Referência para diferentes gerações de músicos e compositores de Rio Grande do Sul, Nei Lisboa comemora 40 anos de carreira com dois shows neste final de semana. Nesta sexta-feira, às 21h, o espetáculo é em Porto Alegre, no Teatro do Bourbon Country (Avenida Túlio de Rose, 80); e no sábado, às 21h, em Novo Hamburgo, no Teatro da Feevale (ERS-239, 2.755).
São duas oportunidades de ouvir clássicos que marcaram diferentes fases da carreira do compositor com banda de apoio completa. O time é formado por Ricardo Arenhaldt (bateria), Samy Cassali (baixo), Paulinho Supekovia (guitarra) e Luiz Mauro Filho (teclado).
– A agenda dos próximos meses é de trio ou de duo. Na estrada, é o que tem sido mais viável – diz Nei.
Além de canções conhecidas, as noites também contarão com novidades. Telhados de Paris, Pra te Lembrar, Verão em Calcutá e outros sucessos estão no repertório, mas um terço das faixas selecionadas jamais foi gravada – duas delas sequer foram tocadas ao vivo antes.
– Nesses shows, quero comemorar a efeméride de 40 anos e ao mesmo tempo mostrar reunido um trabalho novo, que já venho produzindo há um bom tempo, com a lentidão habitual do meu compor. São oito ou nove músicas que podem estar em um disco novo no ano que vem – afirma Nei.
Desde 2015, quando lançou Telas, Tramas & Trapaças do Novo Mundo, o compositor tem criado letras que abordam direta ou indiretamente o cenário político brasileiro. O álbum, gravado ao vivo, inclui a faixa A Lei, sobre as discussões que levariam ao impeachment de Dilma Rousseff. “A lei é cega/ Cega que tão bem enxerga/ Quando lhe convém/ A lei não quer ver/ Serve a quem melhor lhe paga/ Para o mal e o bem”, diz a letra.
As novas canções igualmente não se esquivam de comentar a realidade brasileira atual.
– Boa parte delas tem conexão direta com nosso momento medieval – avisa Nei. – O show inclui uma canção para nosso presidente, tentando ser gentil e elegante como ele, e não conseguindo, pois é muito difícil – comenta, em tom irônico, sobre a inédita Capitão do Mato.
Nesse sentido, Nei Lisboa é um dos poucos compositores que usam canções como veículos para comentar temas relevantes do presente. Cabe perguntar: ele se sente compreendido ou sequer ouvido?
– Não me preocupo nem com uma coisa nem com outra. É inevitável para mim, não teria como compor de outra forma, nem para quem parte do meu histórico, da minha vida familiar, nem para quem vive como cidadão brasileiro. Não é pouco desastre o que estamos vivendo – responde Nei.
Não é pouco desastre o que estamos vivendo
NEI LISBOA
Compositor
Com 60 anos de idade, Nei Lisboa considera que sua carreira começou em 1979, ano em que realizou seus primeiros shows em teatro. Hoje, considera que sua trajetória começou em um tempo de esperança, depois que o corpo de seu irmão, Luiz Eurico Tejera Lisboa, foi localizado, após sete anos como desaparecido político.
– No ano em que comecei minha carreira, havia a campanha pela Anistia. Também foi o mesmo ano da descoberta do corpo do meu irmão. Embora a ditadura tenha perdurado até 1984, em 1979 a gente estava indo para uma situação de liberdade e de luzes. Agora, 40 anos depois, estamos, ao contrário, mergulhando em um algo muito sombrio – lamentou o músico.