Quem visitasse a Casa da Música da Ospa na quarta-feira, como fez a reportagem de Zero Hora, poderia ficar apreensivo com o clima de obra em andamento. Mas o trabalho é intenso para a inauguração da primeira casa própria da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre em seus 68 anos de história. Os concertos de abertura serão neste sábado (24/3) e domingo (25/3), às 17h, com a Sinfonia nº 9, de Dvorák, também conhecida como Sinfonia do Novo Mundo – um novo mundo para a Ospa. O pianista brasileiro de origem romena Cristian Budu será o solista de Rhapsody in Blue, de Gershwin, e a abertura será com M’ba Epu Porã, peça encomendada ao compositor Arthur Barbosa, violinista da Ospa.
O espaço de 2,5 mil metros quadrados no Centro Administrativo Fernando Ferrari, com capacidade para 1,1 mil espectadores, foi cedido por um prazo de 30 anos. O projeto tem apoio da associação de músicos da orquestra, que têm atuado de forma itinerante desde 2008, quando tiveram de deixar o prédio alugado na Av. Independência conhecido como Teatro da Ospa. Muitas vezes, ensaiaram em um local e se apresentaram em outro, o que prejudica o resultado. O diretor artístico da Ospa, Evandro Matté, que regerá os concertos de inauguração, estima que neste ano serão economizados R$ 140 mil com transporte de equipamentos em relação a 2017. Nesta temporada, a Ospa seguirá realizando concertos no Salão de Atos da UFRGS, no Auditório Araújo Vianna e no Theatro São Pedro, mas dedicará uma série à Casa da Música, onde desenvolverá programas sofisticados.
Embora nem todos os acabamentos da Casa da Música deverão estar prontos até o fim de semana, serão abertos a sala de concertos, o saguão e os banheiros. Haverá ilhas com serviço de café. Por meio da Lei de Incentivo à Cultura estadual (LIC-RS), foram captados R$ 2,7 milhões de uma meta de 3,5 milhões, com patrocínio do Zaffari e apoio da Dufrio.
Na segunda fase da obra, que custará R$ 1,5 milhão e será entregue até o início de novembro, ficarão prontos uma sala para recitais e eventos, salas de estudo, a sala do coro e o café propriamente dito.
Um financiamento coletivo para ajudar o projeto da Casa da Música, que tem orçamento total de R$ 5 milhões, já arrecadou cerca de R$ 100 mil. A Ospa espera que as doações aumentem conforme os resultados da obra comecem a aparecer.
Matté imagina também uma terceira fase, com melhorias na parte externa do prédio da Secretaria da Educação, onde fica a sala de concerto, como toldo, jardinagem, iluminação e elevadores, mas isso seria um trabalho para a próxima gestão.
Abertura será com piano novo
O grande desafio foi melhorar a acústica do espaço, originalmente projetado para ser um auditório, e não uma sala sinfônica. Para isso, foram instalados painéis difusores no fundo do palco, no teto e nas laterais, abaixo dos mezaninos. O consultor acústico do projeto, Marcos Abreu, lembra que não se trata de uma sala sinfônica:
– A ideia de uma sala sinfônica é que tenha um comprimento maior do que a largura, com pé-direito mais alto do que o que temos. Tivemos que trabalhar uma adaptação, tentando corrigir as deficiências acústicas.
Matté se diz otimista. Desde que a Ospa começou a ensaiar no espaço, em março de 2017, segundo ele, o tempo de reverberação do som foi reduzido de nove segundos para algo próximo de três, que seria o ideal. O resultado mesmo só poderá ser comprovado durante o primeiro concerto, mas a ideia é seguir melhorando com o passar do tempo.
– São vários fatores que afetam a acústica, como a presença do público. Estamos com uma expectativa muito positiva – diz Matté.
Para a estreia, a orquestra contará com um piano Steinway D, de cauda, que havia sido adquirido há 21 anos. Na ocasião, o instrumento ficou retido na Receita Federal porque a antiga importadora não teria pago todos os impostos. Com uma ação na Justiça e um acordo com os novos donos da importadora, um novo piano do mesmo modelo chegou à Ospa, que agora dispõe de dois Steinway.
Com sua nova sala de concertos, a orquestra deixa de lado o projeto da antiga Sala Sinfônica no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, que seria um equipamento com acústica de excelência, mas custaria mais de R$ 40 milhões, bem acima dos R$ 5 milhões da Casa da Música. Iniciada em 2012, a obra foi interrompida ainda na fase das fundações devido a entraves burocráticos.
Matté garante que o investimento de aproximadamente R$ 6 milhões pela LIC-RS já realizado no parque não será perdido, pois parte das fundações será aproveitada no novo plano da Ospa para aquele terreno: uma concha acústica, um museu e as instalações do projeto social da Escola de Música. A ideia é convidar o Instituto de Arquitetos do Brasil para participar da elaboração de um concurso. Já o convênio de R$ 20 milhões com o Ministério da Cultura obtido por meio de emenda parlamentar para a Sala Sinfônica está sendo repactuado para R$ 10 milhões. Será um trabalho também para 2019.
INAUGURAÇÃO DA CASA DA MÚSICA DA OSPA
Neste sábado (24/3) e domingo (25/3), às 17h.
Casa da Música da Ospa no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Av. Borges de Medeiros, 1.501), em Porto Alegre.
Ingressos: R$ 30 (mezaninos e balcões), R$ 40 (plateia) e R$ 80 (camarote). Desconto de 50% para sócios do Clube do Assinante. À venda pelo site ospa.org.br (apenas para domingo) e na Casa da Música (para os dois dias) a partir desta sexta, das 14h às 19h, e sábado e domingo, das 11h às 17h. Estacionamento gratuito no local.
Veja mais fotos da obra da Casa da Música realizadas nesta quinta-feira (22/3):