Em um texto publicado na plataforma Medium, a cantora baiana Karina Buhr, 45 anos, confessou ter sido vítima de estupro e extorsão. O fato ocorreu entre o fim dos anos 1990 e o início dos anos 2000. A artista narra ter sido estuprada diversas vezes pelo babalorixá e vocalista do afoxé Ylê de Egbá, o Pai Dito D'Oxóssi (Expedito Paula Neves), que morreu em 15 de dezembro, em Recife, em decorrência de uma parada cardiorrespiratória, aos 57 anos.
No texto, intitulado Ele Morreu e o Inferno Ressuscitou pra Mim, Karina narra detalhes da violência. A cantora começou o texto explicando os motivos de ter trazido o assunto à tona apenas agora, mais de 20 anos depois. "Por que expor por estupro um homem que acabou de morrer? Porque eu quase morri nas mãos dele. [...] Por que não denunciou quando estava vivo? Por medo de morrer, medo de machucar minha mãe. Certamente ouvirei 'mas ele morto não pode se defender', ao que respondo: quem não pôde se defender fui eu!'", escreveu.
Karina conta que Dito D'Oxóssi a chamava de filha e usava sua influência como babalorixá para abusar da cantora. No depoimento, ela afirma que "quem pratica extorsão, coação e estupros não está zelando por orixá algum, por pessoa alguma".
A cantora narra ter prestado depoimento a uma promotora, há mais ou menos um ano, mas quando teve a chance de dar entrada no processo, acabou desistindo por conta do medo que sua mãe teve de Dito D'Oxóssi. Karina também publicou, junto do post, um texto baseado no que escreveu na época em que quis denunciá-lo. A ideia era tornar público o depoimento durante o processo para colocar o assunto em discussão e sentir-se mais protegida.
Um do motivos que impulsionou a cantora a falar sobre o assunto foi a entrevista da holandesa Zahira Lieneke Mous ao programa Conversa com Bial, denunciando o médium brasileiro João de Deus: "Nas primeiras frases que ouvi dela comecei a chorar copiosamente, um choro profundo e que ia limpando alguma coisa em mim, tirando camadas grossas e duras que estavam escondendo uma dor muito grande, um processo de escravidão mental e abusos físicos que vivi, por quatro longos anos, entre 1998 e 2002, em Recife", contou.
Karina também se manifestou sobre os abusos pelo Twitter. Ela desabafa dizendo que esta segunda-feira (23), dia da publicação do texto, é especial, pois ela conseguiu colocar para fora um desabafo que guardava há anos. "Tirei um elefante das costas, apesar das pedradas que levarei", escreveu na rede social.
Confira o depoimento completo aqui.