"Já faz alguns anos que o maldito Alzheimer vai me roubando a minha amada companheira. E para que me sinta ao seu lado, minhas serenatas diárias. Ela é Sueli de Fátima, amada companheira, tu é o meu melhor público", escreveu Lúcio Yanel, 72 anos, na legenda da imagem que vem emocionando os seguidores do músico nos últimos dias. Publicada na quarta-feira (23), a fotografia revela o momento em que o artista toca violão para a esposa Sueli de Fátima Teixeira, de 62 anos, vítima da doença há pelo menos uma década.
— A alma dela deve estar lá. Tenho feito isso todos os dias. Pego o violão, toco para ela, tento me comunicar pela música. Às vezes ela tira o olhar de um ponto fixo e olha para mim. Faço isso para atrair sua atenção, penetrar na sua alma — afirmou Yanel para o G1
O argentino, radicado em Caxias do Sul, cruzou pela primeira vez com Sueli em Porto Alegre, no restaurante em que a chef de cozinha trabalhava. Viúvos, com filhos de casamentos anteriores, os dois se juntaram e não se separaram mais. E lá se foram 25 anos:
— Quando vi aquela belezura, aquela gaúcha forte, me apaixonei.
Nos últimos tempos, contudo, a doença progrediu e a outrora gaúcha forte começou a passar os dias na cama e a não compreender a realidade ao seu redor. O que teve início com esquecimentos de receitas, foi aos poucos apagando toda a história de Sueli de Fátima. O companheiro, entretanto, se manteve ao lado e as serenatas diárias são uma forma de reafirmar seu amor.
— É um momento em que tentamos adoçar a vida dela. Quando eu consigo fazer ela parar de chorar com minhas canções, eu consigo emocionar meu melhor público — disse Yanel para o G1.
Dois Tempos
Mais histórias do violonista argentino, que adotou o Brasil como sua casa há cerca de quarenta anos, serão reveladas no documentário Dois Tempos, um road movie que está sendo gravado entre o Rio Grande do Sul e a Argentina. Yanel foi convidado a participar do projeto por Yamandu Costa, 39 anos, reconhecido como um dos maiores talentos do violão brasileiro.
Amigos de longa data, os dois se conheceram quando Yanel estava chegando ao Brasil e se hospedou na casa dos artistas Algacir Costa e Clary Marcon, pais de Yamandu. Ainda garoto, o jovem gaúcho se aprimorou como instrumentista vendo o músico dedilhar o violão no ambiente doméstico.
O documentário se propõe a remontar essa história de influência mútua e parceria, por meio de uma viagem de motor-home. Eles partiram de Estrela, onde atualmente vive a mãe de Yamandu, em 6 de janeiro, com destino à cidade argentina Corrientes, berço do chamamé e cidade natal de Yanel. Lá, participaram da 29ª Fiesta Nacional del Chamamé e 15ª Fiesta del Chamamé del Mercosur. Até que, depois de duas semanas na estrada, voltaram para casa na última segunda-feira (21).