Rafael Balsemão
Em 2018, os Racionais MC’s completam 30 anos. Mas Mano Brown, líder do grupo e atração com show solo no Planeta Atlântida, não quer saber de comemoração. Diz o rapper que os fãs não estão mais merecendo o trabalho do grupo responsável por hinos de uma geração, como Nego Drama, Diário de um Detento e Capítulo 4 Versículo 3. Paulistano que cresceu no bairro do Capão Redondo, Brown reclama do conservadorismo e do individualismo que chegou à periferia. Contesta os discursos moralistas vigentes, mas demonstra empolgação ao falar de artistas como Anitta, Rincon Sapiência, Emicida, Ludmilla e Iza, que, afirma, “estão emergindo do inferno”. — A nova música popular brasileira são essas pessoas — sentencia.
Em dezembro de 2016, você lançou o disco solo Boogie Naipe, com uma pegada funk, soul e R&B. O disco foi muito comentado principalmente porque, de certa forma, é um contraponto à música dos Racionais MC’s. Como você vê esse trabalho, pouco mais de um ano depois?
Nesse ano que passou, fiz alguns shows com a banda do Boogie Naipe. Não foram muitos, mas esses poucos foram memoráveis. A diferença é que a força não está mais nas pessoas por trás das músicas, e sim nas músicas em si. E, ao mesmo tempo, está nas pessoas que tocam. Não está no cara que canta, no cara da capa do disco. O rap é muito individualista: o MC está na capa do CD, e os demais, não. No caso da banda, na hora da execução, sem um, o outro não é nada. Então, a gente vê que não é nada na música ainda, que há muito caminho a percorrer. Quando você se enxerga no meio de 14 pessoas, percebe que é só mais um. Você fala: “Sou igual aos caras”. É diferente do contexto dos Racionais, no qual o Mano Brown é aquela figura que tem de estar ali, implacável, posicionado, uma coisa meio, assim, política. No Boogie Naipe, o que prevalece é a música, e não o Mano Brown. Não é a polêmica, não é a notícia. É a música.