Os homens suavam em bicas nos ternos incompatíveis com os mais de 30°C do verão de Porto Alegre quando começou a cerimônia de posse do prefeito Sebastião Melo, que assumiu o segundo mandato com o plenário da Câmara Municipal superlotado. As mulheres, a maioria com vestidos leves e decotados, sofreram menos com o ar-condicionado que não deu conta de resfriar o ambiente. Marcada para as 15h, a sessão começou com 43 minutos de atraso, porque antes os vereadores tiveram uma discussão definida por um deles como “de 5ª série” por causa de lugares no plenário.
Antes de Melo e sua vice Betina Worm firmarem o compromisso constitucional, tomaram posse os 35 vereadores eleitos em outubro e foi escolhida a nova mesa diretora, com a vereadora Comandante Nádia (PL) à frente. Mauro Pinheiro se despediu da presidência — antes de sentar na cadeira, Nádia mandou colocar uma bandeira do Brasil no encosto largo, destacando sua silhueta com o uniforme de gala (branco) da Brigada Militar.
O vice-governador Gabriel Souza falou antes do prefeito e pediu licença para sair porque precisava chegar na sua Tramandaí a tempo de assistir à posse do novo prefeito. Melo fez um discurso breve. Foram 18 minutos, incluindo a saudação às autoridades presentes, ao vice que deixa o cargo, Ricardo Gomes, definido como “parceiro e amigo” e à nova companheira de chapa, elogiada pelo talento.
Quando o prefeito começou a falar, as vaias dos convidados de vereadores da oposição foram abafados pelos aplausos dos admiradores do chefe do Executivo e de uma torcida organizada por parlamentares da situação, especialmente do PL. Vendo que nesse grupo havia pessoas com cartazes com a expressão “Fora Lula” impressa, Melo começou dizendo que, para ele, “forjado na luta popular e democrática, a liberdade de expressão é o que há de mais caro num país”.
— Que qualquer um possa dizer que defende a ditadura, porque isso é liberdade de expressão — começou Melo, arrancando vaias dos vereadores de esquerda, para em seguida dizer que “qualquer um pode defender o socialismo e ser contra a democracia liberal, porque isso é liberdade de expressão”.
O prefeito falou das dificuldades que passou no primeiro mandato, começando pela covid, quando assumiu “com a cidade fechada” e promoveu a reabertura do comércio e dos serviços, e terminando pela enchente. Agradeceu aos voluntários, lembrando que o poder público não tinha estrutura para resgatar as pessoas que precisavam ser resgatadas e dar a elas o atendimento necessário. Disse que as melhores decisões são as tomadas mais rapidamente e ilustrou com o exemplo da noite em que mandou derrubar a passarela da rodoviária para criar o corredor humanitário que permitiu a passagem de caminhões com alimentos, remédios e doações para os desabrigados.
Disse que esse não será o mesmo governo. Que vai trabalhar para fazer o que não conseguiu no primeiro mandato, melhorar o que precisa ser melhorado e avançar mais. Citou entre seus principais desafios as obras de proteção contra as cheias, o cumprimento das exigências previstas no marco regulatório do saneamento e a inovação.
Foi interrompido pelos simpatizantes que gritavam “Melo, de novo, é o chinelão do povo”, ressuscitando um mantra da campanha.
Ao final, o prefeito repetiu que vai levantar cedo e dormir tarde, que será um prefeito capaz de dizer não, porque o político que só diz “sim” é irresponsável, e que vai dialogar com todos, especialmente com os vereadores, que representam as demandas legítimas dos eleitores de Porto Alegre.
— Viva a democracia brasileira, viva a liberdade, viva Porto Alegre — encerrou Melo, acrescentando que vai trabalhar para que a cidade seja cada vez mais resiliente.