Sempre que recebia amigos em casa, o produtor musical João Marcello Bôscoli escutava a mesma pergunta: "Você se lembra da sua mãe?" Filho mais velho de Elis Regina, Bôscoli tinha 11 anos em 19 de janeiro de 1982, quando a cantora morreu. Por telefone, ele conta que lembra muita coisa:
– Quando você perde a sua mãe com 11 anos, tudo que viveu até ali vira um tesouro. Tudo o que fica pra trás a sua cabeça reserva, quase como se fosse um órgão seu.
Convidado a fazer uma homenagem a Elis no seu aniversário, no ano passado, Bôscoli transformou aquelas conversas espontâneas em um show. Desde então, o produtor recebeu convites de várias partes do país, inclusive Porto Alegre. O espetáculo de 1h20min, chamado Elis & Eu, será apresentado no Centro de Eventos do BarraShoppingSul, às 20h da próxima terça-feira (17), data em que Elis completaria 75 anos.
Com a desenvoltura de apresentador de rádio e TV (ele comanda hoje o programa Sala de Música na Rádio CBN de São Paulo), Bôscoli conta a história de vida de Elis, desde o início da carreira até seus últimos anos, mostrando objetos, como roupas ou microfone, e fotografias do acervo familiar, entrevistas e registros desconhecidos de shows no Olympia de Paris, no Festival de Jazz de Montreux ou na TV francesa e alemã. Resgata também as memórias de infância que foram a matéria-prima do seu livro Elis e Eu – 11 anos, 6 meses e 19 dias com minha mãe (Editora Planeta, 2019). As visitas a Porto Alegre eram constantes:
– A Elis tinha sotaque misturado, brasileiro, mas quando ia para aí, recuperava a essência gaúcha. Eu via ela num estado de espírito diferente porque era o habitat natural dela. Era só aí que tinha gente tratando ela como parente, colega de classe, tinha uma dimensão humana muito grande – lembra Bôscoli.
No show, o que mais comove o público, segundo Bôscoli, são as versões à capela das canções. O produtor musical remixou álbuns clássicos de Elis que foram gravados em multitrack, portanto permitem que a voz da cantora seja isolada dos acompanhamentos. O produtor convida todos a fecharem os olhos e ouvirem a voz isolada de Elis cantando Águas de Março, Fascinação e outras gravações clássicas.
– Quando você ouve Como Nossos Pais à capela, você pensa "a mulher canta mesmo". A música ocupa toda a sala, o tamanho do som fica diferente e fica muito envolvente. Ouvir a voz isolada é ouvir o som do fone dela, ou seja, ouvir o que ela estava ouvindo, o barulho do pé no chão, a respiração, o barulho de uma pulseira que ela não tinha tirado. Tudo isso humaniza. É um show para quem é fã ter chance de ver e ouvir Elis de um jeito diferente.
O produtor conta que, quando criança, chegou a ter ciúmes de dividir a mãe com o mundo, mas garante que o sentimento passou rápido. Hoje, fica comovido ao compartilhar:
– Era ciumeira de uma criança de cinco anos, quando descobri que as pessoas conheciam ela. Não me acompanhou ao longo da vida. Eu ficava feliz e orgulhoso, sempre recebi muito carinho por causa da Elis. E sempre que fazemos algo relacionado a Elis aí no Sul, tratam como um patrimônio local. Já ouvi várias vezes: "a Elis além de ser tua mãe, também é nossa".
Elis & Eu por João Marcello Bôscoli
- Terça-feira (17 de março), às 20h
- Centro de Eventos do BarraShoppingSul (Av. Diário de Notícias, 300)
- Ingressos: R$ 90 em minhaentrada.com.br ou nas Óticas Diniz.