Paul McCartney retorna a Porto Alegre na próxima sexta feira (13), para show no Estádio Beira-Rio. A primeira passagem do músico pela Capital ocorreu há quase sete anos, em novembro de 2010, com a turnê Up And Coming.
Às 21h09min do dia 7 de novembro de 2010, Paul McCartney subiu ao palco do Estádio Beira-Rio, acompanhado dos músicos de sua banda e iniciou um show histórico no Estádio Beira-Rio com Venus and Mars. Às 0h53min, o Beatle decolava no Aeroporto Internacional Salgado Filho rumo a Buenos Aires, deixando para trás fãs gaúchos na ansiedade por um bis que irá se realizar em outubro. P
Paul passou 37 horas em Porto Alegre, onde viu a beatlemania resplandecer e teve aulas de "gauchês" – além, é claro, de deixar o público em êxtase com sua apresentação. A seguir, relembre como foi a estadia do músico na capital gaúcha.
A chegada
Por volta das 11h15min, no dia 6 de novembro, Paul McCartney chegou a Porto Alegre em um avião particular no terminal antigo do Aeroporto Salgado Filho. Logo depois, uma caminhonete se dirigiu para perto da aeronave, de onde Sir Paul saiu, cumprimentando a comitiva, às 11h24min.
Com discrição na chegada e poucos fãs a sua espera – em torno de 20 pessoas –, o beatle deixou o local por volta das 11h35min em um comboio de quatro carros e escolta de sete motos e uma viatura da Brigada Militar rumo ao hotel no bairro Moinhos de Vento, onde chegou às 11h45min. Antes, porém, de chegar ao portão do aeroporto, Paul apareceu na janela do carro e abanou para os fãs que ali estavam, sorrindo. Extasiados, alguns fãs quase conseguiram tocar em Paul, e um deles, o empresário de Esteio Eduardo Camboim, conseguiu jogar uma carta para dentro do automóvel.
– Na carta, eu dei as boas-vindas para ele – contou Camboim à Zero Hora.
Até as 16h12min de domingo, quando chegou ao Beira-Rio, Paul não apareceu em público tantas vezes quanto os fãs gostariam. Mas, nas raras aparições, mostrou uma generosidade ímpar: acenou, baixou o vidro do carro mais de uma vez para retribuir o carinho de quem o acompanhava pelas ruas e até se pendurou no estribo da caminhonete que o levou para o Beira- Rio.
No hotel
Paul ficou hospedado no sábado e no domingo na Suíte Presidencial do Sheraton Hotel, no bairro Moinhos de Vento. O beatle sempre traz consigo uma camareira, que decora o quarto do patrão de acordo com um tema. Em Porto Alegre, estilo escolhido foi o indiano, com panos, velas e lanternas.
Antes de sua chegada, uma multidão já fazia vigília desde a tarde de sexta-feira (5 de novembro de 2010). O frenesi era o ar dos corredores. Quando cada um dos quatro elevadores se abria, os corações paravam. Duas noivas depois (que, ao saírem do hotel, frustaram quem achava que era Paul), o beatle surgiu por volta das 19h50min de sábado. Sorrindo e caminhando, recuou ao perceber ter passado reto pela entrada que dá passagem para o Shopping Moinhos, onde mais tietes se aglomeravam. Saiu de lá para fazer com a banda a passagem de som no Beira-Rio. Deixou o estádio antes das 23h e, na hora de embarcar no carro, parou para dar mais tchauzinhos.
Sem churrasco
Chef de cozinha e publicitária, a gaúcha Tuca Padilha foi uma das responsáveis pela alimentação de Paul e sua trupe em Porto Alegre, integrando a equipe que auxiliou o chef Jason - o encarregado do catering do camarim do astro. No cardápio do primeiro almoço de Macca na Capital, servido no sábado, ao meio-dia, o menu vegetariano incluiu sopa de feijão mexicano, tortilla, falafel e massa à putanesca, entre outros pratos. Entre os drinks, Paul bebeu margaritas de limão e laranja.
Lado B
Além das quase 40 músicas que apresentou no show em POA, Paul tocou outros rocks – próprios e de outros astros – nos dois ensaios que fez na Capital gaúcha. No sábado à noite, entre canções do repertório, Macca lembrou o Rei do Rock cantando a clássica Blue Suede Shoes – composta e gravada originalmente por Carl Perkins, a música virou um hit na voz de Elvis Presley. Já no domingo à tarde, a passagem de som incluiu pérolas como San Francisco Bay Blues (folk gravado por gente como Eric Clapton e Janis Joplin e pelo próprio Paul), I'll Follow the Sun (gravada no disco Beatles for Sale), Magical Mystery Tour (disco e filme dos Beatles de 1967) e Bluebird (tema do antológico álbum Band on the Run, lançado em 1973 por McCartney e sua banda Wings).
Hermanos fanáticos
Os argentinos do grupo The Beats, renomada banda cover de Beatles, se hospedaram no mesmo hotel do ídolo naquele final de semana. Fizeram revezamento durante o café da manhã para topar com o músico "por acaso". Deu certo: o baixista ganhou um autógrafo de Paul no instrumento.
Dia de show
Por volta das 14h30min de domingo (7 de novembro), o fisioterapeuta Mauren Mansur esteve no Sheraton para aliviar as tensões de Paul em sua segunda sessão de massagens - a primeira foi no sábado à tardinha. Ambas as sessões foram divididas com sua então namorada (atual cônjuge), a americana Nancy Shevell, que o acompanhou na turnê.
Às 15h56min, quando finalmente saiu pela porta giratória do Sheraton, a gritaria lembrou os tempos de Beatles. Paul não se intimidou e, com uma disposição invejável, surpreendeu ao subir no estribo da caminhonete Toyota fazendo festa com a tietagem, que lhe respondeu com entusiasmados acenos. Oito minutos depois, ao passar pela frente do Anfiteatro Pôr do Sol, o cortejo desacelerou. Quando cruzou pelo Anfiteatro, abanou pela janela. Ao passar próximo da pista de skate do Parque Marinha, Paul já estava abanando da outra janela. Ensandecidos, os fãs o seguiam correndo de bicicleta e a pé – e o beatle estendia a mão, tocando quem conseguia chegar perto. Quando chegou ao Beira-Rio, às 16h12min, baixou o vidro e repetiu o gesto com os fãs que o aguardavam no entorno.
Na última passagem de som, sobre o palco, Macca aplicou filtro solar no rosto e até improvisou uma música sobre o Brasil, cantando: "I'm in Brazil / such a thrill" (algo como "estou no Brasil / que arrepio"). Ao ver o helicóptero das RBS COP que seguira a sua comitiva, Paul acenou novamente para o céu.
Camarim
A iluminação do camarim do Beatles atendeu à preferência do astro: pouca luz direta, feita pela Showlux com mais de 30 abajures e lustres, espalhados no espaço. As peças tinham design moderno, e, por exigência do músico, nenhuma era na cor branca. Outra exigência: casacos de couro ou de pele não podiam entrar. Tanto Paul quanto seus músicos são contra o abate de animais – não usam e nem podem ver por perto roupas e móveis com couro ou peles.
Segundo apontou a coluna Contracapa (publicada no dia 9/11/2010), o camarim recebeu elogios de Paul, que teria curtido bastante a decoração e os móveis da Maiora – especialmente os bancos Canto e Ibirapuera, criados pelo designer mato-grossense Israel Chaves com troncos de madeira reaproveitada de 300 quilos, e a poltrona Diz, do gaúcho Sergio Rodrigues, também em madeira.
Aula expressa de gauchês
Pouco mais de três horas antes de subir ao palco do estádio Beira-Rio, Paul realizou um desejo: fazer uma aula intensiva de português para poder se comunicar com o público. A professora do beatle foi a jornalista Melise Sulzbach. Ex-assessora de Julio Iglesias por 13 anos, período em que trabalhou entre os EUA, a Espanha e o Caribe, ela teve uma hora e meia para instruir o músico, das 18h às 19h15. Cerca de duas horas depois, ele começava a colocar o aprendizado em prática.
– Trabalhei como assessora do Julio Iglesias por muitos anos. Morava fora do país e voltei há dois meses. A produção do evento do Paul McCartney ficou sabendo que eu estava aí e me pediu para dar uma mão para assessorar o empresário do Paul em diversas áreas: na tradução para o português, na parte interna do camarim, na comunicação. Disseram que o Paul queria falar algumas coisas em português para se conectar com o público. Achei bacana que, depois, isso repercutiu legal. Mas não sou professora (risos) – relatou Melisse em entrevista a Zero Hora.
Ela contou que Paul olhou a lista de músicas do show e começou a perguntar: "Como digo 'Boa noite, Porto Alegre'?". Ou então: "Como falo 'Escrevi essa música para meu amigo John?'". Aplicado, o músico anotava as frases com as fonéticas, ou seja, conforme a pronúncia.
– Ele é quem dizia o que queria. Perguntou por que se dizia "obrigado", e não "obrigada", por exemplo. Depois, pediu sugestões de coloquialismos que seriam interessantes para falar durante o show. Ele gostou do "Ah, eu sou gaúcho! (cantando)". Dei para ele as dicas do "Mas bah, tchê!" e do"trilegal". Incluisve expliquei o que significava cada expressão e quando seria apropriado falar no show, em relação à plateia. No camarim, ele falava "gaúcho" e ficava imitando um caubói. Mas pronunciava "gaucho" (acentuando a letra"a"), como na Argentina. Aí chegamos na nossa pronúncia – disse Melisse. – Também expliquei que o povo era muito patriota e que uma frase ("ah, eu sou gaúcho") criaria ligação bacana. Ele adorou – completou.
Durante a aula, Paul foi um bom aluno extrovertido:
– Ele dançava, se mexia. Tirou os sapatos e ficou de meia. Ele é brincalhão, jovem, alto astral – descreveu.
No palco, Paul leu as frases que aprendeu escritas em um papel, entregue por um assistente. Pronunciou-as, e o público compreendeu perfeitamente, gritando eufórico. Poucos minutos de aula foram suficientes para o Beatle se aproximar ainda mais dos fãs.
Motorista de Paul e o "quase acidente"
Coube a Ricardo Cruz conduzir Sir McCartney durante os três dias da estada do músico na Capital. Apesar da proximidade, Cruz garantiu a Zero Hora que optou pelo profissionalismo. Não pediu autógrafos nem tirou fotos – até porque eram orientações expressas do staff de Paul, assim como não comer carne, não fumar e só falar se ele puxasse assunto.
– Mas isso foi o de menos. Ele não parava de perguntar coisas, desde expressões a nomes de árvores. Eu explicava "Não, isso não é um jatobá, é um flamboyant". Ensinei a ele também a falar umas coisinhas em português, como "olá" e "tudo bem".
No caminho, Paul não cansava de elogiar os outdoors de boas-vindas e o esquema de batedores da Brigada Militar, que fez a escolta nos trajetos entre o aeroporto, hotel e estádio - uma viatura e oito batedores motociclistas do Batalhão de Operações Especiais, a quem ele agradeceu pessoalmente. Apesar da polidez de Paul e de seu profissionalismo, Cruz conta que em um momento pensou que tudo estava perdido. Em uma das vezes em que o músico acenava para o público, Cruz, temendo que algo pudesse acontecer, subiu o vidro do carro de repente.
– Quase prendi a mão dele. Imagina, é um vidro blindado, grosso. Ele me perguntou se eu estava tentando acabar com a carreira dele, se não queria que tivesse show. Aí gelei - contou o motorista. Depois do baque, Cruz foi acalmado pelos seguranças de Paul, que explicaram que tudo não passava de uma brincadeira e que eles haviam feito o mesmo em uma apresentação no México.
Partida na madrugada
Mal terminou o show e Paul McCartney já foi em direção ao Aeroporto Salgado Filho para deixar a Capital gaúcha. O primeiro batedor da BM chegou ao terminal antigo para recebê-lo à 0h21min. Um minuto depois, chegaram outras três motos, o mesmo carro Toyota que transportou o astro à tarde e um ônibus. Paul foi deixado diretamente na pista do aeroporto, onde subiu em um jato da Swissair. À 0h53min, o beatle decolou em direção a Buenos Aires, palco de seu show seguinte.
Carinho
Segundo informações da coluna RSVIP (publicada no Segundo Caderno em 9/11/2010), nos dias em que esteve na Capital gaúcha, Paul disse não lembrar de tanto carinho e tietagem de fãs jovens desde os tempos dos Beatles.