Após um ano de espera, o empresário Luis Carlos da Cruz Abreu finalmente conseguiu um encaixe para receber um transplante de fígado, no dia 21 de junho, no hospital São Vicente de Paulo, em Passo Fundo. Fã de Pink Floyd, ele tinha fé que se recuperaria a tempo de ver o show de Roger Waters nesta terça-feira (30). Tanto que levou seu ingresso na bolsa quando foi de Caxias do Sul, onde vivia, até a internação no norte do Estado.
Debilitado por conta da cirrose hepática causada por outras complicações de saúde, Luis morreu no dia 24 de junho, aos 51 anos, por conta de uma infecção após o transplante. Na apresentação desta noite, sua família compareceu ao Estádio Beira-Rio para homenageá-lo e promover uma conscientização sobre a importância do transplante de órgãos.
Sua mulher, Márcia, seus três filhos (Alberto, 23, Vinicius, 31 e Luísa, 24), além de sua nora, Morgana, compareceram ao show vestindo uma camiseta com os seguintes dizeres: ''A vida continua, doe órgãos''.
– O meu pai ficou um pouco mais de um ano na fila, e ele até foi chamado rapidamente porque estava em um estado crítico, mas tem pessoas que ficam anos e não resistem até o transplante. É muito triste saber que muita vidas poderiam ser salvas e infelizmente não são – diz Luísa. – Por outro lado, é incrível saber que um ente querido que faleceu salvou uma ou até mais vidas, que renasceu de novo em outra pessoa. É bom passar a mensagem para as pessoas pesquisarem sobre isso e informar a família que é doador de órgãos – completa.
Luísa relata que seu pai ainda mantinha esperança de ver Roger Waters pela primeira vez – da formação original do Pink Floyd, ele só tinha visto ao vivo o show de David Gilmour, na Arena do Grêmio, em 2015.
– Desde 2016 a saúde dele vinha piorando, mas sempre revertia o quadro. Nós não achávamos que ia acontecer. Quando soube do show do Roger, comprou os ingressos com um ano de antecedência. Ele brincava que ia ver o show com a marca da Mercedes, que é a marca do corte do transplante. Meu pai ficou o ano inteiro falando desse show – conta a filha.
Luísa e seus irmãos cresceram com seu pai escutando Pink Floyd diariamente. Quando viajavam de carro, era a trilha sonora que a família ouvia no trajeto. Luis também tinha um hábito particular para apreciar as canções da banda.
– Ele sempre escutava Pink Floyd lendo as traduções. Às vezes, quando a gente entrava no carro, tinha folhas com letras traduzidas deles. Ele pesquisava as canções na internet, imprimia e deixava no carro. O lugar onde ele mais ouvia a banda era no carro. Tinha vezes que chegava em casa do trabalho, mas permanecia no veículo, ouvindo Pink Floyd – lembra a filha.
Entre suas músicas preferidas, Luís costumava brincar que Wish You Were Here deveria ser tocada em seu velório. O desejo foi atendido: antes de fecharem o caixão, seus filhos providenciaram que a canção fosse tocada em uma caixinha de som. Sua mulher e filha tatuaram em setembro o verso “how I wish you were here” (“como eu queria que você estivesse aqui”) no braço, acompanhado da assinatura do marido e pai, fã de Pink Floyd. É seguro imaginar que entre as mais de 20 músicas apresentadas por Roger Waters no show desta noite, esse verso da tatuagem seja o que mais ecoe para a família de Luis.