RAMIL EM “AVENIDA ANGÉLICA”
Nesta sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 18h.
Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/nº), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 130 (plateia e cadeira extra), R$ 120 (camarote central), R$ 80 (camarote lateral) e R$ 40 (galerias).
À venda na bilheteria do local hoje, das 13h às 18h30min; amanhã, das 13h até o início do espetáculo; e sábado e domingo, das 15h até o início do espetáculo. Venda online em teatrosaopedro.com.br.