Finalmente chegou a São Paulo a turnê Nossa História, que marca o retorno aos palcos de um dos maiores fenômenos jovens do Brasil: a dupla Sandy & Junior. Esgotado com muita antecedência, o show deste sábado (24), no Allianz Parque, foi uma forte cutucada na nostalgia.
O espetáculo contou com dançarinos, Junior na bateria, telão super-produzido, jams e até sessão acústica. Em termos de performance, os irmãos continuam tecnicamente impecáveis.
Como era esperado, a resposta do público foi intensa. Não a histeria adolescente do BTS, que também lotou o Allianz Parque em um fim de semana, mas um festival de lágrimas e celulares apontados para o palco.
Foi também o maior karaokê que eles presenciaram nesta turnê, com 45 mil pessoas no estádio. Só neste fim de semana, contando o show deste domingo (25), são mais de 90 mil pessoas. Somando as datas extras na cidade, em outubro, o número dobra. E isso só em São Paulo - já foram vendidos mais de 500 mil ingressos para a turnê inteira.
Várias vezes, Sandy parecia emocionada com o volume da plateia, deixando de cantar para ouvir os fãs.
– Vimos vários shows aqui, mas nunca me imaginei nesse palco – ela assumiu.
Apesar do teor do repertório, contudo, não foi um show jovem. Se o público não chegava a ser tão velho quanto nas apresentações de Paul McCartney -outro que lotou dois dias no estádio do Palmeiras em 2019-, passou longe da juventude do BTS. Pelo menos nas pistas, o público infantil e adolescente era diminuto. A maioria esmagadora era de mulheres adultas.
Repertório de "Nossa História"
Criados na esteira do sucesso do pai, Xororó, Sandy & Junior mantiveram o formato de dupla de vocalistas do sertanejo, mas eles soavam exatamente como a música pop dos anos 2000. Mesmo com banda e arranjos mais sóbrios, a dupla ainda remete tanto a boybands como o Backstreet Boys quanto às baladas de musicais de sucesso da Disney, como High School Musical.
Em várias situações, Sandy & Junior deixaram claro como o atual momento de suas vidas pouco têm a ver com o repertório.
– Estamos vivendo um sonho que a gente nem pensava em sonhar e realizar. Só estamos aqui porque vocês pediram – disse Sandy.
O repertório da turnê Nossa História é calcado no período da virada dos anos 1990 para os 2000, quando os irmãos chegaram à adolescência. Foi a época mais importante da dupla, quando As Quatro Estações vendeu 3 milhões de cópias, depois da fase mais infantil -com um pé no country americano- do começo dos anos 1990.
Antes um fenômeno infanto-juvenil, Sandy & Junior hoje são um sucesso da nostalgia. Mais especificamente, da nostalgia da adolescência, época definidora das primeiras experiências com sexualidade e responsabilidades.
Ao apresentar Aprender a Amar - uma música sobre a confusão de se ver apaixonado pela primeira vez -, Junior parecia falar de todo o show.
– Todos nós estávamos passando pelos mesmos momentos, de muitas descobertas. Essa música é muito especial – confessou.
Não é à toa que os momentos mais intensos foram nas baladas românticas, entre elas A Lenda, Imortal, Olha o Que o Amor Me Faz e Quando Você Passa.
Além disso, a onipresença da dupla na mídia gera uma sensação de experiência coletiva. Até os policiais e funcionários do Allianz Parque cantavam com os olhos fixados no palco.
Em muitos momentos do show, houve o choque entre as músicas mais infantis e o público mais velho. Parecia a única situação possível para ver adultos com faixas na cabeça pulando ao som de Vamos Pula!, de refrão tão simples e direto quanto seu título.
Quando os ingressos para a Nossa História, mesmo bastante caros, se esgotaram com antecedência, a dupla foi adicionando datas extras à turnê. Parecia que nem mesmo os produtores tinham noção do alcance de Sandy & Junior.
Depois de mais de duas horas e meia de show, a impressão não é a de uma carreira a ser retomada, mas uma lembrança da dimensão do sucesso da dupla -frequentemente subestimado, como acontece com muitos fenômenos de público jovem e feminino.
A turnê de Sandy e Junior passará ainda por Curitiba, Manaus, Belém e Porto Alegre. A capital gaúcha recebe a performance no dia 21 de setembro, na Arena do Grêmio. A rota termina na capital paulista, onde haverá outras duas apresentações em outubro.